sábado, 31 de outubro de 2015

Cronologia do Socialismo e do Comunismo (do século XVI ao século XIX)


(Compilada por Aluizio Moreira)

A historia não pode ser reduzida a um amontoado de datas, que ordenamos como se elas por si sós, substituíssem as interpretações dos fatos. Mas por outro lado, a história soe acontecer num determinado espaço e num determinado tempo. Ou seja, espaço e tempo são duas categorias sem as quais a história não existiria. Objetivando identificar alguns fatos relacionados ao socialismo e comunismo, a fim de melhor poder nos situarmos no tempo, tentamos organizar esta cronologia. É bem possível que algumas datas importantes não constem desta nossa relação, por algum motivo alheio à nossa vontade. 
leitor pode colaborar para minimizar as omissões.

SÉCULO XVI 

1516
* É publicada "Utopia" de Thomas More, um dos precursores do socialismo.

1535
* Decapitado Thomas More por não reconhecer Henrique VIII como chefe da Igreja anglicana.
* Falecimento de Thomas Munzer

SÉCULO XVII
1623
* É editada "A Cidade do Sol" de Tommasio Campanella, obra escrita na prisão em 1602.


SÉCULO XVIII

1760
* Nascimento de Gracchus Babeuf
* Nascimento de Saint-Simon, em  Paris  

1771
* Nascimento de Robert Owen 

1772
* Nascimento de Charles Fourier 

1788
* Nascimento de Etienne Cabet

1792
* Criada na Inglaterra em março desse ano a Sociedade de Correspondência de Londres, defensora do igualitarismo que tinha como principais organizadores Thomas Hardy (sapateiro escocês) e John Thelwall (jornalista e poeta).

1793
* William Godwin escreve "Inquérito à Justiça Política e à sua Influência sobre a Moral e a Felicidade", considerada base teórica do comunismo anárquico.

1796
* Aborta a Conspiração dos Iguais na França, sob a liderança de Babeuf. Os principais "conspiradores" são feitos prisioneiros , inclusive seu líder.

1797
* Guilhotinado Gracchus Babeuf em 27 de maio, juntamente com seus colaboradores.

SÉCULO XIX

1802
* Saint-Simon escreve "Lettres d'un habitant de Génève."

1805
* Nascimento de Louis-Auguste Blanqui

1808
* Nascimento de Wilhelm Weitling
* Charles Fourier escreve "Theorie des quatre mouvements et destinées génèrales" 

1809
* Nascimento de Pierre-Joseph Proudhon

1813
* Saint-Simon escreve "Memoires sur la science de l'homme
* Robert Owen publica "Nova visão da sociedade"

1814
* Nascimento de Mikhail Bakunin

1818 
* Nascimento de Karl Heinrich Marx na Prússia no dia 5 de maio

1820
* Nascimento de Friedrich Engels

1822
* Charles Fourier escreve "L'Unité Universelle"

1825
* Criada nos Estados Unidos por Robert Owen, a comunidade comunista New Harmony
* Falecimento de Saint-Simon. Ano de publicação  de sua obra "Le Nouveau Christianisme"

1826
* Nascimento de Wilhelm Liebknecht

1831
* A palavra "socialismo" surge pela primeira vez no jornal francês Le Semeur.

1832
* Segundo G.D.H. Cole em "Historia del Pensamiento Socialista", foi neste ano que a palavra socialismo foi escrita pela primeira vez no jornal "Le Globe

1834
* Fundada em Paris por refugiados alemães, a Liga dos Proscritos cujo antecedente foi a Associação Patriótica Alemã. Seu principal objetivo era o de lutar pela liberdade e pela unidade da Alemanha. A Liga dos Proscritos foi dirigida por Jacob Venedey e Theodor Schuster, este médico, aquele professor da Universidade de Heildelburg. Pouco depois dividiu-se em duas tendências político-ideológicas, uma democrata-nacionalista outra revolucionária-internacionalista. A tendência revolucionária-internacionalista, dirigida por Theodor Schuster irá se transformar, em 1836, na Liga dos Justos.

