sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O que foi a “Conspiração dos Iguais”?



Por Aluizio Moreira


O socialismo pode ser considerado de duas maneiras bastante definidas, se bem que complementares, mas que têm consequências fundamentais: trata-se do “socialismo teórico” e do “socialismo prático”. 

No primeiro caso, o termo é tratado como desenvolvimento do pensamento, das idéias de pensadores isolados, defensores da conquista da felicidade entre os homens indistintamente, críticos da desigualdade entre as pessoas, da pobreza das grandes massas. Admitiam que essas conquistas seriam frutos da moralidade, da educação, da universalização de uma suposta consciência moral, do aprimoramento politico que regulassem a vida em sociedade sem conflito, entre uma minoria proprietária que se apropriavam de todos os bens e riquezas, e uma maioria despossuída desses “direitos”. 

No outro caso, se entende o socialismo como movimento prático de “assalto ao poder”, que criasse as condições objetivas de instauração de uma sociedade verdadeiramente igualitária, sem ricos e pobre, sem proprietários e não-proprietários.

Historicamente a linha divisória entre as duas vertentes do socialismo, encontra-se na Revolução Francesa de 1789. Explica-se.

1789 trouxe muitas esperanças para a população francesa. A esquerda radical (jacobinos) e a moderada, acenaram com bandeiras que prometiam verdadeiras mudanças para os homens do campo e da cidade. Logo após a tomada da Bastilha, a proclamada Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, como primeira preocupação dos revolucionários, surgia a “questão social” não mais como uma questão moral, produto da cabeça de um grupo de intelectuais reformadores, mas como uma prática que viabilizaria o equacionamento dos conflitos entre proprietários e não proprietários, entre os pobres e os ricos. 

A hegemonia politica da alta burguesia no poder direcionou a Revolução contra a nobreza feudal, limitando o poder do clero e da nobreza, estabelecendo o controle da Igreja pelo Estado, e confiscando os bens pertencentes a classe dominante do Antigo Regime, mas desconhecendo as reivindicações das grandes massas. Esse período de dominação da alta burguesia cobriu o período de 1789 a 1792, no qual se proclamou a República burguesa.

Em 1793 a fração da esquerda jacobina assume progressivamente o controle da Convenção, estabelecendo o período do Terror que durou de 1793 a 1794. Em 1795 a burguesia retoma o poder dos jacobinos, instituindo  a fase do Diretório, que se prolongaria até o ano de 1799, que culmina com a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder.

É exatamente em 1796, um ano após a volta do domínio da burguesia com a instituição do Diretório, que um grupo de seguidores (entre eles Buonarroti, Germain, Darthé) congregados na Societé des Égaux. Juntamente com remanescentes jacobinos, o movimento liderado por Graccus Babeuf, inicia um trabalho de mobilização popular, com o objetivo de tomar o poder, através do qual pretendia abolir o direito de propriedade, criando uma sociedade igualitária integrada por camponeses e artesãos, resgatando a constituição de 1793.

Denunciado à policia Babeuf passa a viver na clandestinidade. Preso naquele em maio daquele mesmo ano com vários com vários companheiros, é condenado à morte, sendo guilhotinado em 27 de maio de 1797, juntamente com 30 integrantes do grupo.

A seguir apresentamos na íntegra o Manifesto dos Iguais redigido por Grachus Babeuf, que orientaria a Conspiração dos Iguais, considerado o primeiro movimento comunista na História.  Vale a pena lê-lo.

MANIFESTO DOS IGUAIS

Povo da França!

Durante perto de vinte séculos viveste na escravidão e foste por isso demasiado infeliz. Mas desde há seis anos que respiras afanosamente na esperança da independência, da felicidade e da igualdade.

A igualdade! - primeira promessa da natureza, primeira necessidade do homem e elemento essencial de toda a legítima associação! Povo da França, tu não ficaste mais favorecido do que as outras nações que vegetam sobre esta mísera terra! Sempre e em qualquer lado, a pobre espécie humana, vítima de antropófagos mais ou menos astutos, foi joguete de todas as ambições, pasto de todas as tiranias. Sempre e em qualquer lado se adulou os homens com belas palavras, mas nunca e em lugar nenhum obtiveram eles aquilo que, através das palavras, lhes prometeram. Desde tempos imemoriais se vem repetindo hipocritamente: os homens são iguais. Mas desde há longo tempo que a desigualdade mais vil e mais monstruosa pesa insolentemente sobre o gênero humano.

Desde a própria existência da sociedade civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas nem uma só vez pôde ver-se convertido em realidade: a igualdade nunca foi mais do que uma bela e estéril ficção da lei. E hoje, quando essa igualdade é exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: "Calai-vos, miseráveis! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai-vos com a igualdade relativa: todos sois iguais em face da lei. Que quereis mais, miseráveis?" Que mais queremos? Legisladores, governantes, proprietários ricos; é agora a vossa vez de nos escutardes.

Todos somos iguais, não é verdade? Este é um princípio incontestável, porque ninguém poderá dizer seriamente, a não ser que esteja atacado de loucura, que é noite quando se vê que ainda é dia. Pois bem, o que pretendemos é viver e morrer iguais já que como iguais nascemos: queremos a igualdade efetiva ou a morte.
Não importa qual o preço, mas havemos de conquistar essa igualdade real. Ai daqueles que se interponham entre ela e nós! Ai de quem se oponha a um juramento formulado desta forma!

A Revolução Francesa não é mais do que a vanguarda de outra revolução maior e mais solene: a última revolução.

O povo passou por cima dos corpos do rei e dos poderosos coligados contra ele; e assim acontecerá com os novos tiranos, com os novos tartufos políticos sentados no lugar dos velhos.

De que mais precisamos além da igualdade de direitos?

Temos apenas necessidade dessa igualdade, da qual resulta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: queremos vê-la entre nós, sob o teto das nossas casas. Estamos dispostos a tudo, a fazer tábua-rasa de tudo o mais, apenas para conservar a igualdade. Pereçam, se for necessário, todas as artes, desde que se mantenha de pé a igualdade real!

Legisladores e governantes, com tão pouco engenho como boa fé, proprietários ricos e sem coração, em vão tentais neutralizar a nossa sagrada missão dizendo: "Eles não fazem mais do que reproduzir aquela lei agrária exigida já por diversas vezes no passado".

Caluniadores, calai-vos pela vossa parte e, em silêncio de confissão, escutai as nossas pretensões, ditadas pela natureza e baseadas na justiça.

A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais eqüitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.

Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.

Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.

Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.

