domingo, 31 de maio de 2015

Grécia apela à solidariedade internacional


Manifestação do Syriza, anterior às eleições gerais. Agora no governo, partido afirma:
exigências dos credores "são inaceitáveis para povos que lutam por uma Europa
da solidariedade e da democracia".


Ameaçado pelos credores, partido no governo em Atenas reage a exigências “inaceitáveis” e propõe mobilização dos povos da Europa. Na Espanha, esquerda pode vencer eleições em Madri e Barcelona


O Secretariado Político do Syriza divulgou um comunicado sobre os desenvolvimentos políticos e a negociação [com os credores], que representa um apelo aos povos da Europa à mobilização pela vitória da democracia e da dignidade. “Chegou a hora de os povos entrarem na luta”, afirma o comunicado, sublinhando que os povos da Europa “podem ser também parte ativa numa negociação que diz respeito ao nosso destino comum à escala europeia e mundial”.

Para a direção do Syriza, as “linhas vermelhas” do governo de Atenas, as questões em que este se recusa a transigir às pressões dos credores, “são também as linhas vermelhas do povo grego”. O comunicado recorda que “desde o momento da formação do governo, ficou claro – tanto no estrangeiro como no nosso país – que o mandato dado pelo povo grego é vinculativo e constitui a bússola nas negociações”.

E esse mandato tem como eixo “a justiça social e a redistribuição das riquezas”, e não “a ligação obsessiva à austeridade que desmantela o Estado social, à direção oligárquica dos assuntos europeus em circuito fechado e longe da influência da vontade social, o que abre caminho ao crescimento da extrema direita na Europa”.

Assim, o Syriza considera que as exigências dos credores são inaceitáveis. “Elas são inaceitáveis para o povo grego, que lutou todos estes anos para pôr fim às políticas criminosas dos memorandos. Elas são inaceitáveis para os povos da Europa e as forças progressistas sociais e políticas que lutam por uma Europa da solidariedade e da democracia”.

Para além da mobilização da sociedade grega contra a chantagem da União Europeia, do BCE e do FMI, o Syriza estará também “em todos os países da Europa”, num grande apelo “à mobilização pela vitória da democracia e da dignidade”.

A seguir, o comunicado na íntegra.

Comunicado do Secretariado Político do Syriza sobre os desenvolvimentos políticos e a negociação

Desde o momento da formação do governo, ficou claro – tanto no estrangeiro como no nosso país – que o mandato dado pelo povo grego é vinculativo e constitui a bússola nas negociações.

As linhas vermelhas do governo são também as linhas vermelhas do povo grego, elas exprimem os interesses dos trabalhadores, dos trabalhadores independentes, dos reformados, dos agricultores e da juventude. Elas exprimem a necessidade para o país seguir um novo caminho de crescimento, tendo como eixo a justiça social e a redistribuição das riquezas.

A insistência dos credores em querer aplicar o programa memorandário do governo Samaras, criando no país um espartilho sufocante de pressões políticas e asfixia financeira, surge em oposição direta com a noção de democracia e de soberania popular na Europa. Ela exprime uma ligação obsessiva à austeridade que desmantela o Estado social, à direção oligárquica dos assuntos europeus em circuito fechado e longe da influência da vontade social, o que abre caminho ao crescimento da extrema direita na Europa.

Estas exigências são inaceitáveis. Elas são inaceitáveis para o povo grego, que lutou todos estes anos para pôr fim às políticas criminosas dos memorandos. Elas são inaceitáveis para os povos da Europa e as forças progressistas sociais e políticas que lutam por uma Europa da solidariedade e da democracia.

Os cidadãos da Grécia e da Europa não são consumidores passivos das notícias das 20h. Pelo contrário, entendemos que podem ser também parte ativa numa negociação que diz respeito ao nosso destino comum à escala europeia e mundial.

O Syriza tomará todas as iniciativas possíveis para informar a sociedade grega mas também os povos da Europa. Em cada cidade, em cada bairro e em cada local de trabalho, mas também em todos os países da Europa, estarão os deputados, eurodeputados e dirigentes do Syriza, com os membros do Syriza e as forças solidárias, num grande apelo à mobilização pela vitória da democracia e da dignidade.

Chegou a hora dos povos entrarem na luta.

Venceremos!



sábado, 16 de maio de 2015

Existe uma teoría da revolução em Trotsky?



Por Fábio José Cavalcanti de Queiroz

“Se um símbolo é uma imagem concentrada, então uma revolução é a maior criadora de símbolos, pois esta apresenta todos os fenômenos e relações numa forma concentrada”  Leon Trotsky


Ainda não havia muito que abrira o século XX, e Leon Trotsky já se constituía em uma figura emblemática do movimento socialista russo. Notemos ainda: não demoraria muito e ele teria essa posição estendida em uma escala incomparavelmente maior. Com o decorrer do tempo, plasmado pela revolução de outubro e mesmo depois da morte do seu principal inspirador, o trotskysmo resultaria em um movimento de envergadura internacional. É escusado dizê-lo: as concepções de Lev Davidovich Bronstein (o seu verdadeiro nome) se tornaram linhas de força de ampliação e enriquecimento da teoria revolucionária (marxista), do seu programa e da sua estratégia.

É necessário esclarecer que, ainda assim, tais assertivas tão peremptórias não podem ter o condão de, a priori, definir a existência irrefutável de uma teoria da revolução em Trotsky, ainda que as evidências iniciais apontem vivamente nessa direção. Há no mínimo muita dúvida acerca de uma teoria da revolução. Suponha então de uma teoria da revolução em Leon Trotsky.

