José Levino*
No capitalismo, as guerras são fruto da
concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do
planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas
opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a
Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).
O sol
nasce vermelho
Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira
Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova
cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo
e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um
objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história,
em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito
que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis
anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita
seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam
de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam
o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um
pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e
Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição
formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para
concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e
Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS
assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que,
mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um
tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande
território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.
De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria,
Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia,
Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a
Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de
transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho,
tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.
Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou:
“…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los
principalmente à custa da Rússia”.A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em
massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte,
deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam
pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de
destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes”
(Hitler).
Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o
povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas,
tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se
integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia
popular, contando com dois milhões de combatentes.
Formou-se ainda na retaguarda uma força
guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo
e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra,
França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos
povos pela democracia.
Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação
da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a
resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado,
Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram
como muralha inexpugnável.
Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo
inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os
sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande
importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington,
para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por
terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.
Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram
uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os
invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil
canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores,
mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos.
Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000
tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra
77.000.
Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5
milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o
exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do
qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)
Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou
processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode
orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA,
Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e
destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no
conjunto”.
O final de 1943 marca a virada na frente soviética
e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e
se ampliou em todo o planeta.
Em junho de 1944, com o exército alemão batido em
todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da
França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o
início da invasão.
Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava
decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil,
primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no
discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu
dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as
enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas
perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.
Um
Exército Libertador
Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho
avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os
nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os
ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram
instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia,
Checoslováquia, Romênia e Bulgária
“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército
libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida,
produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram,
não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo
soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência
médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia
elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de
capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando
no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato
em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos
denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até
hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.
Sob novos
céus
Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se
para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China,
na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra
virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas
e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam
navios soviéticos em alto-mar.
No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética
declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o
primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na
guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna
impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército
nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil
prisioneiros.
Ao contrário do que muitos pensam, e a
historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses
lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a
capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e
covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas
soviéticas.
Se alguém duvida, leia o testemunho do general
Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra
contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que
sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo
Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de
joelhos”.
O Exército Vermelho contribuiu ainda para a
expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi
inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi
também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a
Europa Oriental e na China.
Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada
pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “…
Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como
libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O
céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de
liberdade e felicidade…”.
*José
Levino é historiador
Fonte de
pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. Vassili Riábov,
Edições Progresso, Moscou,1983.
FONTE: A Verdade
FONTE: A Verdade
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