Que entre os homens não exista mais nenhuma diferença do que aquela que lhes é dada pela idade e pelo sexo. E, porque todos temos as mesmas necessidades e as mesmas faculdades, que exista, portanto, uma única educação para todos e um idêntico regime de alimentação. Toda a gente se sente satisfeita por dispor do sol e do mesmo ar que respira. Porque não há de acontecer o mesmo com a quantidade e a qualidade dos alimentos?

Mas é verdade que já os inimigos da ordem de coisas mais natural que imaginar se possa protestam e clamam contra nós.

Desorganizadores e facciosos, dizem-nos eles, vós só desejais que exista anarquia e massacre.

Povo da França!

Não desejamos perder tempo a responder a esses senhores, mas a ti dizemos-te: a sagrada tarefa em que estamos empenhados não tem outro objetivo que não seja pôr termo às lutas civis e à miséria pública.

Nunca foi concebido e posto em execução um plano mais vasto do que este. De vez em quando, alguns homens de talento, homens inteligentes, falaram em voz baixa e temerosa desse plano. Mas nenhum deles, claro, teve a coragem necessária para dizer toda a verdade.

Chegou a hora das grandes decisões. O mal encontra-se no seu ponto culminante, está a cobrir toda a face da terra. O caos, sob o nome de política, há já demasiados séculos que reina sobre ela. Que tudo volte, pois, a entrar na ordem exata e que cada coisa torne a ocupar o seu posto. Ao grito de igualdade, os elementos da justiça e da felicidade estão a organizar-se. Chegou o momento de fundar a República dos Iguais, este grande refúgio aberto a todos os homens. Chegaram os dias da restituição geral. Famílias sacrificadas, vinde todas sentar-vos à mesa comum posta para todos os vossos filhos.

Povo da França!

A ti estava, pois, reservada a mais esplendorosa de todas as glórias! Sim, tu serás o primeiro que oferecerá ao Mundo este comovedor espetáculo.

Os hábitos inveterados, os antigos preconceitos, farão novamente tudo para impedir a implantação da República dos Iguais. A organização da igualdade efetiva, a única que satisfaz todas as necessidades sem provocar vítimas, sem custar sacrifícios, talvez em princípio não agrade a todos. Os egoístas, os ambiciosos, rugirão de raiva. Os que conquistaram injustamente as suas possessões dirão que está a cometer-se uma injustiça em relação a eles. Os prazeres individuais, os prazeres solitários, as comodidades pessoais, serão motivo de grande pesar para os indivíduos que sempre se caracterizaram pela sua indiferença ante os sofrimentos do próximo. Os amantes do poder absoluto, os miseráveis partidários da autoridade arbitrária, baixarão pesarosos as suas soberbas cabeças perante o nível da igualdade real. A sua visão estreita dificilmente penetrará no próximo futuro da felicidade comum. Mas que podem fazer alguns milhares de descontentes contra uma massa de homens completamente satisfeitos de terem procurado durante tanto tempo uma felicidade que sempre tiveram à mão?

Logo que se verificar esta autêntica revolução, estes últimos, estupefatos, dirão uns aos outros: "Como custava tão pouco conseguir a felicidade comum! Era necessário apenas ter o desejo de alcançá-la. E por que não fizemos isso há mais tempo?" Será preciso repetir sempre uma e outra vez? Sim, sem dúvida, basta que sobre a terra um homem seja mais rico e mais poderoso do que os seus semelhantes, do que os seus iguais, para que o equilíbrio se quebre e o crime e a desgraça invadam o Mundo.

Povo da França!

Quais os sinais que nos permitem reconhecer as qualidades de uma Constituição? Aquela que se apóia integralmente sobre a igualdade é, na realidade, a única que te convém, a única que satisfaz as tuas aspirações.

As cartas aristocráticas dos anos 1791 e 1795, em vez de romper as tuas cadeias, vieram consolidá-las. A de 1793 supôs ser um grande passo no sentido da igualdade real, mas não conseguiu todavia esse objetivo e não apontou diretamente para a igualdade comum, embora consagrasse solenemente o grande princípio dessa igualdade.

Povo da França!

Abre os olhos e o coração para a plenitude da felicidade; reconhece e proclama conosco a República dos Iguais

1796


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O que é o trotskismo


Por Rui Costa Pimenta 


Trótski foi, ao mesmo tempo, um dos líderes fundamentais da Revolução Russa de 1917 e o principal oponente da burocracia a qual promoveu a reação contra a revolução proletária, usurpou o poder da classe operária e enlameou o nome do comunismo. O assassinato de Trótski, a mando de Stálin, transformou aquele em um verdadeiro mártir da luta pela revolução proletária.

Hoje, o nome de Trótski é uma bandeira de luta, representativa do socialismo não corrompido e fiel à ideia fundamental da libertação da humanidade explorada e da opressão de todo tipo.

Nessas condições, nada há de estranhar em que inúmeras correntes políticas – a maioria das quais absolutamente nada tem que ver com a luta da classe operária – cobicem para si a bandeira da IV Internacional e do trotskismo.

A crise da IV Internacional, de 1952 a 1961, ou seja, a sua destruição por uma tendência centrista e pequeno-burguesa que, depois, ramificou-se (pablismo, mandelismo, morenismo, lambertismo, healismo etc.) é a expressão mais acabada dessa situação.

Com essa ramificação centrista, o trotskismo assumiu diversas feições, desde o oportunismo mais acabado e partidário declarado da colaboração de classes, até o ultra-esquerdismo típico da pequena-burguesia democratista.

Se a esse panorama acrescentarmos – o que é parte integrante do quadro geral – o esforço da burguesia para combater o marxismo por meio da mentira, da falsificação e da confusão, temos o retrato completo.

O que não é o trotskismo: os mitos e a realidade

O primeiro grande mito que se criou sobre o trotskismo é que este seria nada mais do que a contrapartida, o oposto do stalinismo. Alguns chegaram ao extremo de afirmar que, uma vez liquidado o stalinismo com a dissolução da URSS, não haveria mais motivo para se falar em
trotskismo. O trotskismo seria, nessa versão, um complemento, uma sombra invertida do stalinismo e não uma corrente política e ideológica de direito próprio. 

O segundo é que o trotskismo seria uma corrente do chamado “socialismo democrático” ou “socialismo com democracia”, ou seja, uma variante da socialdemocracia. Hoje, a maioria das correntes que se denominam trotskistas adota esse ponto de vista como programa central. 

