Por Aluizio Moreira
A partir do surgimento da propriedade privada dos meios de produção, é inquestionável o conflito entre o meu e o nosso, entre o individuo e a comunidade, entre o público e o privado.
Assim, a primeira lembrança que me vem à mente, unindo o passado ao presente, relaciona-se a alguns acontecimentos ocorridos ano passado. Refiro-me ao movimento dos indignados que eclodiu na Europa, iniciado mais exatamente na Espanha nos fins de 2011, e que ganhou dimensão mundial. E continua acontecendo mais recentemente, num movimento sincrônico de protestos populares contra a crise econômica que marca o cenário dos principais países da Europa.
Como a História, guardadas as devidas proporções, é pontilhada de momentos de ações para além do individualismo, indicando que não há soluções para os problemas da humanidade senão na ação coletiva, décadas atrás, o sentido e o significado da ação política vinculava-se às questões da coletividade humana, muito presentes entre a juventude secundarista e universitária.
Pensávamos nós, nos anos 60 que, como parte de uma juventude compromissada com o futuro (tinha meus vinte anos), deveríamos deixar de lado as preocupações e os planos de realizações pessoais de lado, envolvendo-nos numa luta na qual o coletivo falava mais alto.
Ainda ressoa em meus ouvidos, palavras de ordem presentes nas passeatas estudantis:
“Liberdade para todos os povos!”
”Pelo fim da exploração do homem pelo homem!”
“Pela autodeterminação dos povos!”
Há inclusive uma frase na voz de Paulo Autran na peça “Liberdade, Liberdade” de Flávio Rangel e Millor Fernandes (encenada nos idos de 1965), que nunca mais esqueci e sempre me acompanha:
“Sempre que mais de meia dúzia de pessoas se reúnem, a liberdade individual cede aos interesses coletivos!”.
Foi no clima dos anos 60, naquele contexto histórico que escrevi em 1962 no mural do colégio onde cursava o antigo Colegial o seguinte poema:
"CANTO COLETIVO
Aluizio Moreira
Não canto um poema só.
Essas mensagens que trago,
Tantos trazem como cantam,
Porque o canto não é só meu.
As palavras que emprego
Que escrevo como latino
São vozes plantadas na terra
Por homem branco europeu.
São falas de africano
São gritos de asiático
São hinos de toda gente
Que não se curvam nem morrem.
São penas
São mãos,
São armas
Que se levantam de vez
São cantos do homem livre
Que todo mundo entende.
Se calam Granada
Indonésia
Porto, Tóquio
Santiago
Não calarão os milhões
De seres humanos que nascem
Que trazem palavras novas
Amores-rosas-palavras
Pra alimentar o poema
E o retempero da lâmina.
Não canto o poema só.
Essas mensagens que trago
Tantos trazem como cantam
Porque o canto não é só meu
Pois quantos cantam a mesma rima
Tecendo o mesmo tecido
De fibras tão diferentes
E por mais diferentes que sejam
A língua, a forma e o verso!"
Não são simples arroubos juvenis de uma geração, hoje de idosos. É o que há de permanente na História da humanidade.
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