sexta-feira, 24 de agosto de 2012

MÜNZER, Thomas


Filho único de  família pobre,  nasceu em Stolberg, na montanha do Hartz,em 1498 (?). tendo estudado Teologia em Leipzig (1506) e em Francfort.

Por volta de 1513 viveu  como professor em Halle, fundando nesta cidade uma liga secreta contra o Arcebispo de Magdeburg, o que o obrigou a transferir-se em 1517 para Braunschweig, retornando ao magistério, de onde acabou sendo transferido  novamente.

No ano de 1519 teve contato com Lutero em Leipzig. Convidado e recomendado por Lutero, trabalhou como  capelão em  Zwickau, aderindo às ideias  reformistas (1), que na época se expandia pela Europa.

Munzer (ou Muntzer) tornou-se pregador e como pregador evangélico, atuou  entre os tecelões desta cidade.

Por essa época presenciou  as manifestações dos anabatistas  (2) que entraram em conflito com as autoridades políticas e religiosas da cidade.

O Conselho de Zwickau  passou a reprimir os anabatistas, e embora Münzer não se identificasse com eles, defendeu o direito  dos anabatistas  se  manifestarem, o que o obrigou a abandonar a cidade em fins de 1521 por pressão do Conselho.

A partir de seus contatos com o movimento anabatista, que na época pregava o chamado “comunismo bíblico”, Thomas Münzer se afastou de Lutero e passou  a defender uma reforma profunda da sociedade sob base místico-comunista.

Estabeleceu-se em Praga, aproximou-se do movimento  hussita (3) tendo sido forçado a fugir, chegando em 1522 em Altstadt.  Aí, ainda como teólogo, suprimiu o uso do latim na Bíblia, antes  mesmo que Lutero o fizesse.
  
Passou a atacar violentamente o clero, os princípios do catolicismo e do cristianismo em geral, aderindo ao panteísmo. Negava o caráter divino e místico de Cristo, pois considerava–o homem como  os demais.

Para Münzer, céu e inferno não existiam e o Reino de Deus não estava estabelecido no céu, mas  na terra, onde  não havia diferenças de classe, nem propriedade privada, nem “poder estatal independente e alheio aos  membros” da sociedade. Nesse Reino terreno, todos os bens pertenceriam  a toda sociedade de forma  igualitária.

Obrigado a abandonar o lugar de capelão em Zwickau, após os litígios que teve com o deão Wildenauer, percorreu algumas cidades alemães como Boêmia, Nordhausen.

Chegou a organizar e liderar sublevações de camponeses, criando uma associação secreta contra os inimigos do Evangelho.

Nas cidades de Mulhausen e Nuremberg, manteve contato com os anabatistas e camponeses, pregando a reforma agrária, a igualdade entre os homens e condenando o luxo e a riqueza. 

Por onde passava, Münzer dedicava-se à agitação política, proferindo sermões em ruas e mercados desta cidade, nos quais atacava os príncipes, os senhores feudais e os ricos.

Na região da Turígia,  se pôs á frente de um movimento camponês revolucionário que paralelamente com o movimento anabatista se expandiu a partir de 1524, atingindo seu auge em 1525 por grande parte da Alemanha.

Nesse mesmo ano  iniciou-se uma contra-ofensiva da classe dominante contra aqueles movimentos, resultando  inúmeras prisões e  decapitações de milhares de camponeses e lideranças do movimento anabatista. O próprio Münzer foi preso, submetido a torturas e a seguir decapitado em maio de 1525.

Seus únicos escritos foram panfletos e sermões dirigidos à massa camponesa, sempre no sentido de alertá-la para as injustiças sociais da sociedade da época, e na defesa da instituição de uma sociedade comunista nos moldes do cristianismo primitivo


Notas:

(1)Durante a Idade Média, a partir do século XII, ocorreram vários movimentos de contestação à hegemonia ideologica e política da Igreja Católica. Esses movimentos são considerados pelos  historiadores como movimentos reformistas (Lutero, Zwinglio, Calvino) ou heréticos (anabatista, hussita, cátaros, valdense). Os primeiros se revelaram conservadores, no entanto, nem todos movimentos heréticos defendiam a volta ao   “cristianismo primitivo” ou idéias “místico-comunistas”. 

(2)Anabatista (re-batizadores) movimento religioso herético surgido na Suíça  no século XVI, considerado o mais radical e por esse motivo, o mais perseguido movimento reformista  durante a Idade Média.

(3)Movimento ocorrido na antiga Boêmia (Tchecoslovaquia), liderado por Jan Hus (João Hus), pregador religioso que se insurgira contra a Igreja Católica durante a Idade Média.



(Dados compilados por Aluizio Moreira)

Fontes:
Arquivo Marxista na Internet
BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais.São Paulo:Expressão Popular,2006.
BLOCH, Ernst. Thomas Munzer, teologo da revolução. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1973.
BRAVO, Gian Mario. Historia do socialismo. Lisboa:Europa-America, 1977, 3 vols.
COLE, G.D.H. Historia del pensamiento socialista.Mexico:Fondo de Cultura, 1957-1960, 7 vols.
DROZ, Jacques (Dir). Historia geral do socialismo. Lisboa: Horizonte, 1972-1977, 9 vols.
ENGELS, Friedrich. As guerras camponesas na Alemanha. São Paulo: Grijalbo, 1977.
HOFMANN, Werner. A historia do pensamento do movimento social dos séculos 19 e 20. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1984.
PETITFILS, Jean-Christian. Os socialistas utópicos. São Paulo: Circulo do Livro, s/d.