Vale a pena ainda aduzir outra questão: a revolução nunca foi para Trotsky uma ideia geral, uma abstração ou algo do gênero. Para ele, essa refinada ferramenta histórica expressaria um problema de fundo que não era somente teórico, mas era sobremaneira político, prático e estratégico. Doutro lado, e já nos colocando em 2013, a sua reflexividade sobre o tema nada tem em comum com o raciocínio vulgar, seja aquele que enxerga revolução em todo lugar, seja aquele que não vê revolução em parte alguma. Para ele, “o caráter geral de nossa época não significa que acontecerá a revolução, isto é, a tomada do poder, a todo o momento” (2010: 150).1

Posto tal diagnóstico, e olhando detidamente a realidade à nossa volta, trata-se de entender esta última como uma situação que, sem dúvida, não é completamente inédita. Não é a primeira vez que a revolução como categoria histórica é apontada como um empreendimento anacrônico. Também não é a primeira vez que os revolucionários se sentem lançados – teórica e politicamente – a responder aos seus oponentes da hora.

Acontece que a enxurrada de teses e impropérios contra qualquer teoria revolucionária, não raras vezes dirigida por reacionários completos, nos impele a uma retomada do problema em sua acepção teórica, que, no caso de um trotskysta, implica levar em conta as questões políticas, práticas e estratégicas aí envolvidas. Disso decorre a busca de uma teoria da revolução em Leon Trotsky.

A essa altura, não é ocioso recordar da sua extensa obra que pode nos propiciar pistas preciosas visando responder a questão inicialmente proposta. É importante não perder de vista que grande parte da sua produção – intelectual e política – tem como leitmotiv o tema da revolução. Além do mais, é sintomático que o termo apareça regularmente no título de grande parte das suas obras: A revolução de 1905; História da revolução russa; A revolução russa; Revolução permanente; Literatura e revolução; A revolução desfigurada; A revolução traída etc. Às vezes, a expressão contundente e reiterada surge acompanhada de sua antítese, conforme se observa em Revolução e contrarrevolução na Alemanha. Para medirmos toda essa presença do termo, basta que nos lembremos de que, em certas oportunidades, embora ele não apareça, é dele que se está falando, como é o caso de Lições de outubro - onde o autor nos oferece um quadro geral da revolução de outubro de 1917, na Rússia.

Mesmo em sua autobiografia – Minha vida – os processos revolucionários ocupam grande parte das suas auto-reflexões. É precisamente nesse livro de memórias que ele nos oferece uma das definições mais brilhantes de tais processos: “Las revoluciones son momentos de arrebatadora inspiración de la história” (TROTSKY, 1979: 259). Tal definição é antecipada pela ideia-chave de que as revoluções só se tornam possíveis quando “las masas, por um empuje de sus fuerzas elementales, rompen las compuertas de la rutina social” (idem).

Quer dizer: as revoluções são instantes excepcionais na história humana e correspondem ao átimo de tempo em que as massas rompem os diques da rotina e se lançam como verdadeiras proprietárias do seu destino. Essa compreensão constituirá a chave-mestra do que poderíamos – por que não? – nomear de uma teoria da revolução em Trotsky.

No instante em que as ruas e praças começam a se tornar concorridos centros de debate, não parece apropriado nos furtar a discutir essa concepção dos processos revolucionários manifesta em Trotsky: efetivamente, um homem de ideias e de ação. Para ele, a revolução deveria ser entendida como uma ferramenta pelo qual as massas poderiam começar a empreender uma superação radical da ordem burguesa. Nesse sentido, o prolongamento do capitalismo como modo de produção influente e dominante não pode ter a prerrogativa de esfumar esse método da história. Se os que falam de tal método parecem afastados de um padrão momentaneamente estabelecido, em termos curtos e grossos, não deveríamos – mais do que antes – lutar para que se rompa com a regra e se transforme a exceção em regra?

Manifestamente, esse quadro exige um embate ideológico em que as ideias de Trotsky encerram um conteúdo político muito valioso, ainda que seja inútil buscar respostas definitivas e irrecusáveis na letra do texto. Costuma-se dizer entre os marxistas, retomando o velho Engels, que reconhecemos três formas de luta: a política, a econômica e a teórica. Aqui, estamos nos propondo a retomar essa terceira; em geral, esquecida e sacrificada.

Não estamos nos dispondo a desenvolver um estudo geral sobre a teoria, mas sobre a teoria da revolução; não uma teoria geral acerca do assunto, mas uma teorização determinada e que se abriga na rica e orgânica elaboração do velho revolucionário ucraniano, que definiu sumariamente a revolução “como a forma mais alta da luta de classes” (TROTSKY, 1990:58), apesar de interpretá-la, em outros momentos, de maneira relativamente diferente. Na maioria dos casos, no entanto, era esse o seu ponto de partida, quando sequer ignorava que os processos revolucionários são ensejados, em regra, por explosões “sem preparação e sem ligação”. Tais explosões, no entanto, não seria ainda a revolução em toda a sua extensão; de feito, não encerraria outro significado senão o de sua primeira fase.

Devemos nos lembrar, contudo, que a vasta produção historiográfica e política de Trotsky, paralela à trajetória do militante revolucionário, coloca o seu leitor frente a uma trama complexa que exige um trabalho feito com muito cuidado para que não se transforme a sua elaboração em uma compreensão vulgar.

Assim, para Trotsky (1989), a revolução não deve ser entendida como um “empreendimento isolado que se pode desencadear por capricho”; Inversamente, ela deve ser encarada como “um processo objetivamente condicionado no desenvolvimento histórico” (idem, p. 7). Em outros termos: a revolução é um processo, em primeiro lugar, objetivo, social e não subjetivo e individual. Sequer deve ser tomada como um processo técnico. Sobre isso, ele escreveu a seguinte síntese: “E por que é que as revoluções vitoriosas são tão raras se para o seu sucesso basta um par de receitas técnicas?” (TROTSKY, 1989:10). Em resumo: as revoluções encerram aspectos técnicos e subjetivos, mas estes estão condicionados objetivamente pela realidade.

