Por Aluizio Moreira
A Liga dos Proscritos
As quatro primeiras décadas do século XIX, foram marcadas por um intenso movimento político em toda a Europa. São os chamados Movimentos Liberais e Nacionais, que atingiram vários países. Essas chamadas “ondas revolucionárias” de caráter liberal, democrático e nacional, mobilizaram setores progressistas da burguesia, liberais da classe média, democráticos e socialistas da intelectualidade e do operariado. A Alemanha vivenciou também essas “ondas revolucionárias”, quase sempre esmagadas pelos governos absolutistas e autoritários.
Em 1815 instituiu-se o Congresso de Viena (1) que além de perseguir os adeptos de Revolução Francesa, procurou reerguer o Antigo Regime, reconduzindo aos tronos os governos derrotados por Napoleão Bonaparte.
Nesse novo contexto político, um grande número de alemães que lutaram pela liberdade e pela unidade do seu país durante a expansão do Império Napoleônico, foram obrigados a se refugiarem no estrangeiro. Mas o movimento de alemães que buscavam exílio no exterior, não cessou em 1815. Após a Revolução de 1830, das manifestações de Hambach em 1832, dos acontecimentos de Frankfurt em 1833, das mobilizações populares de 1848, democratas, liberais e revolucionários alemães perseguidos pelo governo se fixam em Paris, Londres e Bruxelas.
Jacob Venedey |
Em Paris, o primeiro passo dos exilados alemães que se estabeleceram naquela cidade, foi a organização de associações que dessem prosseguimento à luta pela liberdade e pela unidade alemã. Surgiu assim a Associação Patriótica Alemã, que em 1834 se transformará na Liga dos Proscritos.
Dirigida por Jacob Venedey, professor da Universidade de Heidelberg, e pelo Dr. Theodor Schuster, ex-catedrático da Universidade de Göttingen, manteve-se como órgão de divulgação dos conceitos de Sismondi e dos utopistas franceses, a revista Der Geächtete sob a responsabilidade de Venedey, que tinha como princípio "a igualdade e solidariedade entre os homens".
No interior da Liga, sobretudo através das páginas de Der Geächtete, as idéias democráticas e nacionalistas de Venedey, se chocaram com as idéias revolucionárias e internacionalista de Schuster, o que terminou por provocar cisão no grupo de emigrados alemães. Sua conseqüência, foi a formação, em 1836, de uma nova liga, a Liga dos Justos, liderada por Theodor Schuster.
A Liga dos Justos
No ano seguinte à sua criação, Theodor Schuster foi substituído por Wilhelm Weitling que a dirigiu de 1837 a 1844, tendo como colaboradores na direção da Liga: Karl Schapper, George Weissenbach, Karl Hoffmann, Henri Bauer (sapateiro), Joseph Moll (relojoeiro), Hermann Everberck (escritor) e Germann Maurer (professor).
A Liga dos Justos não ficou porém restrita à capital francesa; expandiu-se na Suíça e na Inglaterra, recebendo em cada um desses países, influências diferentes.
Wilhelm Weitling |
Na França a Liga adotou as idéias utópicas, conspirativas e igualitaristas de Saint-Simon, Fourier, Babeuf, Blanqui, Cabet e Proudhon. Na Suíça predominou as idéias de Weitling. Já em Londres, apesar da influência de Owen, a Liga terá contato com uma heterogeneidade de idéias, expressas nas trade-unions, no movimento cartista e nas concepções de vários operários fabris e exilados políticos de diversos países europeus.
Por isso mesmo, entre 1843 e 1846, Londres mais do que em qualquer outro lugar, vivenciou uma efervescência de idéias, provocando a rejeição dos pensamentos igualitário, utópico e conspirativo, difundidos naquela época, o que determinou a afirmação de novos princípios no interior da Liga, dando lugar a uma concepção de revolução como resultado “de um longo processo que combinava propaganda, ação permanente e organização”(2), além de se passar a admitir a necessidade de uma fundamentação científica em torno de uma revolução social, preparando-se “o terreno para uma aproximação com os intelectuais que, por caminhos diversos, buscavam elaborar uma teoria crítica do socialismo” (3).
No seio da Liga do Justos em Londres, começou a amadurecer a idéia da sua reorganização, produto de uma rediscussão do comunismo em novas bases.
Finalmente em 1847 foi convocado um Congresso para os meses de maio e junho que deveria contar com a participação de seguidores daquelas idéias em diversos países.
Em janeiro do mesmo ano, antes portanto da realização do referido Congresso, Joseph Moll, em nome da “Autoridade Central da Liga dos Justos”, inicia seus contatos com a intelectualidade revolucionária espalhada em diversos países, ocasião em que encontra-se com Marx em Bruxelas e Engels em Paris, do que resultará o ingresso de ambos na Liga dos Justos.
É nesse congresso realizado em maio-junho de 1847 em Londres, que é aprovada a conversão da Liga dos Justos em Liga dos Comunistas, na qual Marx e Engels terão papel fundamental.
Notas
(1) O Congresso de Viena realizou-se na Áustria entre 2 de maio de 1814 e 9 de junho de 1815, e congregou a Áustria, Rússia, Prússia e Reino Unido.
(2) Nogueira, Marco Aurélio. Introdução. In; MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. “Manifesto do Partido Comunista”. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 11.
(3) Ibidem, idem, p. 12.
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