No Brasil, o Psol, como várias corrente “trotskistas” e o partido do socialismo “com liberdade”, o que é uma verdadeira homenagem ao stalinismo: o qual seria socialismo “sem liberdade”, mas de qualquer modo socialismo. O PSTU e todas as correntes da Conlutas são partidários da “democracia socialista”. Essa ideia supõe que o stalinismo teria como aspecto central um caráter ditatorial e o trotskismo seria uma corrente democrática. Tal confusão tem levado muito setores a considerar que o stalinismo seria partidário da ditadura do proletariado e que o trotskismo seria favorável à democracia em abstrato, ou seja, à democracia burguesa.

Trótski combateu o stalinismo devido à política burguesa deste, em nome da luta de classes, da ditadura do proletariado e do marxismo e não em nome da democracia burguesa, o que não impede os seus pretensos discípulos de seguir essa orientação.

Um terceiro mito fundamental sobre o trotskismo diz respeito ao partido. Para muitos, na teoria e na prática, a concepção leninista (marxista) do partido seria a base da ditadura da burocracia na antiga URSS. Nesse caso, também, revela-se o caráter socialdemocrata de todo centrismo, que encobre com a bandeira da IV Internacional. O partido não leninista, “democrático”, nada mais é do que a versão pequeno-burguesa do típico partido de esquerda parlamentar ao melhor estilo da socialdemocracia, do qual o Partido dos Trabalhadores foi e continua sendo o melhor exemplo, e do qual PCdoB, Psol, PSTU e PCB são caricaturas.

Um quarto mito é o de que o trotskismo não seria a continuidade da III Internacional, a qual estaria contaminada de stalinismo já na política revolucionária de Lênin, ou do reformismo “mecanista” da II Internacional, mas toda uma outra doutrina que, no extremo, seria mesmo uma ruptura com o marxismo, ruptura essa expressa na teoria da Revolução Permanente. Nesse sentido, o trotskismo não seria marxismo nem marxismo-leninismo e sim uma espécie de neo-marxismo.

Contra o “trotskismo” acadêmico

O centrismo antitrotskista trouxe uma degradação ainda maior da ideia de trotskismo ao transformá- lo em uma teoria acadêmica, ou seja, ao adaptá-lo à mentalidade burguesa da esquerda universitária burguesa. O iniciador dessa transposição foi o dirigente da ala centrista majoritária responsável pela destruição da IV Internacional, Ernest Mandel – na realidade um intelectual acadêmico e um professor que complementava essa atividade com a de dirigente de esquerda oportunista. O mandelismo iniciou o amálgama entre algumas ideias retiradas do trotskismo e o “socialismo acadêmico” da Escola de Frankfurt, do lukacsianismo, gramscianismo, luxemburguismo e outras formas de stalinismo ou anarquismo universitário – criando uma verdadeira escola de “neo-trotskismo”. Essa corrente difusa espalhou-se para as disciplinas acadêmicas de política, sociologia, economia, história e filosofia. Sua principal preocupação é a difusão de uma variante de ideologia democrática- parlamentar burguesa para consumo da pequena-burguesia. Na economia, procuraram demonstrar a vitalidade e a capacidade de recuperação do capitalismo (Ernest Mandel, O capitalismo tardio); na filosofia, utilizaram o trotskismo e um anti-estalinismo convencional e burguês para condenar um suposto “marxismo vulgar”, “mecanicista”, “positivista”, ou seja: os motivos tradicionais da filosofia idealista para condenar o materialismo dialético e histórico e o materialismo tout court. Na política, o trotskismo serve como embalagem para a criação de panaceias políticas como o “partido plural”, o “estado de direito socialista” etc., etc., completamente inúteis mas muito ao gosto do socialismo acadêmico pequeno-burguês.

O que é o trotskismo

A definição essencial do trotskismo é relativamente simples e somente é ignorada ou renegada por motivos de classe. O trotskismo é a continuação do marxismo e do leninismo, em uma etapa de luta gigantesca contra o maior ataque revisionista já sofrido pelo marxismo, a saber, a burocracia stalinista – que se somou ao revisionismo da burocracia socialdemocrata da II Internacional.

O stalinismo representou um desafio revisionista ao marxismo, muito superior ao revisionismo bernsteiniano da II Internacional. Armado com o prestígio da Revolução Russa de 1917, com o primeiro Estado Operário do mundo e com os imensos recursos materiais desse Estado, o revisionismo stalinista procurou soterrar a tradição revolucionária da III Internacional e do leninismo. A doutrina e a luta de Lênin foram transformadas em um fachada para contrabandear a política burguesa da II Internacional de “revolução por etapas”, de frente popular, de defesa dos interesses “nacionais” do imperialismo etc.

A luta de Trótski e da facção revolucionária dentro do Partido Bolchevique não foi porém apenas uma luta ideológica como havia sido o enfrentamento com o revisionismo dentro da II Internacional. Stálin e a burocracia utilizaram a revolução mundial como campo de testes para a sua política revisionista, provocando as maiores derrotas que o proletariado havia conhecido até então: derrota da greve geral de 1926 na Inglaterra, derrota da Revolução Alemã de 1923, derrota da Revolução Chinesa de 1927, da Revolução na França e na Espanha em 1936 pela política de frente popular e, acima de tudo, a derrota sem luta do proletariado alemão diante da ascensão do nazismo na Alemanha. 
O desenvolvimento do marxismo por Trótski e o trotskismo

Embora Trótski fosse um pensador incomum, coube a Lênin desenvolver o marxismo do período de transição, ou seja, da época imperialista de guerras e revoluções. O próprio Trótski não tinha nenhuma dúvida sobre o papel de Lênin como o homem que desenvolveu o marxismo para os tempos atuais. Trótski acreditava ser absolutamente justa a fórmula marxismo-leninismo, uma vez que Lênin teve o papel fundamental de desenvolver todos os aspectos essenciais da teoria marxista diante da emergência da era das revoluções. Para ele, as Obras Completas de Lênin são a maior enciclopédia
de política marxista já criada.

Toda a política de Trótski e do trotskismo se apoia na obra teórica de Marx e Engels, na obra de Lênin e nas conclusões dos quatro primeiros congressos da III Internacional.

As principais conclusões politicas de Trótski estão em seu opus magnus A história da Revolução

Russa que, para muitos leitores superficiais, seria um relato histórico e não, como efetivamente é, um balanço e um tratado sobre a arte da Revolução cujo personagem principal, além das massas operárias e camponeses, é justamente Lênin.