Para os decepcionados que, à primeira vista, enxergassem um hipotético objetivismo soprando das páginas dos livros do velho revolucionário, certamente um esforço para seguir a reflexividade do autor poderia vir a redundar em uma grande surpresa, de acordo com o que se distinguiria da leitura da citação abaixo:

Mas a consciência humana não reflete passivamente as condições objetivas. Ela reage ativamente sobre estas. Em certos momentos, esta reação adquire um caráter de massa, tenso, apaixonado. As barreiras do direito e do poder são derrubadas. Na realidade, a intervenção das massas nos acontecimentos constitui o elemento mais essencial da revolução (TROTSKY, 1989:7).2

Ou seja: em que pese o condicionamento objetivo, é a intervenção das massas o elemento mais essencial de um movimento revolucionário. Aqui, queremos aproveitar para retomar uma discussão que sugerimos no início do presente artigo. A atividade revolucionária, na perspectiva de Trotsky, pode se restringir a uma demonstração ou rebelião, “sem se elevar à altura de uma revolução”, se a sublevação das massas não conduzir ao “derrubamento da dominação de uma classe e ao estabelecimento de outra”.

Ora, em 1905, na Rússia, conforme antecipamos, a atividade revolucionária não alcançou esse patamar; logo, não seria uma revolução? O “velho” se corrige e diz: “essas são as condições de uma revolução consumada”. Estamos perante um problema muito importante. Nessa ótica, as revoluções poderiam ser divididas em consumadas e não consumadas, em que as primeiras se caracterizariam pelo “derrubamento da dominação de classe e ao estabelecimento de outra” e, no segundo caso, estariam ausentes essas duas condições. Com maior frequência, tem sido o segundo grupo de movimentos revolucionários o que tem primado.

A nosso ver, o fundamental é entender as revoluções como momentos em que “as massas mostram abertamente a sua decisão de lutar até o fim” (TROTSKY, s/d: 395). Lutar até o fim não é uma garantia absoluta de que o velho será varrido e o novo será implantado. A história nunca deu esse tipo de garantia.

Convém desde já observar que “no caso de uma vitória decisiva da revolução, o poder passa para as mãos da classe que desempenha o papel dirigente na luta” (TROTSKY, 2011:79). É essencial não perder de vista um elemento condicional nessa afirmativa. Não basta uma vitória. Carece-se de uma vitória decisiva para que a resultante seja a contida na frase. Ao longo da história, a ausência da condição definida nessa simples palavra produziu resultados diametralmente opostos.

Analisando a revolução de outubro, Leon Trotsky conclui que “o proletariado não pode conquistar o poder através de uma revolução espontânea” (2007: 24). Aqui, trata-se de examinar não os movimentos revolucionários como um todo. A questão central é a análise da luta revolucionária do século XX e do seu horizonte proletário. Para o autor, a experiência demonstrou que se as revoluções revelam um caráter inorgânico, instintivo, sem um plano e uma direção conscientes, a tendência é que o poder permaneça nas mãos das antigas classes, embora encapotado de novas formas. A sua conclusão é categórica: “O partido é o instrumento essencial da revolução proletária” (idem, p. 26). Isto é: sem uma ferramenta política consciente e determinada, a tendência é que não se alcance o patamar de uma revolução consumada.3

Em tais momentos, o papel dos partidos e dos líderes não pode ser menosprezado:

Sem uma organização dirigente, a energia das massas se dissiparia como um vapor não encerrado numa caldeira com bombas de pistão. Entretanto, o que move as máquinas não é nem o pistão nem a caldeira, mas o vapor (TROTSKY, t1, p1, 2007:10/11).

Há quem faça objeções ao modo que Leon Trotsky tratou o tema, ora acusando-o de reducionista, ora imputando-lhe o defeito de ignorar a complexidade do Estado na sociedade ocidental. Na razão inversa das querelas dos seus detratores, ele sempre entendeu que “a revolução proletária no ocidente terá de lidar com um Estado burguês completamente formado” (2007:107). A noção de um “Estado burguês completamente formado” tem a virtude de conceber a imagem do processo histórico no ocidente como distinta em comparação, por exemplo, com aquela revelada pela experiência russa.

Num plano mais elevado da realidade imediata, a formulação teórica mais exata é a que reconhece que não existe uma única porta pela qual a revolução pode entrar. A via para revolução tem variantes. Fora disso, qualquer teoria se torna um esquema abstrato. Para que fique nítido quanto ao método aplicado pelo autor de História da revolução russa, é útil ressaltar uma passagem de Lições de outubro: “O melhor teste dos pontos de vista sobre a revolução é a aplicação deles na própria revolução” (TROTSKY: 2007:30).

Esses são os pontos mais importantes no que diz respeito à concepção de revolução que Leon Trotsky apontou em diversos dos seus textos teóricos. Cremos que essa brevíssima apresentação dos seus postulados já nos permite advogar a existência, em sua obra, de uma teoria da revolução; teoria que ele desenvolveu ao longo de quatro décadas de militância sob o esteio do marxismo.

Postos de lado os aspectos complementares da sua sistematização, dir-se-ia que, no pensamento de Trotsky, um traço essencial da erupção revolucionária pode ser observado nas “bruscas mudanças de opinião e sentimento das massas”. Para ele, esse é o elemento que, em última análise, define a eclosão de uma “etapa revolucionária”. Trata-se, então, de reconhecer que a revolução não é o resultado da ação de “demagogos”; ela corresponde a um “movimento de saltos nas ideias e paixões”. Em outras palavras: a revolução se determina e se explica pela “orientação ativa das massas por um método de aproximações sucessivas” (TROTSKY, t.1, 2007:10). O seu desenlace não está escrito em lugar algum. O que, em larga medida, o define não é outra coisa senão a correlação de forças. Conclusivamente, eis os traços essenciais do que não tem como ser definido adequadamente salvo como uma teoria da revolução.

