O Socialismo Utópico faz parte do universo teórico dos pensadores SAINT-SIMON (1760-1825), FOURIER (1772-1837) e OWEN (1771-1859) que vivenciaram o surgimento do capitalismo com todas as suas contradições e conflitos, com todas as “injustiças” e “irracionalidades”, próprias das novas relações sociais de produção implantadas na Europa ocidental, a partir dos meados do século XVIII, inícios do século XIX.
Escreveram projetos de reestruturação da sociedade que deveria ser racionalmente planejada, controlada pelos produtores. Mas para a realização desse "sonho", desse modelo de sociedade perfeita, tinham a esperança de que os próprios governantes ou os "homens de bem", empreendessem aquelas mudanças, que reuniria industriais, reis e trabalhadores.
Segundo G.D.H. Cole ("Historia del Pensamiento Socialista"), foi o economista Jérone Blanqui que em 1839, na sua obra "History of Political Economy", utilizou pela primeira vez o termo "socialistas utópicos" para denominar os discípulos daqueles três pensadores. Termo esse adotado posteriormente por Marx e Engels.
Claude Henri, Conde de Saint-Simon nasceu em Paris. É considerado um dos fundadores do socialismo. Dividindo a sociedade em "ociosos" e "produtores", achava que a direção do Estado caberia aos industriais, entre os quais Saint-Simon incluía empresários, artesãos, operários. Publicou L’ORGANISATEUR, juntamente com Auguste Comte, pai do positivismo, além de LE SYSTEME INDUSTRIEL e LE NOVEAUX CHRISTIANISME.
Charles Fourier nasceu em Besançon, França. Elaborou um modelo de sociedade (O Estado Societário), baseada na associação e no cooperativismo, que seria organizada em falanges, integradas cada uma por 1800 pessoas que viveriam comunitariamente. Cada falange dedicar-se-ia a uma atividade "industrial": falange do trabalho comercial, falange do trabalho fabril, falange do trabalho agrícola, falange do trabalho doméstico, etc. Para construir tal sociedade, as pessoas de fortuna (empresários, homens da corte), deveriam investir capital monetário na edificação de um novo mundo.
Robert Owen nasceu na Inglaterra. De origem humilde, tornou-se gerente de um moinho e posteriormente proprietário de uma empresa têxtil em New Lanarck. Apresentou sua proposta de construção de uma nova sociedade ao Parlamento britânico, aos Governos europeus e a Nicolau I, czar da Rússia, sem qualquer sucesso, como era de se esperar. Defendia a organização de colônias ou comunas de trabalho onde reinaria a igualdade entre seus membros. Chegou a adquirir terras no Estado de Indiana (EUA), nas quais organizou uma Comuna de trabalho (New Harmony) que fracassou. No final de sua vida dedicou-se intensamente na organização de Sindicatos (Trade-Unions), na Inglaterra.
Os primeiros grupos a serem chamados originalmente socialistas, saint-simonianos, fourieristas e owenianos, seguidores de Saint-Simon, Fourier e Owen, têm ponto de convergências e divergências em mais de um aspecto de seus pensamentos.
Entre as idéias que existem coincidências, os três grupos consideravam: 1 - que a "questão social" era a mais importante questão a se resolvida na sociedade; 2) que caberia aos "homens de bem" promover a felicidade e o bem-estar geral da sociedade; 3) que era incompatível a existência da felicidade e do bem-estar, numa ordem social baseada na concorrência; 4) que não se poderia confiar aos políticos e ministros, a tarefa de dirigir os assuntos sociais, mas aos "produtores"; 5) que se deveria lutar contra a desigualdade, limitando o direito de propriedade, não suprimindo-a.
Entre as idéias que os diferençava, enumeramos: 1) os fourieristas e owenianos defendiam a criação de comunidades igualitárias; 2) os saint-simonianos defendiam a organização e a planificação científica da sociedade em grande escala e na transformação dos Estados nacionais em grandes corporações produtoras lideradas pelos homens de ciência e de alta capacidade técnica; 3) os fourieristas e owenianos evitavam as atividades políticas; 4) os saint-simonianos pretendiam apoderar-se dos Estados e transformá-los para atender aos seus propósitos; 5) os fourieristas supervalorizavam o cultivo da terra, relegando a indústria e o comércio a um segundo plano; 6) os owenianos consideravam a Revolução Industrial um grande feito, admitindo a formação de uma nova sociedade baseada no equilíbrio da agricultura e indústria.
Apesar das similitudes e diferenças, todos eles viam a instituição de uma nova organização da sociedade no plano das idéias, como produto da vontade dos homens, não como uma forma de organização necessária, decorrente da própria realidade objetiva, como etapa progressiva no processo de desenvolvimento histórico da sociedade humana.
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