Por Waldemar Rossi (*)
São dezenove anos de ensaios estimulando as novas gerações a ocuparem as ruas e cidades deste imenso país injusto, desigual e excludente. Essa tem sido a trajetória do Grito dos Excluídos no Brasil. Grito que, pelo seu impacto inicial, adquiriu extensão latino-americana.
Como toda semeadura, que espera seu tempo certo para germinar, assim é o movimento social: lançadas as ideias e dados, os primeiros passos rumo aos objetivos traçados, leva tempo para que a semente encontre, além do terreno propício, o momento de seu amadurecimento, vingue e aflore ao rés do chão. Se bem cultivada, crescerá e dará bons frutos, “cem por um”.
O Grito dos Excluídos foi a semente lançada pelos movimentos sociais, em parceria com o setor social da CNBB, no ano de 1955. Teve seus momentos mais fortes nos primeiros anos, com muito boa participação popular em Aparecida, logo depois em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre. Tendo sido cultivado com muito carinho, foi ganhando espaços pelas inúmeras cidades brasileiras, contribuindo para o despertar do senso crítico das novas gerações.
Hoje, caminha lado a lado com os setores da juventude que amadureceram, ganharam conhecimento dos desmandos cometidos pelos governantes e os demais poderes podres deste país, descobriram que o país não é dos políticos e sim do povo, ousaram e ousam assumir seu protagonismo, exigindo mudanças radicais das estruturas políticas, econômicas e sociais deste país.
Nem a violência institucionalizada, e aprofundada a partir da ditadura militar dos anos 1964 a 85, conseguiu criar barreiras à avalanche juvenil que, determinada a dar um “basta!” aos crimes do colarinho branco, ocupou as ruas das grandes cidades do Brasil.
Apesar dos esforços em contrário, a mídia corrompida se viu forçada a reconhecer e divulgar o vigor de uma juventude determinada a dar o seu grito. E o grito, sem os tradicionais microfones e alto-falantes, ecoou pelo Brasil afora e repercutiu no mundo inteiro, sacudiu as estruturas do poder.
Coincidentemente, o lema do grito deste ano, que estava voltado para a Jornada Mundial da Juventude, ocorrida na cidade do Rio, encontrou eco nessas contagiantes manifestações populares: “Juventude que ousa lutar constrói o projeto popular”. Ocupar os espaços é o primeiro passo para mudar radicalmente a realidade e isto as novas gerações estão almejando. É bem este o lema do 19º Grito Nacional e 17º Grito da cidade de São Paulo.
Suas palavras de ordem, suas exigências ressoam e se aliam às inúmeras reivindicações que afloraram durante os vários dias das manifestações das novas gerações: emprego/trabalho para os 3,7 milhões de jovens desempregados; salários que respondam às necessidades vitais das famílias dos trabalhadores; moradia para os milhões que dela carecem; terra para os que pretendem plantar e colher e repassar internamente para combater a fome que invade milhões de lares brasileiros; serviço público de saúde que previna e cure doenças, que invista na pesquisa científica; estrutura de educação pública e requalificação constante de professores, assim como remuneração adequada à dedicação integral na sua nobre tarefa de educar e preparar nossa infância e juventude para revolucionar este país desigual.
Outra importante exigência do nosso povo, e que ressurge com força neste ano de 2013, é a ampliação dos direitos sociais, e não sua criminosa redução, como vêm exigindo os detentores do capital nacional e internacional.
Outro destaque é para a urgente mudança na concepção e estrutura das polícias brasileiras, que foram militarizadas pela ditadura militar e desvirtuadas de sua função de garantir os direitos do povo, direitos de todos, para se colocar a serviço dos interesses do capital espoliador, gerador de miséria e de escravidão.
O lema do Grito dos Excluídos “Juventude que ousa lutar constrói o poder popular” nos remete à importante tarefa de, pelas experiências e práticas de ocupação dos espaços, ir amadurecendo as ideias básicas para a elaboração de um projeto popular. Projeto que, de fato, venha – com o tempo devido – revolucionar o país, construir uma nova forma de governo, sob controle popular, que substitua o Estado burguês apodrecido e excludente, principal gerador do estado de violência reinante, que banaliza e destroi a vida. Que, nesse processo crescente de experiências, gere as bases sólidas para a construção de outra sociedade, onde a justiça, a solidariedade entre todos e a distribuição de renda prevaleçam definitivamente sobre os criminosos interesses do sistema capitalista.
(*) Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
FONTE: Correio da Cidadania
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