BIBLIOGRAFIA:

TROTSKY, Leon. Aonde vai a França, São Paulo: Editora Desafio, 1994.
_____ A revolução de 1905, São Paulo: Global Editora, s/d.
_____ A revolução desfigurada, São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
_____ A revolução permanente, São Paulo: Expressão Popular, 2007.
_____ A revolução russa: a natureza de classe da URSS, São Paulo: Informação Editora, 1989.
_____ A revolução traída, São Paulo: Editora Sundermann, 2005.
_____ Balanço e perspectivas, in: A teoria da revolução permanente, São Paulo: Sundermann, 2011.
_____ Em defesa do marxismo, São Paulo: Editora Sundermann, 2011.
_____ História da revolução russa, tomo 1, parte um, São Paulo: Sundermann, 2007.
_____ História da revolução russa, tomo 2, partes dois e três, São Paulo: Editora Sundermann, 2007.
_____ Lições de outubro e outros textos inéditos, coleção 10, São Paulo: Editora Sundermann, 2007.
_____ Literatura e revolução, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2007.
_____ Mi vida, Bogotá: Editorial Pluma Ltda., 1979.
_____ Revolução e contrarrevolução na Alemanha, São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
_____ Stálin – o grande organizador de derrotas – a III internacional depois de Lênin, São Paulo: Editora Sundermann, 2010.
_____ Terrorismo e comunismo – o anti Kaustky, Rio de Janeiro: Editora Saga, 1979.

Notas:

1 Sobre essa questão, não há uma formulação única e indiscutível em Trotsky. Por exemplo, os acontecimentos de 1905, na Rússia, são por ele definidos como revolução, ainda que não tenha se dado a tomada do poder.

2 Esta obra reproduz uma conferência feita por Trotsky em Copenhague, nos anos 1930. Antes disso, ele escrevera em História da revolução russa: “A característica mais indubitável de uma revolução é a interferência direta das massas nos eventos históricos”. Mais adiante, ratificará esse raciocínio: “A história de uma revolução é para nós, antes de tudo, a história da entrada violenta das massas no domínio de decisão de seu próprio destino”. (tomo um, parte um, 2007:9). Ou seja: na conferência ele reforça um ponto de vista que já vinha sustentando em suas obras, notadamente as que se colocavam em uma perspectiva de apreciação histórica da revolução russa.

3 As experiências revolucionárias que se deram depois da 2ª Guerra Mundial foram dirigidas, em sua maior parte, não por partidos revolucionários, ao estilo do bolchevismo russo, mas por organizações populares e guerrilheiras, o que não impediu que se consumassem as revoluções, eliminado as velhas formas de poder e edificando outras em seu lugar. Os problemas foram de outra natureza: por exemplo, diferentemente da revolução russa que se burocratizou em seu curso, as revoluções vitoriosas do período pós-2ª guerra engendraram Estados burocráticos desde os seus alvores. É evidente que há outras questões que mereceriam um exame mais detido, mas não tencionamos fazê-lo neste texto.


FONTE: Convergência

domingo, 10 de maio de 2015

Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo


 José Levino*
No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um Exército Libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.

*José Levino é historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. Vassili Riábov, Edições Progresso, Moscou,1983.


FONTE: A Verdade

domingo, 3 de maio de 2015

Após eleições, Partido Comunista é a legenda que mais cresce no Japão


Redação – O Partido Comunista é, hoje, a segunda maior força política do Japão


Que as idéias de esquerda estão ganhando espaços eleitorais em diferentes países europeus não é novidade. A ascensão do Syriza na Grécia ou na Espanha é testemunha desta mudança política em direção a posições anti-capitalistas. No entanto, este desenvolvimento tem começado a extrapolar para fora da Europa. Especificamente, o Partido Comunista do Japão está rompendo as barreiras na preferência dos eleitores.

Esta formação política, que tem como objetivo “reunir trabalhadores e agricultores”, vem de um grande resultado nas eleições municipais que foram realizadas durante este fim de semana. O Partido Comunista Japonês bateu recordes de votos no plano nacional. O Partido liderado pelo camarada Kazuo Shii tornou-se o segundo maior na conservadora sociedade japonesa.

Nenhuma pesquisa previu o boom da esquerda entre o eleitorado. Esperava-se que o principal partido da oposição melhorasse seus resultados e reduzisse distâncias na formação do governo. Pesquisas recentes mostram que quase 50% dos japoneses preferem o comunismo e acreditam que o capitalismo leva à pobreza e à fome. Diante deste quadro, o Partido Comunista tornou-se o segundo no Japão, o que alarmou analistas e investidores.

Segundo a revista semanal de ultradireita The Economist, “nunca se imaginou que os comunistas japoneses poderiam chegar ao poder…”.

A principal proposta do PC do Japão e o ponto central de seu programa de governo é o desmembramento a economia de mercado. Outras propostas incluem o fim da aliança com os Estados Unidos, o fechamento das centrais nucleares e a aprovação de medidas fiscais confiscatórias contra empresas.

Apesar da relevância, a notícia ficou praticamente escondida nos principais meios de comunicação europeus, norte-americanos e brasileiros.

Os eleitores japoneses foram às urnas nas eleições locais com a menor abstenção já registrada e o Partido Liberal Democrático (LDP), o parceiro dominante na coalizão governista do Japão, chegou a uma vitória previsível, ganhando mais de metade das prefeitura. Mas o que surpreendeu mesmo foi o volume de votos no Partido Comunista Japonês (JCP), que agora emerge como a maior força de oposição do país.

O JCP conquistou 136 assentos, batendo o Partido Democrático do Japão (PDJ, de centro) – que governou o país há apenas cinco anos, ficando em quarto lugar, atrás do Komeito, parceiro de coligação do PLD. O resultado seguiu ganhos notáveis ​​feitos pelo JCP em uma eleição geral em dezembro, quando levou mais de 6 milhões de votos, trazendo à tona a sua quota de assentos parlamentares 8-21: do partido melhor que mostra em quase duas décadas.

Embora o Partido Comunista não tenha chegado perto de tomar o poder (o seu melhor desempenho eleitoral ainda foi em 1979, quando ganhou 39 assentos de um total de 511 no Congresso), segue agora como uma força relevante na política japonesa. O partido tem mais de 300 mil membros, incluindo 10 mil recrutados em 2014 (o LDP afirma em torno de 790 mil). Também publica um jornal mensal, Akahata (Bandeira Vermelha), que tem uma circulação diária de cerca de 1,2 milhão de exemplares.


