Filho único de família pobre, nasceu em Stolberg, na montanha do Hartz,em 1498 (?). tendo estudado Teologia em Leipzig (1506) e em Francfort.
Por volta de 1513 viveu como professor em Halle, fundando nesta cidade uma liga secreta contra o Arcebispo de Magdeburg, o que o obrigou a transferir-se em 1517 para Braunschweig, retornando ao magistério, de onde acabou sendo transferido novamente.
No ano de 1519 teve contato com Lutero em Leipzig. Convidado e recomendado por Lutero, trabalhou como capelão em Zwickau, aderindo às ideias reformistas (1), que na época se expandia pela Europa.
Munzer (ou Muntzer) tornou-se pregador e como pregador evangélico, atuou entre os tecelões desta cidade.
Por essa época presenciou as manifestações dos anabatistas (2) que entraram em conflito com as autoridades políticas e religiosas da cidade.
O Conselho de Zwickau passou a reprimir os anabatistas, e embora Münzer não se identificasse com eles, defendeu o direito dos anabatistas se manifestarem, o que o obrigou a abandonar a cidade em fins de 1521 por pressão do Conselho.
A partir de seus contatos com o movimento anabatista, que na época pregava o chamado “comunismo bíblico”, Thomas Münzer se afastou de Lutero e passou a defender uma reforma profunda da sociedade sob base místico-comunista.
Estabeleceu-se em Praga, aproximou-se do movimento hussita (3) tendo sido forçado a fugir, chegando em 1522 em Altstadt. Aí, ainda como teólogo, suprimiu o uso do latim na Bíblia, antes mesmo que Lutero o fizesse.
Passou a atacar violentamente o clero, os princípios do catolicismo e do cristianismo em geral, aderindo ao panteísmo. Negava o caráter divino e místico de Cristo, pois considerava–o homem como os demais.
Para Münzer, céu e inferno não existiam e o Reino de Deus não estava estabelecido no céu, mas na terra, onde não havia diferenças de classe, nem propriedade privada, nem “poder estatal independente e alheio aos membros” da sociedade. Nesse Reino terreno, todos os bens pertenceriam a toda sociedade de forma igualitária.
Obrigado a abandonar o lugar de capelão em Zwickau, após os litígios que teve com o deão Wildenauer, percorreu algumas cidades alemães como Boêmia, Nordhausen.
Chegou a organizar e liderar sublevações de camponeses, criando uma associação secreta contra os inimigos do Evangelho.
Nas cidades de Mulhausen e Nuremberg, manteve contato com os anabatistas e camponeses, pregando a reforma agrária, a igualdade entre os homens e condenando o luxo e a riqueza.
Por onde passava, Münzer dedicava-se à agitação política, proferindo sermões em ruas e mercados desta cidade, nos quais atacava os príncipes, os senhores feudais e os ricos.
Na região da Turígia, se pôs á frente de um movimento camponês revolucionário que paralelamente com o movimento anabatista se expandiu a partir de 1524, atingindo seu auge em 1525 por grande parte da Alemanha.
Nesse mesmo ano iniciou-se uma contra-ofensiva da classe dominante contra aqueles movimentos, resultando inúmeras prisões e decapitações de milhares de camponeses e lideranças do movimento anabatista. O próprio Münzer foi preso, submetido a torturas e a seguir decapitado em maio de 1525.
Seus únicos escritos foram panfletos e sermões dirigidos à massa camponesa, sempre no sentido de alertá-la para as injustiças sociais da sociedade da época, e na defesa da instituição de uma sociedade comunista nos moldes do cristianismo primitivo.
Notas:
(1)Durante a Idade Média, a partir do século XII, ocorreram vários movimentos de contestação à hegemonia ideologica e política da Igreja Católica. Esses movimentos são considerados pelos historiadores como movimentos reformistas (Lutero, Zwinglio, Calvino) ou heréticos (anabatista, hussita, cátaros, valdense). Os primeiros se revelaram conservadores, no entanto, nem todos movimentos heréticos defendiam a volta ao “cristianismo primitivo” ou idéias “místico-comunistas”.
(2)Anabatista (re-batizadores) movimento religioso herético surgido na Suíça no século XVI, considerado o mais radical e por esse motivo, o mais perseguido movimento reformista durante a Idade Média.
(3)Movimento ocorrido na antiga Boêmia (Tchecoslovaquia), liderado por Jan Hus (João Hus), pregador religioso que se insurgira contra a Igreja Católica durante a Idade Média.
(Dados compilados por Aluizio Moreira)
Fontes:
Arquivo Marxista na Internet
BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais.São Paulo:Expressão Popular,2006.
BLOCH, Ernst. Thomas Munzer, teologo da revolução. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1973.
BRAVO, Gian Mario. Historia do socialismo. Lisboa:Europa-America, 1977, 3 vols.
COLE, G.D.H. Historia del pensamiento socialista.Mexico:Fondo de Cultura, 1957-1960, 7 vols.
DROZ, Jacques (Dir). Historia geral do socialismo. Lisboa: Horizonte, 1972-1977, 9 vols.
ENGELS, Friedrich. As guerras camponesas na Alemanha. São Paulo: Grijalbo, 1977.
HOFMANN, Werner. A historia do pensamento do movimento social dos séculos 19 e 20. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984.
PETITFILS, Jean-Christian. Os socialistas utópicos. São Paulo: Circulo do Livro, s/d.