sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Hegemonia política do capital

Por Aluizio Moreira


No inicio de dezembro postei um comentário sobre a questão do partido revolucionário versus prática revolucionária. Naquela oportunidade, afirmei que não há como um partido comunista, ou se preferirem, um partido operário,submetendo-se às regras do jogo parlamentar burguês pela imposição do capital, promover uma transformação da sociedade no sentido do socialismo.

A chamada “governabilidade” não é simples retórica. Ela faz parte de um sistema de acordos, de alianças, mesmo conjunturais, sem os quais os parlamentares boicotam quaisquer pretensões emanadas do governo,  que se contraponham, de alguma forma, aos interesses da classe dominante, incrustada ou não no poder.

Por mais comprometido que seja determinado partido com as causas populares, que tenha como objetivo programático a instituição de uma sociedade para além do capital, as conquistas que ocasionalmente ocorram, não passarão de reformas nos limites aceitáveis pelo sistema.

Assim, abandona-se a defesa de uma reforma agrária (se faz assentamentos), não se investe no ensino público (colabora-se para  sua comercialização), não se melhora o sistema público de saúde (incentiva-se os planos privados de assistência médica), não se assume uma política de defesa do meio ambiente (entrega-se a particulares a “tarefa” de destruir rios e florestas). E quando, por exemplo, o governo reduz os preços dos produtos industrializados, não o motiva beneficiar a população com o preço baixo,  procura-se prioritariamente  evitar um colapso nas empresas. Passada a ameaça de crise, tudo volta ao que era antes.

Mas , sob quais condições a classe trabalhadora logrou participar do parlamento burguês?

É o que nos esclarece  István Mészáros (Atualidade histórica da ofensiva socialista, p.34-35): 
         O surgimento da classe operária na cena histórica foi apenas um acréscimo inconveniente ao sistema parlamentar, constituído bem antes de as primeiras forças organizadas do movimento operário tentarem manifestar em público os interesses vitais de sua classe. Do ponto de vista do capital, a resposta imediata a esse inconveniente mas  crescente “incômodo”, foi a rejeição e a exclusão dos grupos políticos operários. Mais tarde, entretanto, uma ideia muito mais adaptável foi instituída pelas personificações políticas mais ágeis do capital: domesticar de algum modo as forças do trabalho. Ela assumiu de início a forma do patrocínio parlamentar paternalista de algumas demandas da classe trabalhadora por partidos políticos burgueses relativamente progressistas e, mais tarde, a da aceitação da legitimidade dos partidos da classe trabalhadora no próprio Parlamento, embora, é claro de uma maneira estritamente circunscrita, obrigando-os a se conformar às regras democráticas do jogo parlamentar.   
Poderia ser de outra forma? Evidente que não. É a lógica do capital. Capital que “direta ou indiretamente" [. . .] "controla tudo inclusive o processo legislativo parlamentar, ainda que se suponha que este seja considerado totalmente independente do capital em muitas teorias que hipostasiam a “igualdade democrática” de todas as forças políticas que participam do processo legislativo". (Id. Ib. p. 36)

Compreender isso é de uma importância fundamental para quem quer mudar o mundo.

Sem comentários:

Enviar um comentário