Texto postado originalmente em:

http://correiodobrasil.com.br/destaque-do-dia/apos-eleicoes-partido-comunista-e-a-legenda-que-mais-cresce-no-japao/759562/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20150427


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Reforma ou Revolução, de Rosa Luxemburgo


Por  Alan Woods e Niklas Albin Svensson


Rosa Luxemburgo foi uma das mais importantes figuras da história do movimento internacional dos trabalhadores. Junto a Lênin e Trotsky ela foi um dos representantes mais destacados do Marxismo no século XX. Reforma ou Revolução foi um dos mais importantes de seus escritos iniciais. Escrito em 1899, este livro proporciona uma demolição devastadora das bases teóricas e práticas do reformismo. Foi completamente válido no momento em que foi escrito e permanece completamente válido hoje.


Parece surpreendente que ela só tivesse 28 anos de idade quando o escreveu. E este livro a colocou entre os principais líderes da esquerda da Socialdemocracia em termos internacionais, uma posição que ela iria ocupar até o seu assassinato em 1919. Continua sendo hoje um dos textos clássicos do Marxismo.

A Socialdemocracia alemã

Para se entender a importância desta obra é necessário explicar a evolução da Socialdemocracia alemã (como o movimento socialista era conhecido internacionalmente antes de 1914). O Partido Socialdemocrata Alemão (SPD) era de longe o maior e mais influente partido da 2ª Internacional (Internacional Socialista). Era considerado como o modelo de partido da Internacional. Emergiu com êxito do período de repressão dos anos 1880 (o período das Leis Antissocialistas) e em 1898 se tornou o partido mais popular da Alemanha.

Além disso, graças às suas ligações históricas com Marx e Engels, o SPD era considerado como o mais autêntico representante da “ortodoxia” Marxista na Internacional. Seus líderes gozavam de enorme autoridade aos olhos dos socialistas de todos os lugares. A trajetória de desenvolvimento do Partido Socialdemocrata Alemão, portanto, exercia enorme influência sobre o desenvolvimento do conjunto da Segunda Internacional e os Socialdemocratas de todo o mundo prestavam muita atenção ao desenvolvimento do Partido e às discussões dentro dele. Inclusive, os socialdemocratas russos que levantaram os olhos para o Partido Alemão.

No papel, tudo parecia em ordem. Na imprensa do Partido e nos discursos do dia do Trabalhador, os líderes alemães falavam em termos solenes sobre socialismo, luta de classes e internacionalismo. E se eles se apartavam da linha do socialismo e internacionalismo revolucionário, Karl Kautsky, o líder da Esquerda “oficial” do SPD alemão, seguramente os corrigiria. Até 1914, Lênin se considerou um “Kautskista” ortodoxo. Somente em 1914, Lênin entendeu o papel real de Kautsky como uma cobertura de “esquerda” para a burocracia reformista de direita do SPD.

No entanto, por trás desta impressionante fachada, nem tudo era o que parecia. Logo de início, Marx e Engels fizeram uma série de agudas críticas das tendências oportunistas dos líderes da Socialdemocracia Alemã, sua debilidade ideológica, sua tendência a sacrificar princípios por ganhos “práticos” de curto prazo e sua tendência ao compromisso. O ensaio Crítica ao Programa de Gotha é o exemplo mais conhecido da atitude crítica dos fundadores do socialismo científico, mas na correspondência de Marx e Engels encontramos críticas muito mais nítidas.

Na Alemanha, a rápida industrialização na segunda metade do século XIX tinha criado uma classe trabalhadora fresca e militante, sem a carga das tradições do anarquismo ou do sindicalismo inglês. A crise econômica dos anos 1870 deu um gigantesco impulso ao Partido Socialdemocrata. Bismarck tentou travar seu avanço através das Leis Antissocialistas em 1878, que baniu o Partido. Mas o Partido prosperou na existência semilegal. Depois que as Leis Antissocialistas expiraram em janeiro de 1890 (e Bismarck forçado a se demitir), o SPD conquistou 20% do voto popular nas eleições de fevereiro.

Contudo, o período de ilegalidade e semilegalidade não passou sem deixar alguns traços negativos. Um setor da liderança, especialmente os intelectuais e acadêmicos a quem Engels com desprezo assinalava como os “Socialistas de Gabinete”, utilizou as restrições causadas pelas leis para suavizar o programa socialista do Partido e ocultar seus objetivos por motivos de conveniência. De Londres, o idoso Engels criticou estes oportunistas sem cessar e pressionou Bebel e Kautsky a manter o Partido no caminho correto.

Essas diferenças permaneceram desconhecidas, ou então mal compreendidas, pelos membros do SPD, e isto era ainda mais verdadeiro para a esmagadora maioria dos socialistas em termos internacionais. É por isto que a traição dos líderes dos Socialdemocratas Alemães, em 1914, desferiu um golpe tão demolidor para o moral do movimento socialista internacional. O próprio Lênin foi pego de surpresa, enquanto Trotsky explicava em um artigo sobre o papel de Rosa Luxemburgo:

“A capitulação da socialdemocracia alemã em 4 de agosto de 1914 foi inteiramente inesperada por Lênin. Sabe-se que acreditou que o número de Vorwaerts, onde se publicou a declaração patriótica da fração socialdemocrata era uma falsificação do Estado-Maior alemão. Somente depois de ficar absolutamente convencido da horrível verdade, revisou sua caracterização das tendências fundamentais da socialdemocracia alemã, e o fez à maneira leninista, de uma vez e para sempre” (Trotsky, Tirem as Mãos de Rosa Luxemburgo!).