1836
* Formada a Liga dos Justos pela ala esquerda da Liga dos Proscritos. A Liga dos Justos deu origem à Liga dos Comunistas.
* Robert Owen faz publicar "Livro do Novo Mundo Moral"

1837
* Faleceu em Paris, em outubro, Charles Fourier

1840
* Nascimento de August Bebel

1847
* Fundada a Liga dos Comunistas com a participação ativa de Karl Marx e Friedrich Engels, que foram encarregados da redação do programa da organização. Este programa ficou conhecido como Manifesto do Partido Comunista.

1848
* Em fevereiro foi entregue ao Comitê Central da Liga dos Comunistas em Londres para impressão, o manuscrito "Manifesto do Partido Comunista" elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels.

1850
* Fundada em Londres a Liga Universal de Comunistas Revolucionários liderada por George Julian Harney, militante do movimento cartista inglês. Contando com a adesão de operários e intelectuais partidários de Karl Marx e Louis Blanc, a Liga proclamava-se defensora da "Ditadura do Proletariado", considerada como etapa necessária do processo revolucionário, e da "Revolução Permanente", no sentido de tornar a luta revolucionária uma ação constante até a realização completa do comunismo como forma acabada de organização da sociedade humana.

1856
* Falecimento de Etienne Cabet

1857
* Movimento de mulheres numa Fábrica Têxtil em Nova York, que terminou com o assassinato de 129 das participantes, o que deu origem ás comemorações do Dia Internacional da Mulher

1858
* Falecimento de Robert Owen

1864
* Fundada por Mikhail Bakunin a sociedade secreta Fraternidade Internacional.
* Em Londres operários e socialistas criaram a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) que se tornou conhecida como Primeira Internacional. A AIT promoveu de 1866 a 1872, os seguintes Congressos: 1866 - Congresso de Genebra, 1867 - Congresso de Lausanne, 1868 - Congresso de Bruxelas, 1869 - Congresso de Basiléia, 1871 - Congresso de Londres, 1872 - Congresso de Haia.

1865
* Falecimento de Pierre-Joseph Proudhon

1866
* Realizou-se o Congresso de Genebra da Primeira Internacional. Nesse Congresso: foi defendida a limitação de jornada de trabalho em 8 horas, aprovou-se Resolução que defendia a incorporação dos operários agrícolas na luta política das organizações sindicais, defendeu-se a supressão dos exércitos permanentes, exigiu-se do Estado que criasse medidas sócio-políticas em favor das mulheres e crianças. Desencadeou-se um conflito entre as tendências marxistas e proudhonistas.

1867
* Ocorreu o Congresso de Lausanne da Primeira Internacional. Os enfrentamentos das propostas marxistas e proudhonistas que marcaram o Congresso de Genebra, mais uma vez se repetiram. Desta vez foi acerca do papel que caberia à luta política da classe trabalhadora. Os proudhonistas negaram esse papel. Outro tema discutido em Lausanne foi sobre a socialização dos setores econômicos de cunho monopolista. Marxistas e proudhonistas defenderam aquela socialização, mas divergiram quanto à forma. Para os marxistas a referida socialização deveria ocorrer através do poder do Estado. Para os seguidores de Proudhon ela se daria através das cooperativas centralizadas. Não tendo havido acordo essa questão foi adiada para discussão no Congresso seguinte.
* Realizou-se em 9 de setembro o Congresso da Paz de Genebra convocado pela Liga Pela Paz e Liberdade. Entre os que apoiaram a realização do referido Congresso figuraram Victor Hugo, Giuseppe Garibaldi, John Stuart Mill, Louis Blanc e Alexander Herzen, entre outros. Convidado pela Liga da Paz para mandar representante, a AIT no Congresso de Lausanne que se realizava naquele ano, aprovou uma mensagem de apoio aos congressistas e enviou uma delegação formada por 3 membros da AIT (entre eles James Guillaume) para participar do referido Congresso.

