quarta-feira, 28 de maio de 2014

Das democracias totalitárias ao Pós-Capitalismo


David Harvey afirma: nova oligarquia controla riquezas globais. Para superá-la, é preciso compreender que Revolução é processo, não evento


Entrevista a André Antunes, no Blog da Boitempo

Um dos mais influentes pensadores marxistas da atualidade, o geógrafo britânico David Harvey esteve no Brasil em novembro para divulgar o lançamento de seu livro Os limites do capital. Escrita há mais de trinta anos, a obra ganhou sua primeira versão em português, mas, segundo Harvey, isso não significa que tenha ficado ultrapassada – pelo contrário. Pioneiro em sua análise geográfica da dinâmica de acumulação capitalista descrita por Marx, o livro, assim como grande parte da obra de Harvey, tornou-se mais relevante para entender os efeitos da exploração econômica dos espaços urbanos e suas consequências para os trabalhadores, ainda mais numa conjuntura marcada pela eclosão de protestos contra as condições de vida nas cidades, não só no Brasil, mas também na Europa, América do Norte e África. Nesta entrevista, Harvey faz uma análise dos levantes urbanos que ocorrem em todo mundo, aponta que não será possível atender às reivindicações por meio de uma reforma do capitalismo, e defende: é preciso começar a pensar em uma sociedade pós-capitalista.


Os limites do capital foi escrito há mais de 30 anos. Desde então o capitalismo sofreu mudanças profundas. Qual é a atualidade dessa obra para entender o modelo de acumulação capitalista hoje?

O livro explora a teoria de Marx sobre acumulação de capital para entender as práticas de urbanização ao redor do mundo em vários lugares e momentos históricos diferentes. Minha investigação sobre as ideias de Marx se estenderam para uma análise de coisas como a renda fundiária, preços de propriedades, sistemas de crédito.

Uma coisa curiosa aconteceu: a análise de Marx era sobre o capitalismo praticado no século 19. Na época em que comecei a escrever Os limites do capital, havia muitos aspectos do mundo ao meu redor que não se encaixavam com a descrição de Marx: tínhamos um Estado de Bem-estar Social, os Estados estavam envolvidos na economia de diferentes formas, havia arranjos de seguridade social e movimentos sindicais fortes em muitos países. Mas aí veio a chamada contrarrevolução neoliberal depois dos anos 1970, com Margareth Thatcher, Ronald Reagan, as ditaduras na América Latina, e o capitalismo regrediu para sua forma do século 19. Por exemplo, houve o desmantelamento de muito da rede de seguridade social em boa parte da Europa e América do Norte; o capital se tornou muito mais feroz em sua relação com movimentos trabalhistas; as proteções que vinham de Estados que eram em algum grau influenciados por movimentos políticos de esquerda foram desmanteladas em boa parte do mundo. O que vimos desde os anos 1970 é um aumento da desigualdade social, que é precisamente o que Marx disse que aconteceria caso adotássemos um sistema de livre mercado. Adam Smith postulava que se tivéssemos um livre mercado seria melhor para todos. O que Marx mostra no O Capital é que quanto mais perto de um livre mercado mais provável é que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. E essa tem sido a tendência por grande parte do mundo desde os anos 1970 por conta do neoliberalismo.

De uma maneira curiosa, por essa razão, Marx se tornou mais relevante para entender o mundo hoje do que era na época em que escrevi o livro. Ao mesmo tempo, muitas das lutas que vemos ao nosso redor agora são lutas urbanas em vez de lutas baseadas em unidades fabris, de modo que ligar a dinâmica do que Marx descrevia com a dinâmica da urbanização se tornou mais relevante.

E o papel dos centros urbanos na dinâmica de acumulação capitalista, como mudou ao longo desse período?

O capital produz constantemente excedentes, e uma das coisas que aconteceu é que a cidade se tornou um local para a absorção de capital excedente. Muito desse dinheiro foi para construção de estruturas, em alguns casos para a construção de megaprojetos. O capital adora esses megaprojetos, como os envolvidos em Copas do Mundo e Olimpíadas, porque são uma ótima oportunidade para gastar muito dinheiro na construção de novas infraestruturas, o que levanta uma questão interessante: essas novas infraestruturas acrescentam algo à produtividade do país? Se você for para a Grécia, vai ver um país essencialmente falido, com esses estádios vazios ao redor, que foram construídos para um evento que durou algumas semanas. A maioria dos lugares que sediam esses eventos tem problemas financeiros sérios depois mas, no processo, as empreiteiras, construtoras e financiadoras ganham muito dinheiro. Ao longo dos últimos 40 anos, o capital excedente foi cada vez mais canalizado para mercados de ativos, como os direitos de propriedade intelectual, em que você investe no controle de patentes e vive da renda, sem fazer nada. E, da mesma forma, as cidades, as propriedades urbanas, se tornaram ativos muito lucrativos. O que vemos hoje nos mercados imobiliários é que é quase impossível para a maioria da população encontrar um lugar para viver que não absorva mais da metade de sua renda. Esse é um processo mundial: tivemos uma crise na habitação nos Estados Unidos, na qual o mercado de propriedade entrou em colapso. Em Nova York, Los Angeles e São Francisco os preços estão subindo, e vemos o mesmo fenômeno na Europa: tente achar um lugar para morar em Londres, em Paris. Mais e mais dinheiro está sendo extraído das pessoas na forma de aluguel. Isso é interessante, porque há um deslocamento da exploração do trabalho e da produção para explorar as pessoas em termos de extração de aluguel de seu local de moradia. O capital consegue inclusive fazer concessões aos trabalhadores e recapturar esse dinheiro que o trabalhador ganha aumentando o valor do aluguel.

Você trabalha atualmente em um livro que lista 17 contradições do capital: pode falar um pouco sobre elas a partir da crise de 2008?