Rosa Luxemburgo entendeu o papel de Kautsky muito antes de Lênin, um fato que ele reconheceu em outubro de 1914, quando escreveu a Shlyapnikov:

“Odeio e desprezo Kautsky agora mais do que nunca, devido a sua hipocrisia vil, suja e satisfeita consigo mesma... Rosa Luxemburgo estava correta quando escreveu, há tempos, que Kautsky tem a subserviência de um ‘teórico’ – subserviência, na linguagem mais clara, subserviência à maioria do Partido, ao oportunismo”.

As ilusões anteriores de Lênin em Kautsky podem ser explicadas pelo fato de que na maior parte do tempo ele acompanhava o Partido alemão à distância. A razão por que Rosa foi capaz de não se deixar enganar por Kautsky e outros líderes do SPD (incluindo os “esquerdistas”) era que ela teve a experiência direta de suas atividades durante um longo tempo e pôde enxergar com mais clareza do que Lênin, o que o seu “Marxismo” representava na prática.

Degeneração reformista

A tragédia da Internacional Socialista foi que ela se formou em um período em que o capitalismo na Europa se encontrava no curso de uma ascensão colossal. A expansão econômica desse período que precedeu a Primeira Guerra Mundial é, em última análise, a explicação da degeneração nacional-reformista do SPD e de toda a Segunda Internacional. Esta expansão trouxe consigo uma melhoria da sorte de um setor das massas na Alemanha, Grã-Bretanha e Bélgica, incluindo concessões e reformas, e o consequente abrandamento das relações entre as classes. Ela condicionou a psicologia da camada dirigente dos partidos socialdemocratas e deu origem à ilusão de que o capitalismo estava no bom caminho para resolver suas contradições fundamentais. Foi a premissa social e econômica para o surgimento do revisionismo de Bernstein.

O rápido crescimento do poder e influência dos partidos dos trabalhadores e sindicatos também gerou uma nova casta de dirigentes sindicais, parlamentares, vereadores e burocratas partidários que, por suas condições de vida e perspectivas, se destacaram progressivamente das pessoas que eles supostamente representavam. Este estrato, razoavelmente próspero e acalentado pelo êxito aparente do capitalismo, proporcionou a base social do revisionismo, uma reação pequeno-burguesa à turbulência e estresse da luta de classes, um anseio de conforto e o desejo por uma transição pacífica e harmoniosa ao socialismo – em um obscuro e longínquo futuro.

O partido socialdemocrata alemão emergiu da ilegalidade com uns 100-150 mil membros e cresceu constantemente através dos anos 1890 tanto em filiações quanto em votos. O rápido crescimento do partido também trouxe novos problemas na forma de crescentes pressões da sociedade burguesa. Embora, em nível nacional, eles estivessem efetivamente excluídos de toda participação no governo, em nível estadual, particularmente no Sul, o partido foi convidado a apoiar os liberais no governo. Esta foi uma tentativa deliberada para fazer o SPD assumir responsabilidades pelo funcionamento da sociedade capitalista, para incorporar o partido no regime depois do fracasso da repressão.

Em 1905, o SPD tinha 385 mil membros e 27% do eleitorado. A imprensa do partido tinha um público enorme, com 90 jornais e revistas com uma circulação de 1,4 milhões de exemplares em 1913. O partido e sua imprensa tinha cerca de 3,5 mil liberados a tempo integral, aos quais devem ser adicionados mais de 3 mil funcionários sindicais. Toda organização tem seu lado conservador. Isto é particularmente verdadeiro para o aparato. A alma do aparato é a rotina: organizar reuniões, coletar fundos, vender jornais, administrar as finanças, a contabilidade e milhares de pequenas tarefas, absolutamente necessárias, mas que podem levar aos hábitos rotineiros. O mesmo é verdadeiro para o trabalho sindical. Este consiste em grande parte de uma série de tarefas mundanas. O crescimento do movimento dos trabalhadores na Alemanha, França, Grã-Bretanha e Bélgica inevitavelmente deu origem a poderosos aparatos burocráticos que, através de sua camada superior, refletia as pressões do capitalismo.

As tendências oportunistas dos dirigentes aumentaram continuamente nos anos anteriores a 1914. A burocracia reformista no SPD e nos sindicatos não estava interessada na teoria, mas somente na “prática política”. Os líderes do partido caíram sob a influência da ideia do gradualismo, a ideia de que vagarosamente, gradualmente, pacificamente o capitalismo seria reformado sem a penosa necessidade de uma revolução socialista: hoje seria melhor que ontem, amanhã seria melhor que hoje, até que, finalmente, em certo dia acordaríamos de manhã e nos encontraríamos vivendo no paraíso socialista. Esta consoladora ilusão, tão relaxante para o sistema nervoso, finalmente explodiu em pedaços pela Primeira Guerra Mundial.

O revisionismo de Bernstein

O revisionismo primeiro surgiu como uma tentativa de “criticar” as ideias de Marx e Engels, ou melhor para “atualizá-las”. Eduard Bernstein se converteu no teórico da tendência revisionista, que tem uma surpreendente semelhança com o chamado “Socialismo do Século XXI”, apregoado por Heinz Dietrich e outros atualmente. Essas pessoas sempre dizem ter algo completamente novo e original a dizer, mas nunca o fazem. Os defensores do “Socialismo do Século XXI” não dizem nada que não possamos encontrar muito melhor expressado por Bernstein e os Socialistas Utópicos.

Marx explicou que o ser social determina a consciência. Não é acidental que a tendência revisionista na Alemanha tenha crescido em meio ao boom dos anos 1890. Durante a crise de 1873-1882, a economia tinha crescido meros 3% no curso de uma década. O período de 1887 a 1896, em comparação, teve um crescimento de 36%. O boom semeou ilusões no capitalismo. Uma série de reformas e concessões mínimas no front industrial também deu a impressão de que através de um fortalecimento gradual das organizações da classe trabalhadora, uma melhoria gradual das condições da classe trabalhadora poderia ser alcançada.