1868
* Realizou-se o Congresso de Bruxelas da Primeira Internacional. Neste Congresso aprovou-se a luta pela supressão da propriedade privada das minas e das estradas de ferro, a nacionalização das terras, a necessidade das greves sob a direção das organizações sindicais. Retomou-se a questão discutida no Congresso de Lausanne quanto à socialização dos setores econômicos monopolísticos. Foi vitoriosa a posição que defendia a socialização daqueles setores através da ação do poder público.
* Aconteceu o II Congresso da Liga Pela Paz e Liberdade que se reuniu em Berna. Neste Congresso, Bakunin que liderava a ala esquerda da Liga, apresentou a proposta da adoção de um programa social mais amplo e revolucionário, que foi recusado pelos participantes do Congresso. Este fato resultou na saída de Bakunin e de seus partidários da Liga e o ingresso de todos eles na AIT.

1869
* Realizou-se o Congresso de Basiléia da Primeira Internacional. Participaram alem da Inglaterra, França, Alemanha e Suiça, representantes dos Estados Unidos, Bélgica, Áustria, Itália e Espanha. Foi aprovada Resolução que defendia a propriedade comum da terra e do solo.
* Foi fundada na Inglaterra a Liga da Terra e do Trabalho da qual fizeram parte J.G. Eccarius, Martin J. Boom e John Weston. Entre os pontos de seu Programa constavam: - nacionalização da terra; - ensino nacional, gratuito e obrigatório; - imposto direto e progressivo sobre a propriedade; - redução das horas de trabalho.

1870
* Nascimento de Vladimir Lenin

1871
* Aconteceu o Congresso de Londres da Primeira Internacional. Aprovou-se Resolução que incentivava a criação imperativa de Partidos Operários nos diversos países, inteiramente independentes de todos os partidos burgueses, como condição necessária para uma Revolução Socialista. Essa proposição, embora vitoriosa, foi rechaçada pelos adeptos de Blanqui e Bakunin.
*  Nascimento de Rosa Luxemburgo
* Ocorreu a Comuna de Paris, considerada primeira experiência de tomada do poder pela classe trabalhadora. Os operários parisienses estiveram no poder de março a maio de 1871. Com a tomada do poder foi criado o Comitê Central, que no dia 26 do mesmo mês, foi substituído por um Governo Provisório, governo de coalizão, do qual faziam parte membros da AIT, blanquistas, proudhonianos, republicanos burgueses e patriotas exaltados.
* Falecimento de Wilhelm Weitling

1872
* Realizou-se em outubro o Congresso de Haia da Primeira Internacional. Foi marcado pela luta entre marxistas e bakuninistas. A maioria dos participantes do Congresso tomou posição favorável ao Conselho Geral dirigido por Karl Marx, que se posicionara contra Bakunin. Nesse mesmo Congresso Bakunin foi expulso da AIT. Diversos autores consideram esse o último Congresso promovido pela Primeira Internacional, pois apesar da aprovação, por sugestão de Engels, de se transferir a sede do Conselho Geral da AIT para Nova York, o Congresso convocado para 1873 nesse novo local não se realizou.
* Ocorreu o Congresso de Saint-Imier um dia após a realização do Congresso de Haia. Promovido pelos anarquistas, foi aprovada a proposta de Bakunin da fundação de uma nova Internacional, que ficou conhecida como Internacional anarquista.

1873
* Ocorreu em 1o. de setembro o Congresso Anarquista de Genebra. Reuniu representantes da Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, França e Inglaterra. Considerado pelos anarquistas como Congresso da Ia. Internacional, revisaram os Estatutos da AIT, extinguiram o Conselho Geral, tornando a Internacional federação livre.

1874
* Foi fundado em Nova York um Partido Operário Social-Democrata dos Estados Unidos, de tendência marxista.