A forma como as contradições funcionam é que elas estão interconectadas. O que houve em 2008 foi uma serie de contradições: entre valor de uso e de troca, entre a forma do dinheiro e o valor que ele deveria representar e entre aspectos da propriedade privada e o poder do Estado. Todas essas contradições se juntaram para criar um ambiente propício ao acontecimento da crise na habitação. Por exemplo: você olha uma casa, e há uma contradição entre encará-la em termos de valor de uso e valor de troca. Em algum ponto a casa se torna uma forma dupla de valor de troca, porque as pessoas que compram a casa a veem como uma forma de poupança. E mais tarde eles compram uma casa como uma forma de investimento, uma forma de ganhar dinheiro. Em vez de comprar uma casa para morar, as pessoas compram casas para reformá-las e vendê-las, para ganhar dinheiro em cima disso. Então se o mercado imobiliário está em alta, é possível ganhar muito dinheiro muito rápido com esse processo, e o resultado disso é que as vizinhanças se tornaram instáveis, porque ninguém mora e cuida do local, só usam a casa para ganhar dinheiro. E ao mesmo tempo, há muita especulação para tentar elevar o valor da casa por meio de ajustes superficiais, o que não é um problema em si, até que o mercado imobiliário despenque, porque as coisas não podem subir para sempre. Se começa a cair, todo mundo vende rapidamente e você tem o crash que vimos nos Estados Unidos em 2007-2008, e também na Espanha, Irlanda e em muitas partes do mundo. Essa tensão entre valor de troca e de uso é importante, mas é importante olharmos também para a forma como tudo é monetarizado. Há uma forma interessante com que o dinheiro começa a gerar mais dinheiro, esse aspecto especulativo do dinheiro. Eu poderia ter uma casa em Nova York sem a menor ideia de quem é o proprietário porque as hipotecas são divididas em pedacinhos e uma parte dela está na Alemanha, outra em Hong Kong e ninguém consegue descobrir de quem é a dívida. Isso é uma ficção que aconteceu por causa da maneira como o sistema monetário evoluiu.

A outra contradição é entre o Estado e a propriedade privada. O que vemos é que, em países como os Estados Unidos, o Estado vem incentivando a compra de casa própria nos últimos 40 anos, criando novas instituições financeiras para apoiar a aquisição da casa própria, dando isenções de impostos se você é proprietário, a um ponto que todo mundo tem que se tornar um proprietário, quando isso não é economicamente racional em mercados especulativos desse tipo. Entre quatro e seis milhões de pessoas foram despossuídas de suas casas nos Estados Unidos através dessa crise de execução de hipotecas. Quando perguntaram para as pessoas por que elas achavam que isso tinha acontecido, quem elas culparam? Elas mesmas. É exatamente o que os neoliberais dizem que você deve fazer. Vivemos num mundo em que o modo de pensar neoliberal se tornou profundamente arraigado: essa ideia de que nós como indivíduos somos responsáveis por sermos pobres. Como dizer para as pessoas que não é culpa delas, que é um problema sistêmico? É como o capital funciona, especialmente na sua forma de livre mercado, e se você é pobre você é um produto deste sistema. A única maneira de solucionar isso é mudando o sistema, o que quer dizer que é preciso tornar-se anticapitalista.

Na sua avaliação, as manifestações que acontecem no Brasil apontam uma insatisfação da população brasileira aos efeitos concretos dessas contradições?

Eu acho que em vários lugares do mundo atualmente você vai encontrar um sentimento de profunda insatisfação. Há um grande descontentamento, mas acho que em nenhum desses lugares emergiu um movimento consolidado em termos de um entendimento de para onde esse descontentamento deve ser canalizado e o que deve ser feito para mudar esse quadro. Como resultado, o que você vê são essas erupções contínuas ao redor do mundo. Eu vejo que há um sentimento de descontentamento mundial que não está sintetizado, mas é interessante notar como ele entra em erupção e ninguém espera.

Ninguém esperava o que aconteceu no Brasil, foi uma surpresa. Ninguém esperava o que aconteceu na Praça Taksim, em Istambul, em Estocolmo, em Londres. O que se vê é um padrão global de expressões de descontentamento, que não localizaram o problema central, mas que são indicações de um descontentamento profundo com a maneira como o mundo caminha. Para mim, a melhor forma de se analisar isso é olhar quão bem o capital está indo. A maneira mais simples de ilustrar isso é olhando para a desigualdade de renda. Dados de vários países ao redor do mundo mostram que os 2% de maior renda entre a população saíram da crise muito bem e na verdade ganharam muito dinheiro com ela, enquanto o padrão de vida do resto encolheu.

Isso varia de um país para outro, mas dados da Oxfam apontam que os 100 maiores bilionários do mundo aumentaram sua riqueza em US$ 240 bilhões só em 2012. O número de bilionários aumentou dramaticamente nos últimos cinco anos, não só nos Estados Unidos: esse número dobrou na Índia nos últimos três anos, há muitos bilionários no Brasil, o mais rico do mundo é Carlos Slim, do México, há bilionários surgindo na Rússia, na China. Os dados mostram que o capital está indo extremamente bem.

É possível atender às reivindicações das ruas com uma reforma no capitalismo?

As opiniões variam na questão de o quanto podemos extrair das dificuldades atuais e ainda termos um capitalismo dinâmico. Minha análise é que será muito difícil desta vez. Certamente é possível acabar com alguns dos excessos do capitalismo neoliberal e certamente podemos ter um tipo de capitalismo mais socialmente justo, com redistribuição modesta de riqueza das classes abastadas para as classes médias e baixas. Há possibilidades de reforma do sistema e eu obviamente as apoiaria. Mas não acho que elas vão resolver o problema. Acho que a quantidade de riqueza que pode ser redistribuída é relativamente limitada. Em segundo lugar, falta poder político para fazê-lo. Temos uma situação agora em que essencialmente o poder político, a mídia, estão completamente capturados pelo grande capital, e a barreira política para fazer algo além de medidas pontuais é imensa. Temos uma oligarquia global que controla essencialmente toda a riqueza mundial, a mídia, os partidos políticos, o processo político. 

Vivemos hoje no que eu chamaria de democracias totalitárias, e acho que é muito difícil quebrar isso porque a oligarquia não está interessada em abrir mão desse poder. Então há uma barreira política e há também uma barreira econômica, porque se você realmente começa a redistribuir riqueza no modo que precisaríamos para resolver esses problemas e ter educação, saúde e transporte público decente para todos, se realmente fôssemos fazer isso, teríamos que tirar muito do dinheiro que hoje vai para os projetos que interessam ao grande capital.

Por que você acha que vai ser difícil sair da crise atual?

