Por Max Altman
Em 15 de abril de 1920, o caixa-pagador Frederick Parmenter e o vigilante Alessandro Berardelli, funcionários da firma de calçados Slater-Morrill Show Company, em South Braintree, Massachusetts, foram assassinados. Os assaltantes levaram 15.776,51 dólares.
Na época, as suspeitas recaíram sobre Ferdinando Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, que foram presos em Buffalo, Nova York em 5 de maio de 1920. Sacco e Vanzetti eram imigrantes italianos anarquistas. Foram julgados, sentenciados e executados na cadeira elétrica em 23 de agosto de 1927 por roubo a mão armada e assassinato. Em torno do crime, que a princípio não teria nada de extraordinário, criou-se um dos mais rumorosos julgamentos da história e um marco na cena forense criminal.
Tanto Parmenter quanto Berardelli foram alvejados várias vezes ao tentar proteger as caixas registradoras da firma de calçados. Os dois assaltantes, armados com armas de fogo e identificados por testemunhas como tendo “feições italianas”, fugiram num Buick. Dias depois o carro foi encontrado abandonado num matagal próximo. Através das marcas deixadas no veículo a polícia suspeitou que um homem chamado Mike Boda estaria envolvido. No entanto, Boda conseguiu fugir para a Itália.
Foram capturado então amigos de Boda e a própria polícia informou que Sacco, no momento da prisão, portava um revólver calibre 32 carregado – do mesmo modelo usado para matar os dois empregados – e projéteis do mesmo fabricante dos recolhidos na cena do crime. Vanzetti, suspeito de ter tentado assaltar outra empresa, foi preso.
Anarquismo
Sacco e Vanzetti eram anarquistas. Acreditavam que a justiça social só se implantaria com a destruição dos governos. No começo dos anos 1920, o medo do comunismo e de soluções políticas radicais, com a recente vitória dos bolcheviques na Rússia, dominava o ambiente nos Estados Unidos, o que resultou numa verdadeira histeria anticomunista e anti-imigrante.
Os dois rapazes, percebendo que teriam pela frente uma difícil batalha jurídica, optaram por trazer esse medo a seu favor, angariando simpatia e apoio dos setores de esquerda e liberais. Dezenas de milhares de dólares foram arrecadados em todo o mundo para pagar os custos da defesa. Manifestações eclodiram em todo o mundo a favor dos acusados. A embaixada norte-americana em Paris sofreu um atentado a bomba e na embaixada em Lisboa, uma segunda bomba foi interceptada.
Uma defesa bem fundamentada acirrou a disputa judicial. Cerca de 100 testemunhas prestaram depoimento ante o tribunal do júri em favor dos réus. As afirmações das testemunhas oculares que indicavam os anarquistas como autores do crime acabaram não tendo papel crucial. Foram os testes balísticos que prevaleceram. Peritos da promotoria, valendo-se de instrumentos primitivos, garantiram que a arma apreendida com Sacco era a do crime. Os advogados de defesa defendiam exatamente o oposto trazendo ao júri provas do alegado. Por fim, em 14 de julho de 1921, Sacco e Vanzetti foram julgados culpados e condenados à pena capital.
Contudo, a questão da balística permanecia em discussão enquanto Sacco e Vanzetti aguardavam no “corredor da morte”. Em 1927, o governador de Massachusetts, A. T. Fuller, ordenou a abertura de outra investigação para aconselhá-lo diante do dramático pedido de clemência dos dois anarquistas. No meio tempo, avanços científicos notáveis aconteceram no campo da perícia criminal. A comparação microscópica passou a estar disponível para novos testes balísticos provando que a arma de Sacco era sem dúvida a arma do crime. Os defensores insistiam que a arma que a polícia dizia ter encontrado com Sacco não era a arma que Sacco portava.
Sacco e Vanzetti foram executados em 23 agosto de 1927, ambos declarando inocência em suas derradeiras manifestações. Em outubro de 1961 e de novo em março de 1983 novas investigações foram realizadas e, passados dezenas de anos, as conclusões não foram outras se não confirmar que foi o revólver de Sacco que disparou as balas que mataram os dois trabalhadores. Em 23 de agosto de 1977, ao se completar 50 anos da execução, o governador de Massachusetts, Michael Dukakis, emitiu uma proclamação afirmando que Sacco e Vanzetti não receberam um julgamento justo.
FONTE: Opera Mundi
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