As teses de Marx, Engels e Lênin sobre o caráter histórico e social do Estado são a base para a crítica de Trótski à burocracia do Estado Operário e, também, a fonte da política revolucionária. Na China, Trótski opõe as lições da Revolução ao menchevismo de Stálin e, na Alemanha, usa o Esquerdismo, doença infantil do comunismo, para advertir sobre o desastre que estava sendo preparado para a classe operária diante do nazismo. As frentes populares são a versão requentada da política da esquerda pequeno-burguesa na Revolução Russa de 1917.

A grande contribuição individual de Trótski para o marxismo foi a teoria da Revolução Permanente, em 1905, quando ainda muito jovem, reconhecida por Lênin e comprovada pela Revolução de 1917, principalmente por meio da política de Lênin.

Os trotskista, quando ainda dentro do Partido Bolchevique, denominaram a si mesmos bolcheviques- leninistas. O nome de trotskismo foi um resultado da luta travada e foi estabelecido principalmente pelos inimigos do trotskismo como uma tentativa de opor o leninismo de Trótski à sua falsificação centrista e burocrática. No entanto, um nome estabelecido em combate, sejam quais forem as circunstância, é um fato concreto da luta de classes, assim o marxismo-leninismo adquiriu o nome de trotskismo e somente esse nome representa a sua defesa e a sua continuidade.


sábado, 31 de outubro de 2015

Cronologia do Socialismo e do Comunismo (do século XVI ao século XIX)


(Compilada por Aluizio Moreira)

A historia não pode ser reduzida a um amontoado de datas, que ordenamos como se elas por si sós, substituíssem as interpretações dos fatos. Mas por outro lado, a história soe acontecer num determinado espaço e num determinado tempo. Ou seja, espaço e tempo são duas categorias sem as quais a história não existiria. Objetivando identificar alguns fatos relacionados ao socialismo e comunismo, a fim de melhor poder nos situarmos no tempo, tentamos organizar esta cronologia. É bem possível que algumas datas importantes não constem desta nossa relação, por algum motivo alheio à nossa vontade. 
leitor pode colaborar para minimizar as omissões.

SÉCULO XVI 

1516
* É publicada "Utopia" de Thomas More, um dos precursores do socialismo.

1535
* Decapitado Thomas More por não reconhecer Henrique VIII como chefe da Igreja anglicana.
* Falecimento de Thomas Munzer

SÉCULO XVII
1623
* É editada "A Cidade do Sol" de Tommasio Campanella, obra escrita na prisão em 1602.


SÉCULO XVIII

1760
* Nascimento de Gracchus Babeuf
* Nascimento de Saint-Simon, em  Paris  

1771
* Nascimento de Robert Owen 

1772
* Nascimento de Charles Fourier 

1788
* Nascimento de Etienne Cabet

1792
* Criada na Inglaterra em março desse ano a Sociedade de Correspondência de Londres, defensora do igualitarismo que tinha como principais organizadores Thomas Hardy (sapateiro escocês) e John Thelwall (jornalista e poeta).

1793
* William Godwin escreve "Inquérito à Justiça Política e à sua Influência sobre a Moral e a Felicidade", considerada base teórica do comunismo anárquico.

1796
* Aborta a Conspiração dos Iguais na França, sob a liderança de Babeuf. Os principais "conspiradores" são feitos prisioneiros , inclusive seu líder.

1797
* Guilhotinado Gracchus Babeuf em 27 de maio, juntamente com seus colaboradores.

SÉCULO XIX

1802
* Saint-Simon escreve "Lettres d'un habitant de Génève."

1805
* Nascimento de Louis-Auguste Blanqui

1808
* Nascimento de Wilhelm Weitling
* Charles Fourier escreve "Theorie des quatre mouvements et destinées génèrales" 

1809
* Nascimento de Pierre-Joseph Proudhon

1813
* Saint-Simon escreve "Memoires sur la science de l'homme
* Robert Owen publica "Nova visão da sociedade"

1814
* Nascimento de Mikhail Bakunin

1818 
* Nascimento de Karl Heinrich Marx na Prússia no dia 5 de maio

1820
* Nascimento de Friedrich Engels

1822
* Charles Fourier escreve "L'Unité Universelle"

1825
* Criada nos Estados Unidos por Robert Owen, a comunidade comunista New Harmony
* Falecimento de Saint-Simon. Ano de publicação  de sua obra "Le Nouveau Christianisme"

1826
* Nascimento de Wilhelm Liebknecht

1831
* A palavra "socialismo" surge pela primeira vez no jornal francês Le Semeur.

1832
* Segundo G.D.H. Cole em "Historia del Pensamiento Socialista", foi neste ano que a palavra socialismo foi escrita pela primeira vez no jornal "Le Globe

1834
* Fundada em Paris por refugiados alemães, a Liga dos Proscritos cujo antecedente foi a Associação Patriótica Alemã. Seu principal objetivo era o de lutar pela liberdade e pela unidade da Alemanha. A Liga dos Proscritos foi dirigida por Jacob Venedey e Theodor Schuster, este médico, aquele professor da Universidade de Heildelburg. Pouco depois dividiu-se em duas tendências político-ideológicas, uma democrata-nacionalista outra revolucionária-internacionalista. A tendência revolucionária-internacionalista, dirigida por Theodor Schuster irá se transformar, em 1836, na Liga dos Justos.

1836
* Formada a Liga dos Justos pela ala esquerda da Liga dos Proscritos. A Liga dos Justos deu origem à Liga dos Comunistas.
* Robert Owen faz publicar "Livro do Novo Mundo Moral"

1837
* Faleceu em Paris, em outubro, Charles Fourier

1840
* Nascimento de August Bebel

1847
* Fundada a Liga dos Comunistas com a participação ativa de Karl Marx e Friedrich Engels, que foram encarregados da redação do programa da organização. Este programa ficou conhecido como Manifesto do Partido Comunista.

1848
* Em fevereiro foi entregue ao Comitê Central da Liga dos Comunistas em Londres para impressão, o manuscrito "Manifesto do Partido Comunista" elaborado por Karl Marx e Friedrich Engels.

1850
* Fundada em Londres a Liga Universal de Comunistas Revolucionários liderada por George Julian Harney, militante do movimento cartista inglês. Contando com a adesão de operários e intelectuais partidários de Karl Marx e Louis Blanc, a Liga proclamava-se defensora da "Ditadura do Proletariado", considerada como etapa necessária do processo revolucionário, e da "Revolução Permanente", no sentido de tornar a luta revolucionária uma ação constante até a realização completa do comunismo como forma acabada de organização da sociedade humana.

