Por Aluizio Moreira
Quadro de Diego Rivera |
As divergências no movimento operário e socialista internacional, acirradas com a 1ª Guerra Mundial, apontavam para o fim da II Internacional. Lênin e os bolcheviques já o admitiam, imediatamente após o encerramento das suas atividades, quando propuseram, sem resultado, a criação de uma outra Internacional, livre dos erros e da degenerescência da maioria dos Partidos Sociais-Democratas, que compunham a II Internacional.
Após a desorientação e a desorganização inicial causada pela falência daquela Internacional, o Movimento de Zimmerwald surgia como uma possibilidade da formação de uma entidade internacional socialista de novo tipo, depurada das ideologias social-patrióticas e centristas. Mas a tendência majoritária que se apresentava, era mais para fazer ressuscitar a velha Internacional do que criar uma nova.
Os bolcheviques, Lênin à frente, e a esquerda internacionalista revolucionária, lutaram no seio do movimento de Zimmerwald, para dar outra orientação àquela possibilidade que se abria com a retomada das Conferências Socialistas Internacionais. Mas já na Conferência de Kienthal de 1916, o grupo de esquerda (bolcheviques. internacionalistas revolucionários e socialistas de esquerda) punha em dúvida a vantagem de permanecer no “Grupo de Zimmerwald”.
Por ocasião da convocação da Conferência de Estocolmo em 1917, os bolcheviques chegaram a discutir a possibilidade de não participarem do encontro, ou mesmo de se fazerem presentes, mas com o fim apenas de informação. O fiasco da Conferência de Estocolmo amadureceram ainda mais as convicções de Lênin e bolcheviques russos.
As condições objetivas e subjetivas estavam evidenciadas: pela consolidação da Revolução bolchevique russa, iniciada em outubro de 1917; pelas contradições do imperialismo com a divisão do mundo em dois sistemas (socialista e capitalista), diemetralmente antagônicas entre si; pela ascensão dos movimentos de libertação nacional nos países africanos e asiáticos; pela intensificação das lutas de classes tanto nos países que saíram vencedores como nos vencidos naquele primeiro conflito mundial.
Nos países dependentes da América Latina, operários, camponeses, pequena burguesia urbana, intelectuais e estudantes se mobilizaram contra a dominação estrangeira, a pobreza, a carestia, na defesa da reforma agrária, da jornada de oito horas de trabalho, na proteção do trabalho feminino e infantil, da liberdade de associação sindical.
Paralelamente a tudo isso, cresciam as organizações operárias em todo mundo, como acelerou-se o processo de formação de partidos e grupos comunistas, não mais “social-democratas”, mas "comunistas".
Surge a III Internacional
Em janeiro de 1919, realizou-se em Moscou, a 1ª reunião preparatória da Internacional Comunista, à qual compareceram representantes bolcheviques, socialistas revolucionários de esquerdas e sociais-democratas de esquerda da Suécia, Noruega, Inglaterra e América do Norte, além de internacionalistas poloneses, romenos, tchecos e croatas. Nessa reunião decidiu-se convocar uma Conferência de esquerda, sob as seguintes condições:
1) dos partidos e organizações empreenderem a luta contra seus governos e pela paz;
2) apoiarem a Revolução Bolchevique e o Poder Soviético sob ameaça constante das forças imperialistas.
Nessa reunião foi aprovada por unanimidade a proposta de V. Lênin de convocar "em breve" o Congresso constituinte da III Internacional.
Em fevereiro daquele mesmo ano, os socialistas e sociais-democratas resolveram convocar um Congresso em Berna com o objetivo de ressuscitar a II Internacional.
Diante dessa possibilidade, bolcheviques, sociais-democratas de esquerda e socialistas revolucionários, resolveram marcar uma reunião em Moscou para o dia 1º de março daquele mesmo ano, preparatória para examinar os problemas da inauguração, constituição e ordem dos trabalhos do Congresso da Internacional Comunista. Por sugestão de H. Eberlein, representante do Partido Comunista da Alemanha, foi aprovada sua proposta de iniciar o Congresso como uma Conferência Comunista Internacional, que cuidaria, entre outras coisas de elaborar um Programa, ele os membros dirigentes, e dirigir aos chamados partidos "irmãos" um pedido de adesão à criação da nova Internacional.
Momento da abertura do I Congresso da I.C. |
radicalmente diferente da configuração das duas organizações que a precederam; não seria nem um órgão coordenador de um grupo de sociedade esparsa, nem uma federação descentralizada de partidos nacionais; seria um único Partido, Comunista Internacional, com seções nacionais estreitamente integradas.
Compareceram à Conferência 52 delegados representando 35 organizações de 21 países da Europa, América e Ásia. Estavam representados os partidos e grupos comunistas e socialistas de esquerda da Alemanha, Áustria, Bulgária, Tchecoslováquia, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Hungria, Noruega, Polônia, Reinos balcânicos (sérvios, croatas e eslovenos), Romênia, Rússia Soviética, Suécia, Suíça, Estados Unidos, China, Irão e Turquia.