1875
* Realizou-se na cidade Gotha um Congresso do qual participaram conjuntamente as duas tendências socialistas rivais na Alemanha: os "eisenachianos" e os "lassallianos". O programa elaborado nesse Congresso ficou conhecido como "Programa de Gotha". Nesse mesmo ano ocorreu a fundação do Partido Socialista Unificado da Alemanha que congregou as duas correntes.

1876
* Foi realizado de 6 a 8 de setembro o Congresso de Saint-Imier. De caráter internacional, foi um Congresso Anarquista
* Ocorreu em Paris o I Congresso Sindical, marcando a retomada do movimento operário na França, após a derrota da Comuna de Paris em 1871.
* Falecimento de Mikhail Bakunin

1877
* Surgiu nos Estados Unidos o Socialist Labour Party considerado a principal organização socialista naquele país nas últimas décadas do século XIX.

1878
* Formada na Dinamarca a Federação Social-Democrata

1881
* Ocorreu em Londres um Congresso Anarquista Internacional do qual participaram delegados da França, Bélgica, Suiça, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria e Estados Unidos.
* Foi fundada em Londres pelo socialista inglês Henry Mayers Hyndman a Federação Democrática, que a princípio tinha por objetivo estimular um movimento de massa.
* Falecimento de Louis-August Blanqui

1882
* Foi formada na Inglaterra por Henri Myers Hyndmann a Federação Democrática, que marcou o início do movimento socialista naquele país, e cujo programa se limitava a conquista de reformas sociais. Pouco tempo depois passou a denominar-se Federação Social-Democrata que adotou uma programa socialista difundindo os pensamentos de Marx e Engels. Eleanor Marx, uma das filhas de Karl Marx, participava dessa Federação.

1883
* Fundado em Genebra o Grupo Emancipação do Trabalho, que congregou social-democratas da Rússia, contribuindo para a divulgação do marxismo naquele país. Considerado o primeiro grupo marxista russo, foi organizado por George Plekhanov.
* Falecimento de Karl Marx em Londres, em 14 de março.

1884
* A Federação Democrática de Henry Hyndman fundada em 1881 em Londres, passou a denominar-se Federação Social-Democrata, assumindo uma posição declaradamente socialista, aglutinando no seu interior tendências marxistas, sindicalistas e anarco-comunistas, além de congregar intelectuais da esquerda progressista que no mesmo ano fundarão a Sociedade Fabiana.
* Foi fundada na Inglaterra a Sociedade Fabiana de tendência social reformista. Entre seus dirigentes estavam Sydney Webb, Beatriz Webb e Bernard Shaw.
* Dissidentes da Federação Social-Democrata, sob a liderança de William Morris, fundaram em Londres a Liga Socialista na qual ingressarão anarco-comunistas que militavam naquela Federação.

1886
* Aconteceu o Massacre de Chicago, repressão violenta contra o movimento anarquista nos Estados Unidos. Foram presos os líderes operários August Spies, A. R. Parsons, Luis Lingg, Jorge Engel, Samuel Fieldman, Adolf Fischer, Oscar Nebe e Michael Schwab, que julgados criminalmente foram condenados: Spies, Parsons, Lingg, Engel e Fischer à pena de morte; Fieldman e Schwab à prisão perpétua e Nebe a quinze anos de reclusão. Esse acontecimento deu origem às celebrações do 1o. de maio em todo mundo, proposta aprovada no Segundo Congresso da Segunda Internacional realizado em setembro de 1891.

1888
* Constituído o Partido Operário Norueguês.

1889
* Fundação da Segunda Internacional em Paris, em Congresso realizado de 14 a 21 de julho.
* Fundação na França, da Federação Socialista Revolucionária.
* Fundação do Partido Socialista da Suécia.

1890
* Realizou-se o Congresso de Erfurt da Segunda Internacional.