1856
* Falecimento de Etienne Cabet

1857
* Movimento de mulheres numa Fábrica Têxtil em Nova York, que terminou com o assassinato de 129 das participantes, o que deu origem ás comemorações do Dia Internacional da Mulher

1858
* Falecimento de Robert Owen

1864
* Fundada por Mikhail Bakunin a sociedade secreta Fraternidade Internacional.
* Em Londres operários e socialistas criaram a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) que se tornou conhecida como Primeira Internacional. A AIT promoveu de 1866 a 1872, os seguintes Congressos: 1866 - Congresso de Genebra, 1867 - Congresso de Lausanne, 1868 - Congresso de Bruxelas, 1869 - Congresso de Basiléia, 1871 - Congresso de Londres, 1872 - Congresso de Haia.

1865
* Falecimento de Pierre-Joseph Proudhon

1866
* Realizou-se o Congresso de Genebra da Primeira Internacional. Nesse Congresso: foi defendida a limitação de jornada de trabalho em 8 horas, aprovou-se Resolução que defendia a incorporação dos operários agrícolas na luta política das organizações sindicais, defendeu-se a supressão dos exércitos permanentes, exigiu-se do Estado que criasse medidas sócio-políticas em favor das mulheres e crianças. Desencadeou-se um conflito entre as tendências marxistas e proudhonistas.

1867
* Ocorreu o Congresso de Lausanne da Primeira Internacional. Os enfrentamentos das propostas marxistas e proudhonistas que marcaram o Congresso de Genebra, mais uma vez se repetiram. Desta vez foi acerca do papel que caberia à luta política da classe trabalhadora. Os proudhonistas negaram esse papel. Outro tema discutido em Lausanne foi sobre a socialização dos setores econômicos de cunho monopolista. Marxistas e proudhonistas defenderam aquela socialização, mas divergiram quanto à forma. Para os marxistas a referida socialização deveria ocorrer através do poder do Estado. Para os seguidores de Proudhon ela se daria através das cooperativas centralizadas. Não tendo havido acordo essa questão foi adiada para discussão no Congresso seguinte.
* Realizou-se em 9 de setembro o Congresso da Paz de Genebra convocado pela Liga Pela Paz e Liberdade. Entre os que apoiaram a realização do referido Congresso figuraram Victor Hugo, Giuseppe Garibaldi, John Stuart Mill, Louis Blanc e Alexander Herzen, entre outros. Convidado pela Liga da Paz para mandar representante, a AIT no Congresso de Lausanne que se realizava naquele ano, aprovou uma mensagem de apoio aos congressistas e enviou uma delegação formada por 3 membros da AIT (entre eles James Guillaume) para participar do referido Congresso.

1868
* Realizou-se o Congresso de Bruxelas da Primeira Internacional. Neste Congresso aprovou-se a luta pela supressão da propriedade privada das minas e das estradas de ferro, a nacionalização das terras, a necessidade das greves sob a direção das organizações sindicais. Retomou-se a questão discutida no Congresso de Lausanne quanto à socialização dos setores econômicos monopolísticos. Foi vitoriosa a posição que defendia a socialização daqueles setores através da ação do poder público.
* Aconteceu o II Congresso da Liga Pela Paz e Liberdade que se reuniu em Berna. Neste Congresso, Bakunin que liderava a ala esquerda da Liga, apresentou a proposta da adoção de um programa social mais amplo e revolucionário, que foi recusado pelos participantes do Congresso. Este fato resultou na saída de Bakunin e de seus partidários da Liga e o ingresso de todos eles na AIT.

1869
* Realizou-se o Congresso de Basiléia da Primeira Internacional. Participaram alem da Inglaterra, França, Alemanha e Suiça, representantes dos Estados Unidos, Bélgica, Áustria, Itália e Espanha. Foi aprovada Resolução que defendia a propriedade comum da terra e do solo.
* Foi fundada na Inglaterra a Liga da Terra e do Trabalho da qual fizeram parte J.G. Eccarius, Martin J. Boom e John Weston. Entre os pontos de seu Programa constavam: - nacionalização da terra; - ensino nacional, gratuito e obrigatório; - imposto direto e progressivo sobre a propriedade; - redução das horas de trabalho.

1870
* Nascimento de Vladimir Lenin

1871
* Aconteceu o Congresso de Londres da Primeira Internacional. Aprovou-se Resolução que incentivava a criação imperativa de Partidos Operários nos diversos países, inteiramente independentes de todos os partidos burgueses, como condição necessária para uma Revolução Socialista. Essa proposição, embora vitoriosa, foi rechaçada pelos adeptos de Blanqui e Bakunin.
*  Nascimento de Rosa Luxemburgo
* Ocorreu a Comuna de Paris, considerada primeira experiência de tomada do poder pela classe trabalhadora. Os operários parisienses estiveram no poder de março a maio de 1871. Com a tomada do poder foi criado o Comitê Central, que no dia 26 do mesmo mês, foi substituído por um Governo Provisório, governo de coalizão, do qual faziam parte membros da AIT, blanquistas, proudhonianos, republicanos burgueses e patriotas exaltados.
* Falecimento de Wilhelm Weitling

1872
* Realizou-se em outubro o Congresso de Haia da Primeira Internacional. Foi marcado pela luta entre marxistas e bakuninistas. A maioria dos participantes do Congresso tomou posição favorável ao Conselho Geral dirigido por Karl Marx, que se posicionara contra Bakunin. Nesse mesmo Congresso Bakunin foi expulso da AIT. Diversos autores consideram esse o último Congresso promovido pela Primeira Internacional, pois apesar da aprovação, por sugestão de Engels, de se transferir a sede do Conselho Geral da AIT para Nova York, o Congresso convocado para 1873 nesse novo local não se realizou.
* Ocorreu o Congresso de Saint-Imier um dia após a realização do Congresso de Haia. Promovido pelos anarquistas, foi aprovada a proposta de Bakunin da fundação de uma nova Internacional, que ficou conhecida como Internacional anarquista.

1873
* Ocorreu em 1o. de setembro o Congresso Anarquista de Genebra. Reuniu representantes da Bélgica, Holanda, Itália, Espanha, França e Inglaterra. Considerado pelos anarquistas como Congresso da Ia. Internacional, revisaram os Estatutos da AIT, extinguiram o Conselho Geral, tornando a Internacional federação livre.

1874
* Foi fundado em Nova York um Partido Operário Social-Democrata dos Estados Unidos, de tendência marxista.

1875
* Realizou-se na cidade Gotha um Congresso do qual participaram conjuntamente as duas tendências socialistas rivais na Alemanha: os "eisenachianos" e os "lassallianos". O programa elaborado nesse Congresso ficou conhecido como "Programa de Gotha". Nesse mesmo ano ocorreu a fundação do Partido Socialista Unificado da Alemanha que congregou as duas correntes.