O capital tem que crescer, e crescer a uma taxa composta, que tem uma curva de crescimento exponencial. Isso significa que cada vez mais somos empurrados a encontrar oportunidades de investimento lucrativas, mais e mais. Meu cálculo, de maneira grosseira, é que nos anos 1970, globalmente, era preciso achar oportunidades de investimento lucrativas para algo em torno de US$ 600 bilhões. Hoje é preciso encontrar canais lucrativos para investimentos na ordem de US$ 3 trilhões. Em 20 anos, falaremos em canais lucrativos de investimento para US$ 6 trilhões e assim por diante. Acho que manter o capital ativo tornou-se um sério problema, e se houver um crescimento zero, há uma crise. O crescimento composto se torna cada vez mais problemático. Temos tido esse problema desde os anos 1970 e é por isso que mais e mais capitalistas estão vivendo de renda ao invés de procurar oportunidades de investimento lucrativas produzindo coisas materiais, que já não é tão lucrativo. E se todo mundo investe no rentismo, ninguém produz nada, o que também é um problema.

Você fala da importância de uma imaginação pós-capitalista. Fale sobre a sua visão do que seria uma sociedade pós-capitalista. 

É preciso haver uma revolução nas percepções, nas práticas, nas instituições. E essas revoluções levam muito tempo para se concretizarem. Quando você pensa na história do neoliberalismo, vê que foi uma transformação revolucionária que aconteceu num período de 30, 40 anos. Se foi possível mudar daquilo para isso, por que não podemos mudar do que vemos hoje para outra coisa? Mas temos que pensar não simplesmente em termos de fazermos barricadas, mudarmos governos. Temos que pensar nisso como um processo de 40 anos de mudança de mentalidades, concepções. Por exemplo, como as pessoas pensam a solidariedade social com seus vizinhos. Nos anos 1970 havia muito mais solidariedade social, e hoje o mundo se tornou muito mais individualista. Uma revolução é um processo, não um evento, estamos falando de transformações de longo prazo, e isso requer que as pessoas comecem a formular ideias sobre como mudar o mundo. Há muitos elementos que estão sendo praticados atualmente, o problema é que a maioria em pequena escala. Por exemplo, economias solidárias sendo praticadas ao redor do mundo, no Brasil, nos Estados Unidos. Há grupos tentando desenvolver modos de vida alternativos, ambientalistas, por exemplo, o movimento de recuperação de fábricas por trabalhadores na Argentina, há muitos movimentos desse tipo acontecendo, alguns em meio à crise. Na Grécia vemos o desenvolvimento de sistemas monetários alternativos e por aí vai. Há muitas coisas acontecendo atualmente que podem ser consideradas experimentos-piloto. Acho importante olhá-las e analisar quais são os elementos para se pensar um tipo diferente de sociedade no futuro.


FONTE: Outras Palavras

segunda-feira, 19 de maio de 2014

LUXEMBURGO, Rosa



Polonesa, nascida no pequeno vilarejo de Zamosc (na época integrante da Rússia czarista), em 5 de março de 1871, envolveu-se desde muito jovem em atividades estudantis, militando no partido revolucionário  “Proletariat"  na sua cidade natal e  lutando contra o sistema repressivo então vigente nos colégios da Polônia.

Em 1889 deixou a Polônia para evitar ser presa por suas atividades politicas, mudou-se para a Suíça. Estudou Ciências naturais e Economia Política na Universidade de Zurich, escrevendo sua tese de doutorado "O Desenvolvimento Industrial da Polônia" (1898).

Em 1898 emigrou para a Alemanha, se naturalizando alemã ao se casar com um trabalhador alemão, e se filiou ao Partido Social Democrata Alemão, a principal organização socialista internacional até então.

Nesse ano participa de uma das principais polêmicas do movimento operário internacional, na medida que se contrapõe aos artigos de Eduard Bernstein, produzindo um competente e atual material contra o revisionismo e o reformismo, transcrito na obra "Reforma ou Revolução". Durante o período da polêmica, Rosa afirma que de fato o movimento dos trabalhadores deveria lutar por reformas, mas que isso não bastaria para abolir as relações capitalistas de produção, pois o movimento operário jamais poderia perder de vista a conquista do poder pela revolução.

Durante os primeiros anos no início do século, quando da discussão sobre a organização dos socialistas, polemiza com Lênin sobre a organização do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, fazendo uma contundente crítica à sua proposta, expressa no conhecido texto "Um passo adiante, dois passos atrás".

Da Revolução Russa de 1905, extrai grandes ensinamentos expostos em “Greve de Massas, Partido e Sindicato”, publicado em 1906, que se constitui até hoje numa das principais peças teóricas sobre partido e movimento de massas. Para Rosa Luxemburgo,

"A revolução russa ensina-nos assim uma coisa: é que a greve de massas nem é 'fabricada' artificialmente nem 'decidida' ou 'difundida' no éter imaterial e abstrato, é tão-somente um fenômeno histórico, resultante, em certo momento, de uma situação social a partir de uma necessidade histórica".

Durante a primeira guerra mundial, Rosa Luxemburgo liderou as posições contrárias ao envolvimento da classe trabalhadora nesse conflito, esclarecendo seu caráter imperialista e portanto, se opondo a qualquer participação operária nessa guerra do capital. Quando em 4 de agosto de 1914 a bancada do  Partido Social-Democrata (seu partido) votou a favor dos créditos de guerra, Rosa Luxemburgo disparou uma bateria de ataques à direção do partido que resultou  na publicação do texto "A Crise da Social-Democracia", também conhecido como "O Folheto Junius", publicado em 1915.

Em 1916, forma juntamente com Karl Liebknecht, dentro do Partido Social Democrata no qual militava, o núcleo de esquerda – a “Liga Spartacus” -  que se orientará por um programa elaborado por ela, conhecido como “ Princípios Diretores”.
  
Seu posicionamento contra a guerra, culminou com sua prisão da qual só será libertada em 1918.

No período em que esteve presa, Rosa Luxemburgo, continuou com suas atividades intelectuais e políticas:  escreveu as obras, "A Revolução Russa" (publicada postumamente) e “Introdução à Economia Política” (que deixou inacabada), e manteve sua articulação com o núcleo de esquerda (a “Liga Spartacus”), o que trouxe como conseqüência, não só sua expulsão como a expulsão  de todo o grupo “espartaquista” do Partido, além de outros grupos de oposição. São esses grupos, com a participação da “Liga Spartakus”, que fundarão o Partido Social Democrata Independente” (PSDI).