Bernstein lançou seus golpes contra a “ortodoxia” em uma série de artigos publicados na revista teórica do Partido, Die Neue Zeit, entre 1896 e 1897. Embora estes artigos causassem indignação na ala esquerda do Partido, não houve nenhuma réplica séria e Kautsky, o “esquerdista”, que editava Neue Zeit, chegou a agradecer a Bernstein por sua “contribuição” ao debate. Em consequência, a ala direita ficou encorajada e uma tendência revisionista foi organizada em torno do jornal Sozialistische Monatshefte (lançado inicialmente em janeiro de 1897).

Como todos os revisionistas da história, Bernstein começou sua tentativa de “atualizar o Marxismo”, de “liberar” o Marxismo de Hegel (isto é, da dialética). Mas é impossível atacar um aspecto do Marxismo sem atacar ou distorcer todos os outros. No final, Bernstein rejeitou todos os principais pilares do Marxismo, não apenas a dialética como também a teoria do valor-trabalho, a teoria das crises, a revolução socialista etc. Seu objetivo era o de provar que as contradições entre as classes estavam diminuindo enquanto a classe média estava crescendo e que o crescimento do capitalismo não tinha nenhum limite: a crise do capitalismo pode reaparecer, mas não necessariamente tornar-se pior.

Entre outras coisas, Bernstein argumentava que a concentração da produção industrial estava ocorrendo a um ritmo muito mais lento do que havia sido previsto por Marx; o grande número de pequenos negócios mostrava a vitalidade da empresa privada (“pequeno é bonito”, como eles dizem atualmente!); em vez da polarização entre trabalhadores e capitalistas, a presença de um numeroso estrato intermediário significa que a sociedade é muito mais complexa (“as novas classes médias”); em lugar da “anarquia da produção”, o capitalismo era capaz de ser controlado, na medida em que as crises eram menos frequentes e menos severas (Keynesianismo e “capitalismo administrado”); e a classe trabalhadora, além de ser uma minoria na sociedade somente estava interessada na melhoria imediata de suas condições materiais de existência.

As teorias supostamente “modernas” dos atuais líderes trabalhistas são somente plágios desajeitados das noções de longe mais habilmente expressas por Bernstein há dezenas de anos. Segundo ele, o único objetivo do partido era o de lutar por reformas, uma posição que foi resumida em sua famosa (e essencialmente vazia) frase: “O objetivo, seja qual for, não é nada para mim, o movimento é tudo”. Respondendo a Bernstein, Rosa Luxemburgo explicou que suas teorias, se aceitas pelo partido, inevitavelmente levaria a um completo rompimento com o Marxismo:

“Se as diversas correntes do oportunismo prático são um fenômeno naturalíssimo, explicável pelas condições da nossa luta e pelo crescimento do nosso movimento, a teoria de Bernstein é, por outro lado, uma tentativa não menos natural para reunir essas correntes numa expressão teórica que lhe seja própria e entre em guerra com o socialismo científico”.

O oportunismo de Kautsky

A resposta da direção do partido ao ataque foi tímida, covarde e evasiva. Embora possam não ter concordado necessariamente com Bernstein, ficaram relutantes em se envolver numa batalha teórica, que, verdade seja dita, eles consideravam como uma irrelevância inútil, como a fada da árvore de Natal. Teriam preferido que toda a questão não existisse. Karl Kautsky não disse nada por um longo tempo. Na verdade, ele foi um dos que publicaram os artigos em primeiro lugar. August Bebel, o líder do partido, foi igualmente discreto.

Kautsky era geralmente considerado como o guardião por excelência da ortodoxia Marxista e como o principal teórico do partido, “o papa do Marxismo”. Mas o Marxismo de Kautsky tinha caráter abstrato, escolástico. Enquanto Plekhanov considerava Bernstein como um inimigo a ser atacado, desmascarado e, se necessário, expulso, Kautsky ainda via Bernstein como um companheiro equivocado, cujas excentricidades teóricas não deviam estragar um relacionamento agradável e amigável. A atitude de Kautsky é claramente revelada em uma carta que escreveu a Axelrod em 9 de março de 1898, parabenizando-o por seus artigos contra Bernstein nos seguintes termos:

“Estou mais interessado em sua opinião do Eddie [Bernstein]. De fato, temo que o estejamos perdendo... Contudo, ainda não o estou dando por perdido e tenho a esperança de que quando ele entrar em contato pessoal – mesmo que por escrito – conosco, então algo do velho lutador retornará ao nosso Hamlet (sic), e ele voltará a dirigir suas críticas ao inimigo e não contra nós”.

Uma pilha de réplicas apareceu na mesa de Kautsky, mas ele se recusou a publicá-las, alegando que era tudo um mal-entendido. Também foi a mesma a linha adotada por Vorwärts, o principal jornal do partido. Mas tanto Franz Mehring quanto Parvus escreveram artigos fortemente críticos contra Bernstein nos jornais que eles controlavam. Em termos internacionais, Plekhanov escreveu um artigo intitulado “Por que deveríamos agradecer-lhe?”, que não apenas submetia Bernstein a uma crítica muito aguda como também atacava Kautsky por não refutá-lo.

No congresso do partido, as coisas chegaram ao máximo, apesar da tentativa dos funcionários do partido de manter o assunto fora da agenda. Houve um conflito aberto entre os revisionistas e os esquerdistas, no qual Rosa Luxemburgo desempenhou papel proeminente. Na sessão dedicada à imprensa do partido, Klara Zetkin atacou Kautsky e Vorwärts por seu silêncio sobre Bernstein.

A intensificação do conflito forçou o Centro, ocupado por Bebel e Kautsky, a intervir. Bebel proclamou que “são totalmente falsas as táticas de roubar do partido o seu entusiasmo e sua disposição para fazer sacrifícios empurrando suas metas para um futuro indefinido”. Mas mesmo ao responder a Bernstein, estas palavras de Bebel revelavam seu filisteismo e debilidade teórica. Na verdade, estava objetando a Bernstein, não tanto por estar errado no que ele disse, mas por dizer coisas que ele sentia que podiam minar o moral do partido.