1876
* Foi realizado de 6 a 8 de setembro o Congresso de Saint-Imier. De caráter internacional, foi um Congresso Anarquista
* Ocorreu em Paris o I Congresso Sindical, marcando a retomada do movimento operário na França, após a derrota da Comuna de Paris em 1871.
* Falecimento de Mikhail Bakunin

1877
* Surgiu nos Estados Unidos o Socialist Labour Party considerado a principal organização socialista naquele país nas últimas décadas do século XIX.

1878
* Formada na Dinamarca a Federação Social-Democrata

1881
* Ocorreu em Londres um Congresso Anarquista Internacional do qual participaram delegados da França, Bélgica, Suiça, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria e Estados Unidos.
* Foi fundada em Londres pelo socialista inglês Henry Mayers Hyndman a Federação Democrática, que a princípio tinha por objetivo estimular um movimento de massa.
* Falecimento de Louis-August Blanqui

1882
* Foi formada na Inglaterra por Henri Myers Hyndmann a Federação Democrática, que marcou o início do movimento socialista naquele país, e cujo programa se limitava a conquista de reformas sociais. Pouco tempo depois passou a denominar-se Federação Social-Democrata que adotou uma programa socialista difundindo os pensamentos de Marx e Engels. Eleanor Marx, uma das filhas de Karl Marx, participava dessa Federação.

1883
* Fundado em Genebra o Grupo Emancipação do Trabalho, que congregou social-democratas da Rússia, contribuindo para a divulgação do marxismo naquele país. Considerado o primeiro grupo marxista russo, foi organizado por George Plekhanov.
* Falecimento de Karl Marx em Londres, em 14 de março.

1884
* A Federação Democrática de Henry Hyndman fundada em 1881 em Londres, passou a denominar-se Federação Social-Democrata, assumindo uma posição declaradamente socialista, aglutinando no seu interior tendências marxistas, sindicalistas e anarco-comunistas, além de congregar intelectuais da esquerda progressista que no mesmo ano fundarão a Sociedade Fabiana.
* Foi fundada na Inglaterra a Sociedade Fabiana de tendência social reformista. Entre seus dirigentes estavam Sydney Webb, Beatriz Webb e Bernard Shaw.
* Dissidentes da Federação Social-Democrata, sob a liderança de William Morris, fundaram em Londres a Liga Socialista na qual ingressarão anarco-comunistas que militavam naquela Federação.

1886
* Aconteceu o Massacre de Chicago, repressão violenta contra o movimento anarquista nos Estados Unidos. Foram presos os líderes operários August Spies, A. R. Parsons, Luis Lingg, Jorge Engel, Samuel Fieldman, Adolf Fischer, Oscar Nebe e Michael Schwab, que julgados criminalmente foram condenados: Spies, Parsons, Lingg, Engel e Fischer à pena de morte; Fieldman e Schwab à prisão perpétua e Nebe a quinze anos de reclusão. Esse acontecimento deu origem às celebrações do 1o. de maio em todo mundo, proposta aprovada no Segundo Congresso da Segunda Internacional realizado em setembro de 1891.

1888
* Constituído o Partido Operário Norueguês.

1889
* Fundação da Segunda Internacional em Paris, em Congresso realizado de 14 a 21 de julho.
* Fundação na França, da Federação Socialista Revolucionária.
* Fundação do Partido Socialista da Suécia.

1890
* Realizou-se o Congresso de Erfurt da Segunda Internacional.

1891
* Realizou-se o Congresso de Bruxelas da Segunda Internacional.

1892
* Surgimento do Partido Socialista Polonês, que contou com a participação de Rosa Luxemburgo como membro do referido Partido.

1893
* Realizou-se o Congresso de Zurich da Segunda Internacional.
* Sob a direção de F. Turati e H. Ferri, surgiu na Itália o Partido Socialista Italiano, a partir da fusão de várias organizações operárias.
* Fundado o Partido Social-Democrata Polonês, pelo grupo ligado a Rosa Luxemburgo

1895
* Falecimento de Friedrich Engels

1896
- Realizou-se o Congresso de Londres da Segunda Internacional. Nesse Congresso se estabeleceu que só seriam convidados para os Encontros, representantes das organizações que defendessem a propriedade social dos meios de produção e que aceitassem a atuação parlamentar em matéria de legislação social.

1898
* Formado na Rússia o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).

1900
* Realizou-se o Congresso de Paris da Segunda Internacional. Foram criados por ocasião desse Congresso um Secretariado Internacional com sede em Bruxelas, um Escritório Socialista Internacional e uma Comissão Interparlamentar. Além das discussões sobre as ameaças de guerra que pairavam sobre a humanidade e sobre a questão nacional, esteve na pauta desse Congresso a questão da participação dos socialistas nos governos burgueses.
* Foi fundado na Inglaterra o Labour Party (Partido Trabalhista) que se transformou rapidamente num partido de massa. De tendência reformista, o Labour Party congregou a maioria dos sindicatos ingleses, a Federação Social-Democrata e a Sociedade Fabiana.
* Falecimento der Wilhelm Liebknecht

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Livro dá voz a personalidades cubanas para defenderem modelo político e social adotado pela ilha


Por Roger Grévoul


O acadêmico Salim Lamrani, estudioso de Cuba, publica um novo livro intitulado "Cuba, parole a la defense!”, com um prólogo de André Chassaigne, presidente do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional e membro de honra da associação Cuba Coopération.

Salim Lamrani, você acaba de publicar um livro com o título "Cuba, parole a la defense!” O que pode nos dizer a respeito?

Salim Lamrani: Tudo começou a partir da seguinte constatação: Cuba é um tema midiático que suscita debates e controvérsias. Isto é particularmente certo, sobretudo, agora, com o processo de normalização entre Washington e Havana desde dezembro de 2014, e a visita histórica do presidente francés, François Hollande, à ilha, em maio de 2015. Não obstante, convém apontar que só o pensamento único sobre Cuba é aceitável. A ilha se encontra regularmente no banco dos acusados e regularmente surge a tradicional retórica sobre a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão. Todo o mundo tem direito à palavra, pode expressar sua opinião e compartilhar seu ponto de vista, desde logo, sempre que aponte com o dedo Cuba e seu sistema, e emita críticas negativas. Os cubanos da ilha, particularmente seus dirigentes, nunca têm direito à palavra e, por conseguinte, não pode ser partícipe de sua verdade e responder aos ataques, quando são os principais atores do destino de Cuba. Por isso decidi dar a palavra à defesa composta por 10 personalidades cubanas e internacionais, que puderam expressar seu ponto de vista nestas conversações francas.