Um governo a serviço do grande capital:


Pacote da privataria petista é o “kit felicidade” do empresariado



(Nota Política do PCB)

A Comissão Política Nacional do PCB avalia que o recente pacote econômico anunciado pelo governo, envolvendo recursos no valor de R$ 133 bilhões para obras de infraestrutura da malha ferroviária e rodoviária, consolida e aprofunda a opção do governo do PT pelo grande capital e amplia de maneira acelerada o processo de privatização da economia brasileira, sob os disfarçados nomes “concessões”, “parceria público-privada”.

Esse pacote é apenas a primeira etapa do chamado Programa de Investimento em Logística, que ainda vai abranger os setores de energia, portos e aeroportos e vem consolidar a linha iniciada com a privatização dos três principais aeroportos do País e de uma rodovia que liga o Rio de Janeiro ao Espírito Santo.

Esta medida representa o escancaramento de uma linha política muito semelhante à do governo Fernando Henrique Cardoso, de entregar o patrimônio público para a iniciativa privada; tanto que o próprio PSDB publicou matéria paga nos jornais cumprimentando a presidente Dilma pelo novo programa de privatizações. Além disso, todo o empresariado comemorou o pacote e fez coro em elogios à presidente, chegando ao ponto de Eike Batista, o empresário mais rico do País, ter definido o pacote como o “kit felicidade” para o empresariado.

O chamado choque de capitalismo - um volume colossal de concessões à iniciativa privada, como bem definiu a revista reacionária Veja - vai privatizar 7,5 mil quilômetros de rodovias, muito mais que todas as concessões do governo passado, que atingiram pouco mais de 5 mil quilômetros, e ainda 10 mil quilômetros de ferrovias. Como informa orgulhosamente o jornal O Globo, porta-voz dos interesses do grande capital, o Brasil, com 23,4 mil km de rodovias com pedágio, passa a ser recordista mundial dessa forma de privatização, à frente até de Alemanha e Estados Unidos.

Para facilitar ainda mais a vida do empresariado, o governo se encarregou de garantir a compra de toda a capacidade de transporte de carga das novas empresas concessionárias, o que significa que esses empresários não correrão qualquer risco de prejuízo em caso de baixa demanda por transporte de carga.

Além disso, ainda dentro do pacote de bondades ao empresariado, ficou acertado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará cerca de 80% dos projetos de privatização, num processo também semelhante ao do governo FHC. É o dinheiro público, mais uma vez, financiando os investidores privados. E, para que não se tenha dúvida dos objetivos do governo, este ainda vai conceder incentivos (renúncias fiscais) aos consórcios vencedores das privatizações das rodovias e ferrovias e divulgar nas próximas semanas novas medidas privatizantes na área de portos e aeroportos.

O governo, anuncia com alegria a imprensa burguesa, também concederá "incentivo" adicional aos vencedores das concessões: a desoneração da folha salarial nos setores de transporte aéreo e de carga, navegação de cabotagem, transporte marítimo, navegação de apoio marítimo e portuário, e manutenção e reparação de aeronaves, motores e componentes (renúncia de cerca de R$ 900 milhões). Ganha a burguesia e perdem os trabalhadores, pois estes setores deixam de contribuir com 20% da folha de pagamentos à Previdência Social, e passam a recolher uma alíquota de 1% ou 2% sobre o faturamento bruto.

Trata-se, portanto, da consolidação de um modelo radical de construção de um estado máximo para o grande capital e mínimo para os trabalhadores. Não é essa a essência do que se chama de neoliberalismo? Mais uma vez fica demonstrado o caráter de classe do governo Dilma: enquanto nega reajuste de salários aos 400 mil funcionários públicos e professores universitários em greve e endurece as negociações com os trabalhadores, abre os cofres do governo, via BNDES, para os empresários adquirirem o próprio patrimônio público. O mais vergonhoso é que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais pelegas, que deveriam estar ao lado dos trabalhadores grevistas, avaliaram as medidas privatizantes como positivas e deram seu aval às privatizações, o que demonstra a completa degeneração tanto do sindicalismo chapa branca quanto do sindicalismo pelego no Brasil.

Não precisamos esperar que os vencedores das concessões sejam anunciados para saber, a priori, que, além das empreiteiras e dos novos ricos escolhidos pelo governo,  os fundos de pensão ligados ao sindicalismo oficial e pelego (como Previ, Petros e Funcef) estarão entre os principais beneficiários da decisão do governo. Mais uma vez, o "PT Patrão" estará representado nos conselhos de administração das grandes empresas que serão criadas, em novos setores estratégicos da economia brasileira.

Com esse pacote de privatizações, o governo do Partido dos Trabalhadores (e seus aliados à esquerda e à direita) tira a mascara definitivamente e sepulta as ilusões dos ingênuos e daqueles que ainda acreditavam que esse governo possuía alguma dimensão popular. Além disso, confirma as avaliações que o PCB vem fazendo a respeito do PT desde 2005, quando rompemos com o governo e passamos a ter uma posição independente, mesmo com a incompreensão de vários setores da esquerda. Afinal, o critério para avaliar um governo é a sua relação com os interesses dos trabalhadores. E, nesse caso, essa é uma administração que governa essencialmente para o capital, que articula e financia seus negócios, e dá apenas migalhas para os trabalhadores, de quem ainda quer retirar o pouco que têm, com a proposta de flexibilização para baixo de direitos trabalhistas, que em breve enviará ao Congresso Nacional.

PCB – Partido Comunista Brasileiro

Comissão Política Nacional – agosto de 2012