Ignaz Auer, em privado, censurou Bernstein aconselhando-o que “não se diz tais coisas; simplesmente se faz”. Esta observação resume admiravelmente o estreito filisteismo e a carência de princípios dos dirigentes do SPD. Eles se opuseram a Bernstein, não pelo que disse ou escreveu, mas porque o debate colocava uma ameaça à unidade do partido. “Por que causou tudo isto, irmão? Não há nenhuma necessidade de fornecer justificação teórica ao nosso oportunismo. Não há necessidade mesmo de se falar a respeito. Simplesmente faça!” E era exatamente isto o que os dirigentes do SPD estavam fazendo.

A direção partidária estava esperando abafar o problema. Eles tentaram suprimir a discussão e, em particular, ignorar os chamados para se tomar medidas contra os revisionistas. Em total contraste, Rosa Luxemburgo atacou a ala oportunista do partido por sua hostilidade à teoria:

“O que parece caracterizar esta prática acima de tudo? Uma certa hostilidade à ‘teoria’. Isto é muito natural, para nossa ‘teoria’, isto é, os princípios do socialismo científico, impor limites claramente marcados à atividade prática”.

Lênin abordou o mesmo ponto quando atacou os seguidores russos de Bernstein, a tendência dos chamados Economicistas, em Que Fazer?

“Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário. Esta ideia não pode persistir tão fortemente em um momento em que a pregação da moda do oportunismo vai de mãos dadas com a paixão pelas formas mais estreitas da atividade prática”.

Reforma ou revolução

No Verão de 1898, Rosa Luxemburgo preparou sua réplica, que apareceu no Leipziger Volkszeitung no Outono (antes do congresso do partido de Stuttgart). Para Rosa Luxemburgo isto não era apenas uma questão de derrotar Bernstein no voto (o que aconteceu mais de uma vez nos congressos do partido), mas de educar as fileiras do partido:

“É, portanto, do interesse das massas proletárias do partido saber, ativa e detalhadamente, com o conhecimento atual da teoria permanecendo um privilégio de um punhado de ‘acadêmicos’ no partido, que este último terá de enfrentar o risco de se extraviar. Somente quando a grande massa de trabalhadores tomar as armas penetrantes e confiáveis do socialismo científico em suas próprias mãos, poderão todas as inclinações pequeno-burguesas, todas as correntes oportunistas, fracassarem”.

Em Reforma ou Revolução, Rosa Luxemburgo proporcionou uma resposta política abrangente a Bernstein. Diferentemente de outras críticas dos críticos de Bernstein, Luxemburgo não tinha o objetivo de meramente defender o status quo. Ao atacar o reformismo de Bernstein, ela estava implicitamente desafiando a prática reformista existente dos dirigentes do SPD. Ela trabalhou incansavelmente até o seu assassinato para defender o Marxismo revolucionário e para educar suas fileiras na teoria revolucionária.

Hoje, quase um século depois de sua morte, o nome de Rosa Luxemburgo é uma fonte de inspiração para os socialistas de todo o mundo. Junto com Lênin, Trotsky, Karl Liebknecht e Connolly, ela defendeu a causa da revolução socialista e do internacionalismo proletário e morreu lutando por ela. É verdade que ela algumas vezes tenha cometido erros, mas mesmo seus erros sempre foram motivados por considerações revolucionárias. Depois de sua morte, Lênin, que tanto a admirava, a defendeu contra seus críticos “marxistas” citando um velho provérbio russo:

“Embora as águias possam voar tão baixo quanto as galinhas; as galinhas, com suas asas totalmente abertas, nunca planarão em meio às nuvens do céu”.

Aqueles que querem exagerar as diferenças entre Rosa Luxemburgo e Lênin muitas vezes citam suas críticas aos Bolcheviques em 1918, quando ela estava escrevendo de uma cela de prisão na Alemanha. Privada de informações precisas sobre a situação na Rússia, sua avaliação era unilateral e basicamente incorreta. No entanto, mesmo assim, esta é a forma como fala da insurreição de Outubro:

“Tudo o que um partido pode oferecer de coragem, perspicácia revolucionária e consistência em uma hora histórica, Lênin, Trotsky e os outros camaradas deram em boa medida. Toda a honra revolucionária e a capacidade de que carecia a socialdemocracia ocidental esteve representada pelos Bolcheviques. Sua insurreição de Outubro não foi somente a salvação real da Revolução Russa; foi também a salvação da honra do socialismo internacional”.

Hoje, as ideias de Reforma ou Revolução são tão corretas e relevantes como no dia em que foram escritas, e a jovem geração de lutadores da classe no México e internacionalmente buscam inspiração junto à grande revolucionária, lutadora e mártir da classe trabalhadora, Rosa Luxemburgo. Nas palavras do grande revolucionário León Trotsky:

“A crise da direção proletária não pode ser superada, naturalmente, por meio de uma fórmula abstrata. Trata-se de um processo extremamente prolongado. Mas não de um processo puramente ‘histórico’, isto é, das premissas objetivas da atividade consciente, mas de uma cadeia ininterrupta de medidas ideológicas, políticas e organizativas com o propósito de unir os melhores elementos, os mais conscientes, do proletariado mundial sob uma bandeira imaculada, elementos cujo número e confiança em si mesmos devem se fortalecer constantemente, cuja ligação a setores mais amplos do proletariado deve ser desenvolvida e aprofundada; em uma palavra, devolver ao proletariado, sob condições novas e sumamente difíceis e onerosas, sua direção histórica. Os tardios e confusos defensores da espontaneidade têm tanto direito a se referirem à Rosa quanto os burocratas miseráveis da Comintern a Lênin. Deixemos de lado as questões secundárias, superadas pelos acontecimentos e, com plena justificação, podemos colocar nosso trabalho pela Quarta Internacional sob o signo dos ‘três L’, não só sob o signo de Lênin, mas também de Luxemburgo e Liebknecht” (Luxemburgo e a Quarta Internacional)