Salim Lamrani, estudioso da conjuntura cubana

Quem são essas personalidades?

SL: Conversei com sete figuras cubanas e três personalidades internacionais para que compartilhassem sua visão sobre Cuba, sua história e seu futuro. Trata-se de Mariela Castro Espín, diretora do Centro de Educação Sexual e filha do presidente Raúl Castro; Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento cubano de 1993 a 2013; Max Lesnik Menéndez, diretor da Rádio Miami e fundador da revista La Nueva Réplica [A Nova Réplica]; Miguel Barnet Lanza, presidente da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba; Eusebio Leal Spengler, historiador de Havana; Abel Prieto Jiménez, ministro da Cultura por cerca de 15 años e, atualmente assessor do presidente da República; Alfredo Guevara Valdés, pai do cinema cubano e do Novo Cinema Latino-Americano; Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba; Jean-Pierre Bel, presidente do Senado francês de 2011 a 2014 e atualmente assessor especial do Eliseo para a América Latina; e Álvaro Colom, presidente da Guatemala de 2008 a 2012.

Quais são os temas abordados?

SL: A ideia do livro era dar a palavra aos cubanos e aos partidários da soberania das nações e da autodeterminação dos povos. Não obstante, o principio fundamental era realizar conversações não complacentes. Por isso são abordados os temas mais polémicos em todas as entrevistas, seja a democracia, os direitos humanos, a liberdade de expressão, as figuras de Fidel Castro e Raúl Castro e sua presença no poder, os episódios obscuros da Revolução Cubana, as discriminações, o espaço reservado ao debate plural ou à dissidência.

São abordados também outros temas, como as relações com os Estados Unidos, as sanções econômicas, a atualização do modelo econômico, a diversidade sexual, o papel da comunidade cubana dos Estados Unidos, a importância da cultura, a preservação do patrimônio arquitetônico de Havana, o auge do turismo, a solidariedade de Cuba com os deserdados do planeta, o cinema em Cuba, a renovação geracional no comando do país, o futuro de Cuba e a integração latino-americana.

Salienta em seu livro o paradoxo de ver Cuba vítima das pretensões hegemônicas estadunidenses e assediada há mais de meio século situar-se no banco dos acusados.

SL: Efetivamente, Cuba vive sob estado de sítio há mais de meio século. Não se livrou de nada: algumas sanções econômicas anacrônicas, cruéis e injustas, que afetam todos os setores da sociedade e as categorias mais vulneráveis da população desde 1960; uma sangrenta invasão militar, que orquestrou a CIA em 17 de abril de 1961 e que causou centenas de vítimas civis; uma ameaça de desintegração nuclear durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962; a campanha terrorista mais longa da história, com mais de 10.000 atentados planejados a partir dos Estados Unidos, que custaram a vida a 3.478 pessoas e infligiram sequelas permanentes a outras 2.099, bem como danos materiais em torno de várias centenas de milhões de dólares; sem esquecer uma implacável guerra política, diplomática e, sobretudo, midiática contra seu povo, seus dirigentes e, sobretudo, contra seu sistema político e social.

Contudo, a vindita midiática assinala Cuba como culpada. Que constatação mais estranha!

Como explica estas reações contra Cuba?

SL: O crime imperdoável de Cuba é ter escolhido o campo dos deserdados e ter colocado o ser humano no centro do seu projeto nacional, procedendo a uma repartição equitativa das riquezas. O povo cubano propõe à humanidade uma alternativa de sociedade eficiente, apesar dos limites inerentes a todo projeto edificado por mulheres e homens, que mostra que os mais humildes não estão condenados à indiferença e à humilhação.

André Chassaigne, presidente do grupo parlamentar Esquerda Republicana e Democrata e do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional, é também membro de honra da Cuba Cooperación. Redigiu um bonito prólogo para sua obra.

SL: André, um grande amigo da Revolução Cubana, me deu a imensa honra de associar sua escrita fina e incisiva ao meu livro. É um homem que tem a causa dos humildes e dos humilhados no coração. É sensível à necessidade imperiosa de uma melhor repartição das riquezas e de oferecer aos mais vulneráveis uma vida digna. Como muitos de nós, vê em Cuba um símbolo de resistência e de generosidade.


Cuba, parole à la défense!
Paris, Editions Estrella, 2015
20 euros
ISBN: 9782953128444

Disponível na Amazon:


Para cópias dedicadas contatar Salim Lamrani: lamranisalim@yahoo.fr


Salim Lamrani, Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-Americanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, é professor da Universidade de la Réunion e jornalista especializado em Cuba.


FONTE: Adital

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A crise Grega demonstra que a alternativa ao sistema capitalista passa pela Revolução


Por Miguel Urbano Rodrigues


A evolução da crise grega manifesta traços do poder do imperialismo que talvez em nenhuma situação anterior se evidenciassem de forma tão flagrante. O Syriza, força social-democrata, nada põe em causa do capitalismo. Mas a enorme distância entre as suas promessas eleitorais e as imposições da troika obrigaram-no a tentar obter alguma margem de negociação. Acontece que, nos dias de hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema. O imperialismo não negoceia, exige capitulação total. A alternativa dos povos só existe com a perspectiva do socialismo.


A evolução da crise grega encerra lições muito importantes para as forças progressistas que em dezenas de países lutam em contextos muito diferentes contra o imperialismo.

A principal delas confirmou a impossibilidade daquilo que sectores da social-democracia chamam «a reforma humanizada do capitalismo».

A vitória do Syriza nas eleições gregas semeou ilusões. Os discursos de Tsipras durante a campanha, recheados de promessas, contribuíram para que os partidos social-democratas, na Europa e na América Latina, definissem o Syriza como um partido de «esquerda radical», vocacionado para introduzir grandes transformações na sociedade helénica. O governo Syriza-Anel recebeu inclusive o apoio de alguns partidos comunistas europeus.

Mas logo após iniciar negociações com as instituições europeias (nova designação para a troika) ficou transparente que Tsipras concordava com a maioria das exigências de Bruxelas.

Durante uma visita de duas semanas à Grécia apercebi-me de que o seu governo se propunha a dar continuidade à política de submissão ao imperialismo desenvolvida pela coligação da Nova Democracia com o Pasok, introduzindo-lhe apenas mudanças cosméticas.

As suas continuas cedências às propostas dos parceiros de Bruxelas não impediram que estes adiassem sucessivamente o acordo que permitiria ao governo de Atenas receber 7200 mil milhões de euros (a ultima tranche do segundo plano de «ajuda»), evitando o default iminente.