Em novembro de 1918, Rosa Luxemburgo é posta em liberdade. Com a decisão do PSDI de participar do governo, a Liga decide-se pela fundação, em dezembro desse mesmo ano,  do Partido Comunista da Alemanha, que diante da situação de grande mobilização popular que ocorre no país (amplas greves, levantes na Marinha de Guerra, insurreições operárias, confraternização dos soldados alemães com o Exército Russo, crescimento e fortalecimento dos conselhos de operários e soldados), se posiciona em favor da luta pela revolução socialista.

Em 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo foi brutalmente retirada, juntamente com o companheiro Karl Liebknecht, do "aparelho" em que se mantinha clandestina e assassinada por paramilitares a serviço do governo social-democrata alemão.

Rosa Luxemburgo nos deixou as seguintes obras: “Reforma ou Revolução?” - 1899; "A Questão da Organização da Social-Democracia Russa" – 1904; “O Socialismo e as Igrejas” - 1905; "Greve de Massas, Partido e Sindicato" – 1906; “A Questão Nacional e a Autonomia” - 1908; “Acumulação do Capital” – 1913; “A Crise da Social-Democracia” (“Panfleto de Junius”) - 1915.


(Dados compilados por Aluizio Moreira)



Fontes:
Arquivo Marxista na Internet
BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais.São Paulo:Expressão Popular,2006.
BRAVO, Gian Mario. Historia do socialismo. Lisboa:Europa-America, 1977, 3 vols.
COLE, G.D.H. Historia del pensamiento socialista.Mexico:Fondo de Cultura, 1957-1960, 7 vols.
DROZ, Jacques (Dir). Historia geral do socialismo. Lisboa: Horizonte, 1972-1977, 9 vols.
HOFMANN, Werner. A historia do pensamento do movimento social dos séculos 19 e 20. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Ameaça terrorista contra Cuba vinda dos... Estados Unidos


Por Salim Lamrani


Em 6 de maio de 2014, as autoridades cubanas anunciaram a prisão de quatro pessoas residentes em Miami, suspeitas de preparar atentados terroristas contra a ilha. José Ortega Amador, Obdulio Rodríguez González, Raibel Pacheco Santos e Félix Monzón Álvarez partiram da Flórida e "reconheceram que pretendiam atacar instalação militares com objetivo de promover ações violentas”.

O governo acusou outros três residentes em Miami, com graves antecedentes criminais, de serem autores intelectuais do projeto de atentado: "[Os quatro presos] declararam também que esses planos estavam sendo organizados sob a direção dos terroristas Santiago Álvarez Fernández Magriñá, Osvaldo Mitat e Manuel Alzugaray, que viviam em Miami e tinham vínculos estreitos com o famoso terrorista Luis Posada Carriles”.

Desde 1959, Cuba é vítima de uma intensa campanha de terrorismo orquestrada a partir dos Estados Unidos pela CIA e pelos exilados cubanos. Ao todo, foram realizados 7 mil atentados contra a ilha desde o triunfo da Revolução. Custaram a vida de 3.478 pessoas e causaram sequelas permanentes a outras 2.099.

No começo dos anos 1990, depois do desmantelamento da União Soviética e da abertura de Cuba para o turismo, houve um aumento do número de atentados terroristas contra a infraestrutura hoteleira de Havana, executados pela extrema direita cubana de Miami com a finalidade de dissuadir turistas de viajar à ilha, sabotando, assim, um setor vital para a moribunda economia cubana. Os violentos atos causaram dezenas de vítimas e custaram a vida de um turista italiano, Fabio di Celmo.

Os autores desses atos terroristas ainda estão em Miami, onde gozam de total impunidade. O caso de Luis Posada Carriles [foto à direita] é o exemplo perfeito. Antigo policial da ditadura de Batista, foi agente da CIA depois de 1959 e participou da invasão da Baía dos Porcos. É responsável por mais de uma centena de assassinatos, entre eles o atentado de 6 de outubro de 1976 contra o avião civil da companhia Cubana de Aviación (Cubana de Aviação), que custou a vida de 73 pessoas – entre elas, toda a equipe cubana juvenil de esgrima que havia acabado de ganhar os Jogos Pan-Americanos.

Não restam dúvidas sobre a culpa de Posada Carriles: ele reivindicou abertamente sua trajetória terrorista em sua autobiografia intitulada Los caminos del guerrero (Os caminhos do guerreiro) e reconheceu publicamente ser o autor intelectual dos atentados de 1997 contra a indústria turística cubana em uma entrevista ao The New York Times em 12 de julho de 1998. Além disso, os arquivos do FBI e da CIA revelados respectivamente em 2005 e em 2006 demonstram seu envolvimento no terrorismo contra Cuba.

Posada Carriles nunca foi julgado por seus crimes. Pelo contrário. Washington sempre lhe protegeu, recusando-se a processá-lo por seus atos ou a extraditá-lo a Cuba ou à Venezuela (onde também cometeu crimes). Essa realidade desmente as declarações da Casa Branca sobre a luta contra o terrorismo.

Em 1997, Cuba propôs aos Estados Unidos uma colaboração discreta na luta contra o terrorismo. O escritor colombiano Gabriel García Márquez, recém falecido, que mantinha relações amistosas tanto com Fidel Castro como com Bill Clinton, serviu de mensageiro. O governo da ilha convidou dois funcionários do FBI a Havana para lhes entregar um relatório sobre as atuações criminosas de algumas organizações sediadas na Flórida. De fato, os serviços de inteligência cubanos haviam infiltrado vários de seus agentes na Flórida. Mas, em vez de neutralizar os responsáveis pelos atos terroristas, o governo dos Estados Unidos decidiu prender cinco agentes cubanos em 1998 e condená-los a penas sumariamente severas, que vão desde 15 anos de reclusão até duas penas perpétuas, em um julgamento denunciado por várias organizações internacionais. Três dos condenados — Gerardo Hernández, Antonio Guerrero e Ramón Labañino — ainda estão atrás das grades.