1891
* Realizou-se o Congresso de Bruxelas da Segunda Internacional.

1892
* Surgimento do Partido Socialista Polonês, que contou com a participação de Rosa Luxemburgo como membro do referido Partido.

1893
* Realizou-se o Congresso de Zurich da Segunda Internacional.
* Sob a direção de F. Turati e H. Ferri, surgiu na Itália o Partido Socialista Italiano, a partir da fusão de várias organizações operárias.
* Fundado o Partido Social-Democrata Polonês, pelo grupo ligado a Rosa Luxemburgo

1895
* Falecimento de Friedrich Engels

1896
- Realizou-se o Congresso de Londres da Segunda Internacional. Nesse Congresso se estabeleceu que só seriam convidados para os Encontros, representantes das organizações que defendessem a propriedade social dos meios de produção e que aceitassem a atuação parlamentar em matéria de legislação social.

1898
* Formado na Rússia o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).

1900
* Realizou-se o Congresso de Paris da Segunda Internacional. Foram criados por ocasião desse Congresso um Secretariado Internacional com sede em Bruxelas, um Escritório Socialista Internacional e uma Comissão Interparlamentar. Além das discussões sobre as ameaças de guerra que pairavam sobre a humanidade e sobre a questão nacional, esteve na pauta desse Congresso a questão da participação dos socialistas nos governos burgueses.
* Foi fundado na Inglaterra o Labour Party (Partido Trabalhista) que se transformou rapidamente num partido de massa. De tendência reformista, o Labour Party congregou a maioria dos sindicatos ingleses, a Federação Social-Democrata e a Sociedade Fabiana.
* Falecimento der Wilhelm Liebknecht

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Livro dá voz a personalidades cubanas para defenderem modelo político e social adotado pela ilha


Por Roger Grévoul


O acadêmico Salim Lamrani, estudioso de Cuba, publica um novo livro intitulado "Cuba, parole a la defense!”, com um prólogo de André Chassaigne, presidente do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional e membro de honra da associação Cuba Coopération.

Salim Lamrani, você acaba de publicar um livro com o título "Cuba, parole a la defense!” O que pode nos dizer a respeito?

Salim Lamrani: Tudo começou a partir da seguinte constatação: Cuba é um tema midiático que suscita debates e controvérsias. Isto é particularmente certo, sobretudo, agora, com o processo de normalização entre Washington e Havana desde dezembro de 2014, e a visita histórica do presidente francés, François Hollande, à ilha, em maio de 2015. Não obstante, convém apontar que só o pensamento único sobre Cuba é aceitável. A ilha se encontra regularmente no banco dos acusados e regularmente surge a tradicional retórica sobre a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão. Todo o mundo tem direito à palavra, pode expressar sua opinião e compartilhar seu ponto de vista, desde logo, sempre que aponte com o dedo Cuba e seu sistema, e emita críticas negativas. Os cubanos da ilha, particularmente seus dirigentes, nunca têm direito à palavra e, por conseguinte, não pode ser partícipe de sua verdade e responder aos ataques, quando são os principais atores do destino de Cuba. Por isso decidi dar a palavra à defesa composta por 10 personalidades cubanas e internacionais, que puderam expressar seu ponto de vista nestas conversações francas.

Salim Lamrani, estudioso da conjuntura cubana

Quem são essas personalidades?

SL: Conversei com sete figuras cubanas e três personalidades internacionais para que compartilhassem sua visão sobre Cuba, sua história e seu futuro. Trata-se de Mariela Castro Espín, diretora do Centro de Educação Sexual e filha do presidente Raúl Castro; Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento cubano de 1993 a 2013; Max Lesnik Menéndez, diretor da Rádio Miami e fundador da revista La Nueva Réplica [A Nova Réplica]; Miguel Barnet Lanza, presidente da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba; Eusebio Leal Spengler, historiador de Havana; Abel Prieto Jiménez, ministro da Cultura por cerca de 15 años e, atualmente assessor do presidente da República; Alfredo Guevara Valdés, pai do cinema cubano e do Novo Cinema Latino-Americano; Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba; Jean-Pierre Bel, presidente do Senado francês de 2011 a 2014 e atualmente assessor especial do Eliseo para a América Latina; e Álvaro Colom, presidente da Guatemala de 2008 a 2012.