No dia seguinte discutiu-se o projeto de Programa, cujo texto, após emendas e correções, foi aprovado com a abstenção do representante do Partido Operário da Noruega.
No dia 4 de março, pela manhã, Lênin apresentou suas Teses e Relatório desenvolvendo suas idéias contidas nas obras "O Estado e a Revolução" e "A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky". A tarde do mesmo dia voltou-se a discutir a possibilidade ou não de se instituir de imediato a Internacional Comunista. Com exceção de H. Eberlein, todos votaram pela proposta de se transformar aquela Conferência em Congresso da I.C.
Assim, a partir do dia 4 de março, a Conferência Comunista Internacional trabalhou como I Congresso da Terceira Internacional, criando-se o Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC) como órgão dirigente integrado por representantes dos comunistas da Rússia Soviética, Alemanha, Áustria, Hungria, Suíça, Escandinávia e Federação Social-Democrata Revolucionária dos Balcãs, tendo sido nomeado G. Zinoviev, do Partido Comunista Bolchevique Russo, seu presidente. Criou-se ainda um Bureau, composto por 5 pessoas, para realizar os trabalhos organizativos da III Internacional.
Ao longo dos seus 24 anos de existência, a Terceira Internacional promoveu 7 Congressos: 1919 (o de fundação), 1920, 1921, 1922, 1924, 1928 e 1935.
Desses Congressos, V. I. Lênin participou decisivamente dos 4 Primeiros, apresentando as seguintes Teses e Relatórios:
"Teses e Relatório Sobre a Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado" (apresentadas ao I Congresso, 1919)
"Esboço Inicial das Teses Sobre as Questões Nacional e Colonial" e "Relatório Sobre a Situação Internacional e as Tarefas Fundamentais da Internacional Comunista" (apresentado ao II Congresso, 1920)
"Teses do Relatório Sobre a Tática do PCR" (apresentadas ao III Congresso, 1921)
"Cinco Anos da Revolução Russa e Perspectivas da Revolução Mundial" (Relatório apresentado ao IV Congresso, 1922)
Durante a realização do II Congresso em 1920, foi amplamente discutido um documento que estabelecia as 21 condições para filiação de um partido na I.C (1).- Entre essas condições salientamos:
•reconhecimento da ditadura do proletariado e luta sistemática e conseqüente para estabelecê-la
•rompimento completo com os “reformistas” e “centristas” e sua expulsão do Partido
•combinação dos métodos legais e ilegais de luta
•trabalho sistemático no campo, no exército, nos sindicatos reformistas e nos parlamentos burgueses
•os partidos deveriam chamar-se Comunistas e estruturar-se segundo o principio do centralismo democrático
•todas as Resoluções dos Congressos e do Comitê Excutivo da I.C. deveriam ser de conhecimento obrigatório dos partidos filiados à Internacional.
No IV Congresso desculpando-se por não estar em "condições de apresentar um grande relatório", devido à sua "longa doença", Lènin (2) retomou suas idéias acerca do "Capitalismo de Estado", por ele esboçada num artigo escrito em 1918 (Trata-se do artigo "Acerca do Infantilismo ‘de Esquerda’ e do Espírito Pequeno-Burguês", que não deve ser confundido com sua obra "A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo", escrita em 1920), considerando-as "extremamente importante" para os destinos da Rússia Soviética.
No dia 13 de maio de 1943, numa reunião do Presidium do Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC) da qual participaram Georgi Dimitrov, Dimitri Manuilski, Wilhelm Pieck, Maurice Thorez, Andre Marty, Johann Koplenig e Vasil Kolarov, membros do Presidium; Dolores Ibárruri, Matias Rakosi, Walter Ulbricht, Jean Sverma e Friedrich Wolf, membros efetivos e suplentes do CEIC; Anna Pauker (PC Romeno), Vlasov (PC da Iugoslávia) e I. Lehtinin (PC da Finlândia), foi dissolvida a Terceira Internacional.
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(1) O Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em março de 1922 encaminhou seu pedido de adesão à Internacional Comunista em novembro/dezembro do mesmo ano, por intermédio do militante Antonio Bernardo Canelas que na época se encontrava em Paris. Aceito de inicio do partido simpatizante, só foi integrado como membro da Seção da Internacional, no V Congresso realizado em 1925.
(2) Em maio de 1922, Lênin sofre o primeiro ataque de hemorragia cerebral com a paralisia do lado direito do corpo e dificuldade de fala. Em outubro voltou a trabalhar novamente. Em 9 de março de 1923 teve um novo ataque, desta vez mais violento, sobrevivendo inválido por oito meses, falecendo em 24 de janeiro de 1924.
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