Ao mesmo tempo, para justificar sua política hostil de sanções econômicas anacrônicas e cruéis, que afetam todas as categorias da população cubana, além de impedir qualquer normalização das relações bilaterais, Washington não vacila ao colocar Cuba na lista dos países patrocinadores do terrorismo internacional, sob pretexto de que alguns membros da organização separatista basca ETA e da guerrilha colombiana das FARC estejam em Cuba... após um pedido expresso dos governos espanhol e colombiano. Washington reconhece isso claramente em seu informe: "O governo de Cuba apoiou e patrocinou negociações entre as FARC e o governo da Colômbia com o objetivo de conseguir um acordo de paz entre ambas as partes”. Os Estados Unidos reconhecem que "não há informação de que o governo cubano tenha suprido com armamentos ou oferecido treinamento paramilitar a grupos terroristas” e admite que "membros do ETA residentes em Cuba foram realocados com a cooperação do governo espanhol”.

Washington justifica também a inclusão de Cuba na lista dos países terroristas por conta da presença na ilha de refugiados políticos procurados pela Justiça norte-americana desde os anos 1970 e 1980. No entanto, nenhuma dessas pessoas já foi acusada de terrorismo.

Os 33 países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) rechaçaram por unanimidade a inclusão de Cuba na lista de países terroristas, apontando um sério revés para Washington. Em uma declaração publicada em 7 de maio de 2014, a Celac expressou "sua total oposição à elaboração de listas unilaterais que acusam Estados de supostamente apoiar e copatrocinar o terrorismo e insta o governo dos Estados Unidos da América a colocar fim a essa prática” que suscita "a reprovação” da "comunidade internacional e da opinião pública dos Estados Unidos”.

Desde há mais de meio século, Cuba sofre violência terrorista orquestrada pelos Estados Unidos — primeiro pela CIA e agora pela extrema direita cubana. A impunidade conferida aos grupelhos violentos e as drásticas penas de prisão aos agentes cubanos que conseguiram impedir a realização de, pelo menos, 170 atentados contra a ilha ilustra as duas caras dos Estados Unidos na luta contra o terrorismo e lança uma sombra sobre a credibilidade de Washington sobre esse tema.


Salim Lamrani é professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr


FONTE Adital

terça-feira, 13 de maio de 2014

Imperialismo faz a guerra no mundo e no Brasil

Por Fausto Arruda


 
O cenário da guerra é todo o planeta. Nenhum lugar da terra está a salvo de uma agressão direta ou indireta de um punhado de países imperialistas comandados pelo USA, superpotência hegemônica única.
O foco pode variar de acordo com os interesses imediatos dos Estados reacionários dominantes. Ora é o Mali, o Sudão, a Costa do Marfim, a Líbia e o Egito, na África; ora é o Butão, o Bangladesh, o Nepal, o Afeganistão, o Paquistão, a Índia, as Filipinas e a Turquia, na Ásia; ora a Palestina, o Iraque, o Iêmen e a Síria, no Oriente Médio; o Peru, a Colômbia e o Haiti na Américas do Sul e Central. E isso, quase que invariavelmente, contando com concurso lacaio dos governos de turno das nações agredidas.
No momento, o imperialismo aponta para a Venezuela na América do Sul e a Ucrânia na Europa Oriental. Especialmente aí lançou ofensiva, juntamente com a UE, para retirar a Ucrânia do domínio do imperialismo russo e submetê-la ao seu mando, questão que se revela, a cada dia, decisiva e inadiável para consolidação de sua hegemonia total no mundo e enfrentar a crise geral do capital ao seu modo e interesse.

A “SALVAÇÃO” É MAIS GUERRAS

Com uma economia funcionando a serviço de poucos, fundamentalmente com base na indústria bélica e nos ganhos financeiros proveniente dos lucros obtidos por seus monopólios mundo afora, o USA encontra-se numa situação em que a grande parcela de sua população é cada vez mais jogada no sacrifício pelo rebaixamento de sua renda, pelo desemprego e pelo abandono da assistência social.
As catástrofes naturais como as ocorridas nos últimos tempos, assim como o estouro das bolhas especulativas, mostram o quanto o povo estadunidense e principalmente as populações de imigrantes têm pago um preço cada vez maior por viverem num país que concentra nas mãos de um punhado de parasitas o resultado da sua rapina sobre o Terceiro Mundo.
Por tudo isso já se inicia um clima de exaustão e de descrença na alternância entre os partidos da ordem, como demonstrado pelo movimento Ocupe Wall Street e outros protestos ocorridos no país, como o dos imigrantes, o que tem levado alguns dos seus economistas a defenderem um modelo de distribuição de renda menos concentrador como forma, até, de salvar o capitalismo.
Veja-se o desespero em que a situação está chegando e, segundo a inexorável lei da tendência decrescente das taxas de lucro, com todas as condições objetivas para piorar. Diante disso, para fugir da crise, tanto republicanos como democratas são unânimes em apostar em mais guerras como meio de salvação. Sob as surradas desculpas de fazer a “guerra ao terror”, “promover a democracia com eleições” e de “proteger as populações, em nome dos Direitos Humanos”, o imperialismo, principalmente ianque, desembarca tropas, contrata mercenários ou ataca com drones e mísseis de longo alcance, para aplacar qualquer forma de resistência e em seguida se apoderar do butim.
Doce ilusão, pois como já advertia Mao Tsetung, o imperialismo é um gigante de pés de barro cuja ação resulta sempre em fracassos, tal como mostra a história das guerras da Coreia, Vietnã, Iraque e Afeganistão, para citar apenas as mais conhecidas.