Quais são os temas abordados?

SL: A ideia do livro era dar a palavra aos cubanos e aos partidários da soberania das nações e da autodeterminação dos povos. Não obstante, o principio fundamental era realizar conversações não complacentes. Por isso são abordados os temas mais polémicos em todas as entrevistas, seja a democracia, os direitos humanos, a liberdade de expressão, as figuras de Fidel Castro e Raúl Castro e sua presença no poder, os episódios obscuros da Revolução Cubana, as discriminações, o espaço reservado ao debate plural ou à dissidência.

São abordados também outros temas, como as relações com os Estados Unidos, as sanções econômicas, a atualização do modelo econômico, a diversidade sexual, o papel da comunidade cubana dos Estados Unidos, a importância da cultura, a preservação do patrimônio arquitetônico de Havana, o auge do turismo, a solidariedade de Cuba com os deserdados do planeta, o cinema em Cuba, a renovação geracional no comando do país, o futuro de Cuba e a integração latino-americana.

Salienta em seu livro o paradoxo de ver Cuba vítima das pretensões hegemônicas estadunidenses e assediada há mais de meio século situar-se no banco dos acusados.

SL: Efetivamente, Cuba vive sob estado de sítio há mais de meio século. Não se livrou de nada: algumas sanções econômicas anacrônicas, cruéis e injustas, que afetam todos os setores da sociedade e as categorias mais vulneráveis da população desde 1960; uma sangrenta invasão militar, que orquestrou a CIA em 17 de abril de 1961 e que causou centenas de vítimas civis; uma ameaça de desintegração nuclear durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962; a campanha terrorista mais longa da história, com mais de 10.000 atentados planejados a partir dos Estados Unidos, que custaram a vida a 3.478 pessoas e infligiram sequelas permanentes a outras 2.099, bem como danos materiais em torno de várias centenas de milhões de dólares; sem esquecer uma implacável guerra política, diplomática e, sobretudo, midiática contra seu povo, seus dirigentes e, sobretudo, contra seu sistema político e social.

Contudo, a vindita midiática assinala Cuba como culpada. Que constatação mais estranha!

Como explica estas reações contra Cuba?

SL: O crime imperdoável de Cuba é ter escolhido o campo dos deserdados e ter colocado o ser humano no centro do seu projeto nacional, procedendo a uma repartição equitativa das riquezas. O povo cubano propõe à humanidade uma alternativa de sociedade eficiente, apesar dos limites inerentes a todo projeto edificado por mulheres e homens, que mostra que os mais humildes não estão condenados à indiferença e à humilhação.

André Chassaigne, presidente do grupo parlamentar Esquerda Republicana e Democrata e do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional, é também membro de honra da Cuba Cooperación. Redigiu um bonito prólogo para sua obra.

SL: André, um grande amigo da Revolução Cubana, me deu a imensa honra de associar sua escrita fina e incisiva ao meu livro. É um homem que tem a causa dos humildes e dos humilhados no coração. É sensível à necessidade imperiosa de uma melhor repartição das riquezas e de oferecer aos mais vulneráveis uma vida digna. Como muitos de nós, vê em Cuba um símbolo de resistência e de generosidade.


Cuba, parole à la défense!
Paris, Editions Estrella, 2015
20 euros
ISBN: 9782953128444

Disponível na Amazon:


Para cópias dedicadas contatar Salim Lamrani: lamranisalim@yahoo.fr


Salim Lamrani, Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-Americanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, é professor da Universidade de la Réunion e jornalista especializado em Cuba.


FONTE: Adital