REPRIMIR PARA ASSEGURAR A EXPLORAÇÃO

Outro tipo de agressão é levado a efeito sob o mando imperialista, porém, executada por governos títeres contra o povo de seus próprios países. É o que sempre se passou com o Brasil e, neste momento, mais agravada ainda a situação.
Os interesses econômicos dos países imperialistas e de suas corporações monopolistas no Brasil são imensos. USA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra, Itália, Rússia e China travam entre si duras batalhas. E as fazem encobertas pelo manto hipócrita da diplomacia e de acordos comerciais, para conquistarem espaços cada vez maiores em nosso território. O que é revelador de que o conluio entre eles é episódico, particularmente para reprimir as lutas de resistência do povo, porém a pugna para ver quem saqueará mais é permanente.
São disputas para implantarem suas plataformas de saqueio do país, através dos mais variados artifícios como remessa de lucro, juros sobre empréstimos e compra de títulos do tesouro (selic), subfaturamento na exportação e superfaturamento nas importações, preços escorchantes da assistência técnica, royalties, entre outros ardis. Tudo isto além da secular e incessante sangria das riquezas naturais, carreadas para fora diuturnamente: madeira, ouro, diamante, minério de ferro e tantos outros minerais estratégicos.
Os recentes escândalos envolvendo a espionagem do USA sobre o gerenciamento e as empresas estatais como a Petrobras; a compra da refinaria em Pasadena da petroleira belga; o cartel formado pela Siemens (Alemanha), Allston (Franca), Sony (Japão) e Samsung (Coreia do Sul) são uma clara amostra da tamanha exploração a que o povo brasileiro está submetido. Esta exploração, entretanto, se dá de forma desigual, pesando brutalmente sobre as costas das massas trabalhadoras da cidade e do campo, ademais das classes médias, no que resulta viver a nação sob desditosa condição de semicolônia do USA.
As estratégias do USA para a América Latina para incrementar a opressão e o saque sobre a região, sempre foram embrulhadas em um discurso de amizade, cooperação e prosperidade. Em 2007 o Comando Sul dos Estados Unidos apresentou ao então presidente Bush Filho sua estratégia para a América Latina e o Caribe para 2016, com o pomposo título de “Amizade e cooperação pelas Américas”. Já no prólogo do documento ficam claras as intenções imperialistas camufladas no discurso de amizade e cooperação:
“A Estratégia de Comando para o ano 2016 do Comando Sul dos Estados Unidos (USSOUTHCOM, por sua sigla em inglês) proporciona o método para alcançar nossa visão e converter-nos em uma organização conjunta interagencial líder que procura apoiar a segurança, a estabilidade e a prosperidade das Américas. Nossa visão estratégia responde ao mandato sempre presente de cumprir com nossos requisitos militares conjuntos e de reconhecer a importância cada vez maior de integrar todos os instrumentos de autoridade nacional para cumprir com os desafios do futuro em todo o hemisfério. À medida que avançamos para o futuro, nos comprometemos a consolidar um enfoque interagencial centrado nos objetivos que nos permitirá cumprir a promessa das Américas.
A palavra “promessa” tem dois significados diferentes, porém igualmente importante. O primeiro significado é um acordo mútuo entre as partes: um vínculo inquebrantável. O segundo significado é a intenção de obter grandes logros ou de fazer algo vital e importante. O Comando Sul dos Estados Unidos se compromete plenamente a cumprir com o expresso em ambas as definições. “Prometemos” ser um bom sócio em todo o hemisfério à medida que enfrentemos difíceis desafios juntos. Também trabalharemos com nossos sócios para ajudar a abrir a “promessa” do futuro.
“A meta da estratégia descrita neste documento é estabelecer relações duradouras e trabalhar juntos de forma cooperativa numa sólida Amizade e Cooperação pelas Américas.”

OPORTUNISMO PLANIFICA ESTRATÉGIA IANQUE

O resultado disso tudo em termos de Brasil foi uma série de medidas implementadas como, por exemplo, o anúncio da reativação da IV Frota da Marinha ianque, também conhecida como Frota do Atlântico Sul, por coincidência, logo após o anúncio da descoberta das reservas de petróleo no pré-sal. O aumento da repressão mais brutal ao movimento camponês em luta pela terra, que ademais de enfrentar-se todo o tempo com os bandos de pistoleiros e paramilitares mantidos pelos latifundiários e acobertado pelo Estado, passou a ser acossado por tropas combinadas do exército com a Força Nacional de Segurança e Polícia Federal, ademais das polícias militar e ambiental. Nas cidades a ação direta das Forças Armadas em apoio à criação das UPPs no Rio de Janeiro e o aumento da militarização no conjunto do país, inclusive armando as guardas municipais, foram as medidas precursoras para impulsionar a guerra contra o povo rebelado.
Com especial e sistemática frequência contra as remoções e contra os protestos da juventude e das populações faveladas e das periferias contrárias aos absurdos gastos do dinheiro público na construção das arenas da Fifa, enquanto a saúde, a educação, a habitação e o transporte públicos são sucateados, penalizando principalmente o conjunto do povo pobre.
Para praticar tamanho saque contra a nação, só estabelecendo um estado de guerra contra as massas rebeladas e para tanto o imperialismo se beneficiou sempre da subjugação das Forças Armadas brasileiras e dos gerenciamentos de turno no velho Estado invariavelmente ocupado, com a exceção única de Goulart – ainda assim muito vacilante –, por oligarcas fantoches e atualmente, da mesma forma, pelos oportunistas Luiz Inácio e Dilma Rousseff, devidamente rodeados, compartilhado e em composição com abjetas personagens de José Sarney, Renan Calheiros, Geraldo Alckmin, Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina Silva, et caterva.
São eles que, como expressão dos diferentes grupos de poder que se digladiam pelo controle da máquina estatal, se unem para aprofundar a subjugação nacional, para reprimir a luta popular, como agora com os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que penalizam os protestos populares e permitem o trânsito e a permanência no Brasil de tropas estrangeiras, leia-se do USA (Projeto de Lei Complementar 276/02, já aprovado na Câmara dos Deputados). Os ianques impuseram ainda ao Brasil a contratação da agência de recrutamento e aluguel de mercenários, denominada de Academiex-Blackwater, terceirizada como força paramilitar no Iraque e Afeganistão.

ONDE HÁ OPRESSÃO HÁ RESISTÊNCIA

Por mais desumanas que sejam as agressões contra o povo em forma de chacinas e assassinatos de moradores, de remoções, ocupações de favelas, despejos violentos e massacres no campo e na cidade, uma coisa é certa: a resistência popular cresce e se tempera nos embates de rua e no campo contra seus agressores.
De junho de 2013 até estes dias, temos assistido diariamente em todo o território nacional, a explosão da revolta popular em forma de queima de pneus e fechamento de vias, para apresentar a sua pauta de reivindicações imediatas. Aí quando os políticos se escondem e mandam a polícia, o povo vai entendendo que só colocando a questão do poder como reivindicação principal poderá atacar as causas os seus problemas, que para serem resolvidos de forma definitiva demanda uma revolução.
E, assim, vai amadurecendo rapidamente em sua cabeça que não vai ser através de eleição após eleição que as mudanças necessárias e desejadas chegarão. A ideia da revolução já não é algo distante no pensamento das massas, o que precisa chegar rápido até elas é a percepção da necessidade do principal instrumento para a revolução, o partido revolucionário do proletariado: o verdadeiro Partido Comunista.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Encontro Nacional de Mulheres reafirma a luta pelos direitos da mulher e pelo Socialismo




Nos dias 03 e 04 de maio, na cidade do Recife, Pernambuco, mais de 250 mulheres se reuniram para discutir sua organização e principais bandeiras de luta.


Realizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, o evento contou com representantes de 13 estados do país.

O ato de abertura do encontro homenageou as mulheres lutadoras perseguidas pela Ditadura Militar brasileira (1964-1985). Os nomes das 50 mulheres assassinadas ou desaparecidas pelo regime de exceção foram declamados, acompanhadas por um forte coro de todo o plenário que dizia “Presente, agora e sempre”.

Três companheiras resistentes, que tiveram atuações diferentes no período, foram homenageadas pelo movimento.

A cultura popular esteve presente durante todo o encontro, desde frevo e coco de roda, até chorinho.

Maria do Socorro Abreu e Lima, que foi militante da Ação Popular, lembrou do nome de outras mulheres importantes do período, destacando Criméia Schmidt de Almeida, que teve seu filho na prisão e cujo companheiro foi assassinado na Guerrilha do Araguaia, e que nunca desistiu da luta por memória, verdade e justiça.

Irmã Celina, que militava junto de D. Helder Câmara, também foi homenageada por sua luta em defesa dos presos políticos da época. Em sua fala, ela defendeu o Socialismo e destacou a importância da luta da juventude.

D. Elzita, que completou 100 anos recentemente, foi homenageada na pessoa de Marcelo Santa Cruz, por sua árdua e incansável luta pela busca dos restos mortais de seu filho, Fernando Santa Cruz e de todos os desaparecidos brasileiros.

A violência contra a mulher foi tema de destaque no primeiro dia de encontro. Com uma exposição da situação que as mulheres vivem no país, em especial as que não possuem recursos para livrar-se de uma situação de violência, o plenário teve intensa participação com mulheres expondo as suas próprias experiências de opressão e violência. A importância de nossa organização para garantir a superação dessas violações de direito foi a tônica do debate.

No segundo dia do encontro, as mulheres participaram de sete grupos de debates, onde aprofundaram vários temas candentes para as mulheres, como o impacto da Copa da Fifa em suas vidas, a luta das mulheres na América Latina, mulheres negras, entre outros.

À tarde, foi realizada uma plenária geral onde foram apresentadas sínteses das discussões nos grupos e aprovadas diversas propostas e uma Coordenação Nacional composta por 33 companheiras de todos os estados presentes.

Ao final, foi lida e aprovada a “Carta de Recife”, um documento político que trouxe o compromisso das mulheres organizadas no Movimento Olga Benário com a luta pelos direitos das mulheres e pelo Socialismo.
  

CARTA DE RECIFE

Reunidas na cidade de Recife, mulheres representadas por 13 estados brasileiros nos dias 03 e 04 de maio de 2014, analisaram a situação de exploração e opressão em que vive as mulheres.

Identificamos que a crise do sistema capitalista aprofunda as desigualdades da sociedade de uma forma geral e das mulheres de forma particular. Constatamos o aumento da diferença salarial entre homens e mulheres, aumento dos casos de abuso, estupros e feminicídios.

Encaramos os tristes dados de que mais de meio milhão de mulheres são estupradas todos os anos. Uma mulher é agredida a cada 15 segundos e cada hora e meia uma mulher é assassinada em nosso país. Essa violência é fortalecida pelos grandes meios de comunicação que resume o corpo da mulher como uma mera mercadoria.

Neste ano, de forma especial, as mulheres serão submetidas à políticas de graves violações de direitos em decorrências da realização da Copa da Fifa. Nós somos as principais atingidas pelas truculentas remoções para construção de obras e seremos submetidas a um cenário propício ao aumento significativo da exploração sexual de mulheres e meninas. Os recursos destinados à realização dos megaeventos estão sendo desviados de áreas essenciais para a melhoria da situação de vida das mulheres como saúde, habitação e educação.

As mulheres negras, além do combate diuturno ao machismo e opressão de gênero, ainda enfrentam o racismo, que tem raízes profundas na sociedade capitalista brasileira. Debater e organizar as mulheres negras contra a violência racial será também uma de nossas bandeiras.

No marco dos 50 anos do golpe militar no Brasil, onde milhares de mulheres foram perseguidas, presas, torturadas e assassinadas e muitas ainda continuam desaparecidas, fortalecemos a importância da organização e do protagonismo das mulheres na luta pela transformação da sociedade.

Por isso, o 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário reafirma seu compromisso com o combate a todas as formas de violência contra as mulheres, por salário igual para trabalho igual, por creches, restaurantes e lavanderias públicas, pelo fim da exploração sexual das mulheres, pela descriminalização e legalização do aborto, pelo fim da mercantilização das mulheres e também pelo fim do racismo.

Avaliamos que a sociedade capitalista, patriarcal, racista, homofóbica, lesbofóbica e machista nos impede de vivermos plenamente como mulher. Desta maneira, a luta contra esse sistema explorador e opressor é fundamental para conquistarmos a nossa verdadeira emancipação. Somente em uma sociedade nova seremos tratadas com igualdade e respeito. Essa sociedade tem nome, chama-se sociedade socialista e por ela lutamos!

VIVA A LUTA DAS MULHERES! VIVA O SOCIALISMO!
   

FONTE: A VERDADE

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Guerra de classes urbana: As cidades são construídas para os ricos?


As lutas de classe de hoje estão ocorrendo cada vez mais nas cidades, diz o teórico social e marxista David Harvey. Em uma entrevista para a "Spiegel Online" ele discute como a urbanização exercerá um papel chave nos conflitos sociais que virão.

Por Christoph Twickel


Spiegel Online: Por que um marxista deveria se preocupar atualmente com as grandes cidades em vez da classe trabalhadora?

Harvey: Os marxistas tradicionais reconhecidamente veem a vanguarda da revolução na classe trabalhadora industrial. Mas como isso está desaparecendo no rastro da desindustrialização do Ocidente, as pessoas estão começando a entender que os conflitos urbanos provavelmente serão decisivos.

Spiegel Online: Ao longo da crise da dívida, os salários caíram e os benefícios sociais foram reduzidos na Grécia. Enquanto isso, greves gerais não geraram pressão suficiente para reverter as mudanças. Isso pode ser visto como uma evidência que apoia sua teoria, a de que o proletariado tradicional não pode mais paralisar um Estado?

Harvey: Sim. A classe trabalhadora de hoje faz parte de uma configuração mais ampla de classes na qual a luta é centrada na própria cidade. Eu substituo o conceito tradicional de luta de classes pela luta de todos aqueles que produzem e reproduzem a vida urbana. Os sindicatos precisam olhar para a existência urbana cotidiana --uma chave para os conflitos sociais que virão. Nos Estados Unidos, isso levou a central sindical AFL-CIO a começar a colaborar com os trabalhadores domésticos e migrantes.

Spiegel Online: Uma das teses básicas de seu livro "Commonwealth" é que o desenvolvimento urbano resolve o problema do capital excedente. Ele constrói ruas e desenvolve propriedades por meio de crédito e, assim, tenta escapar da recessão.

Harvey: Um relatório do Federal Reserve Bank (o banco central americano) de San Francisco colocou recentemente desta forma, dizendo que, historicamente, os Estados Unidos sempre superaram recessões construindo casas e as enchendo de coisas. A urbanização pode resolver crises, mas, mais do que qualquer outra coisa, é uma forma de sair de crises.

Spiegel Online: Há exemplos atuais dessa estratégia?

Harvey: Onde as economias estão atualmente crescendo mais? Na China e na Turquia. O que vemos em Istambul? Guindastes por toda parte. E quando a crise estourou em 2008, a China perdeu 30 milhões de empregos em seis meses devido à queda das importações americanas de bens de consumo. Mas então o governo chinês criou 27 milhões de novos empregos. Como? Os chineses fizeram uso de seus imensos superávits comerciais para montar um programa gigante de desenvolvimento urbano e infraestrutura.

Spiegel Online: Essa estratégia de curto prazo para combate à crise não é auxiliada pela existência de um regime autoritário como o da China?

Harvey: Imagine Obama ordenando ao Goldman Sachs que desse dinheiro para desenvolvedores urbanos. Boa sorte! Mas quando um banco chinês recebe uma ordem do Comitê Central do Partido Comunista, ele empresta quanto dinheiro for necessário. O governo chinês forçou os bancos a fornecerem grandes quantidades de dinheiro para projetos de desenvolvimento.

Spiegel Online: Esse tipo de urbanização é necessariamente uma coisa ruim?

Harvey: A urbanização é um canal pelo qual o superávit de capital flui para construção de novas cidades para a classe alta. É um processo poderoso que define a razão de ser das cidades, assim como quem pode viver lá e quem não pode. E determina a qualidade de vida nas cidades segundo as estipulações do capital, não das pessoas.

Spiegel Online: Ao mesmo tempo, em Istambul, a Administração de Desenvolvimento Habitacional, Toki, construiu vários grandes projetos habitacionais para os pobres. Isso não contradiz sua tese?

Harvey: Não, porque os moradores do chamado Geçekondus, os projetos habitacionais informais na periferia da cidade, foram sumariamente transplantados para áreas em desenvolvimento a 30 quilômetros do centro da cidade, uma expulsão em massa.

Spiegel Online: A crise das hipotecas subprime (de risco) nos Estados Unidos surgiu precisamente da tentativa de incorporar as classes mais baixas na propriedade de imóveis. Produtos financeiros imprudentes foram criados para que até mesmo os mais pobres pudessem obter empréstimos.

Harvey: Dê crédito! Esse grito de batalha promoveu a agenda neoliberal. Mas isso não é novo. Durante o McCarthismo após a Segunda Guerra Mundial, a classe dominante já reconhecia que a propriedade de imóvel exercia um papel importante na prevenção de distúrbios sociais. Por um lado, os ativistas de esquerda eram combatidos como antiamericanos. Por outro, a construção era promovida com reformas financeiras e hipotecárias. Nos anos 40, a proporção de lares ocupados pelo proprietário nos Estados Unido ainda estava abaixo de 40%. Nos anos 60, já era de 65%. E durante o último boom imobiliário, era de 70%. Nas discussões sobre reforma das hipotecas no final dos anos 30, a frase chave era: "Proprietários de imóveis endividados não entram em greve".

Spiegel Online: Em seu livro "Commonwealth", os filósofos Michael Hardt e Tony Negri alegam que a cidade é uma fábrica para produção de bens comuns. O senhor concorda?

Harvey: Muito gira em torno da definição de "bens comuns urbanos". O fato de as praças centrais serem públicas é significativo em termos do direito à cidade, como demonstraram os movimentos Ocupe em Nova York e Londres ao tomarem parques privatizados. Nesse contexto, eu gosto do modelo histórico da Comuna de Paris: pessoas que moravam na periferia voltaram ao centro da cidade para retomar a cidade da qual foram excluídas.

Spiegel Online: Os movimentos Ocupe deveriam lutar pelo direito à cidade? Casa a casa, parque a parque?

Harvey: Não, para isso é preciso poder político. Mas, atualmente, a esquerda infelizmente se esquiva de projetos de grande escala que exigem políticas públicas --cedendo voluntariamente poder, no meu entender.

Spiegel Online: O senhor é um teórico social e marxista. No seu livro mais recente, o senhor se refere à "arte de alugar", isto é, quando o capital ganha lucros adicionais com as discrepâncias locais. O que o senhor quer dizer com isso?

Harvey: Colocando de modo simples, um monopolista pode exigir um ágio por um commodity muito procurado. Atualmente, as cidades estão exigindo ágio por anunciarem a si mesmas como culturalmente únicas. Depois que o Museu Guggenheim foi construído em Bilbao em 1997, cidades de todo o mundo seguiram seu exemplo e começaram a desenvolver projetos referenciais. A meta é poder dizer: "Esta cidade é única, e esse é o motivo para ser preciso pagar um preço especial para estar aqui".

Spiegel Online: Mas se toda cidade tivesse um Museu Guggenheim ou uma filarmônica como a que está sendo construída atualmente em Hamburgo, não haveria um efeito inflacionário em relação a esses projetos que os levaria ao fracasso?

Harvey: A bolha já estourou na Espanha, e muitos dos projetos imensos permanecem apenas semiconcluídos. A propósito, grandes eventos como os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de futebol e festivais de música servem ao mesmo propósito. As cidades buscam assegurar para si mesmas uma posição nobre no mercado --como um vinho raro de uma safra excepcionalmente boa.


Tradutor: George El Khouri Andolfato


FONTE: ControVérsia