Dias antes do final do prazo para pagamento ao FMI de 1,5 mil milhões de euros, Tsipras, numa pirueta, anunciou a convocação de um referendo. O povo tinha que responder se concordava ou rejeitava as ultima propostas apresentadas pelo Eurogrupo. E num discurso dramático no Parlamento pediu aos eleitores que votassem NÃO!

O eleitorado atendeu ao seu apelo. O NÃO obteve 61% dos votos emitidos. O governo interpretou-o como uma aprovação do Memorando do Syriza.

O referendo, repudiado pelo Partido Comunista, foi uma manobra teatral de Tsipras. É significativo que no dia seguinte ao referendo o Syriza, o Pasok e o Potami publicaram um comunicado conjunto, num consenso expressivo da política de classe do governo.

Ao retomar as negociações em Bruxelas, o primeiro-ministro grego traiu a confiança dos eleitores, pediu um novo resgate de 53 000 milhões de euros e apresentou ao Eurogrupo propostas piores do que as ultimas que havia recusado.

Recusaram a austeridade, mas dias depois propuseram uma austeridade reforçada.

Ao contrário do que muitos esperavam, a assinatura do Acordo esbarrou com a oposição tenaz da Alemanha, da Holanda, da Finlândia e outros países. Não é já o conteúdo das propostas de Atenas que está em causa. O governo de Tsipras capitulou totalmente, confirmando as previsões do KKE (ver odiario.info de 30.06.15).

O impasse pantanoso das negociações de Bruxelas resulta das contradições que separam os membros do Eurogrupo, nomeadamente a Alemanha e a França. O governo de Merkel pretende excluir a Grécia do Euro.

CHILE, VENEZUELA, GRÉCIA

A consciência de que o capitalismo não encontra soluções para a crise estrutural que o atinge contribuiu para um aumento da agressividade imperialista (J.P.Gascão, odiario.3.7.15)

Essa opção é transparente na estratégia dos EUA, dispostos a recorrer à violência contra os povos cujos governos não se submetem incondicionalmente ao seu projeto de dominação planetária.

O bloqueio a Cuba, as guerras de agressão contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, a ajuda militar e politica às organizações terroristas sírias, o apoio às agressões do estado fascista de Israel e as ameaças ao Irão expressam com muita clareza essa política.

Nunca a solidariedade das grandes potências imperialistas em defesa da Ordem do Capital foi tão transparente.

A evolução da crise grega confere atualidade às lições do Chile. A resposta à opção socialista da Unidade Popular de Allende quando no poder participavam um partido socialista então marxista e o partido comunista foi um sanguinário golpe militar.

Transcorridos mais de 40 anos, desaparecida a URSS, o mundo, hegemonizado pelo capitalismo, é muito diferente.

Hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema.

Nas Honduras, Manuel Zelaya, o presidente constitucional, foi afastado por um golpe militar organizado na embaixada EUA. No Paraguai foi deposto um presidente que defendia tímidas reformas que desagradaram a Washington.

No Equador, Obama desejaria substituir Rafael Correa, um reformista neokeynesiano, por um oligarca neoliberal, submisso à Casa Branca. Os EUA aliás têm apoiado as tentativas golpistas contra o presidente Correa.

Na Venezuela, Bush e Obama montaram e financiaram, sem êxito, sucessivas conspirações para derrubar Hugo Chávez não obstante as estruturas do capitalismo permanecerem no país quase intactas. Falecido Chávez, uma campanha mediática massacrante satanizou o inofensivo «Socialismo do SeculoXXI» e o presidente Obama afirmou identificar no governo de Maduro uma intolerável «ameaça à segurança dos EUA».

E na Bolívia, os tímidos matizes socializantes do Governo de Evo Morales incomodaram tanto Washington que o embaixador norte-americano organizou uma conspiração falhada cujo desfecho foi a sua expulsão de La Paz.

A ALTERNATIVA É A REVOLUÇÃO

Na confusão ideológica atual, estimulada por um sistema mediático manipulador, a submissão total da Grécia aos sacerdotes do capital veio confirmar insisto – a impossibilidade da transformação profunda de sociedades capitalistas no âmbito do sistema, isto é, pela via institucional.
Mas, porventura se dissiparam as ilusões semeadas pelo Syriza e os demagogos populistas Tsipras e Varoufakis?

Não. Na Europa, forças políticas progressistas e alguns partidos comunistas, nomeadamente os do Partido da Esquerda Europeia, não obstante fixarem o socialismo como objetivo final, atuam no sistema como se algum dia fosse possível chegarem ao governo pela via eleitoral.

Obviamente no atual contexto europeu a conquista do poder através de uma revolução é uma impossibilidade a curto prazo. Existem em alguns países da União Europeia condições objetivas para ruturas revolucionárias. Mas faltam condições subjetivas.

Nem por isso são realistas os programas, por vezes muito ambiciosos, concebidos para uma transição no quadro de uma revolução democrática e nacional.
Em condições muito mais favoráveis do que as hoje vigentes, a revolução democrática e nacional portuguesa, inspirada nos valores de Abril, foi brutalmente interrompida por um golpe militar promovido pela burguesia com o apoio do imperialismo.

Alias, hoje, desaparecida União Soviética, as grandes potências da União Europeia recorreriam à violência se necessário, contra qualquer país membro que ousasse por em causa a ordem capitalista, no âmbito de uma revolução democrática e nacional.

Que fazer então?

As revoluções não são pré-datadas.

Ocorreram quase sempre em situações inesperadas, contra a própria lógica da História. Isso aconteceu com a Francesa de l789,com as Russas de l917, com a Chinesa, com a Cubana.

O Partido Comunista Grego oferece-nos o exemplo de uma organização revolucionaria que embora consciente de que não vai em tempo previsível tomar o poder no seu país, aliado a outras forças progressistas, luta com firmeza e coragem pela destruição do sistema capitalista no seu país. Pode discordar- se pontualmente do seu discurso, mas a sua coerência e tenacidade no combate inspiram em todo o mundo respeito e admiração aos comunistas.

As revoluções – repito - não têm data no calendário.

É minha convicção inabalável de que o capitalismo não tem soluções para a sua crise estrutural. Entrou numa lenta agonia que pode durar muitos anos.
O polo hegemónico do sistema, os EUA, mantem com os seus aliados, uma enorme capacidade de desencadear guerras imperialistas. São manifestações de desespero. São guerras monstruosas que esbarram com uma resistência crescente dos povos vítimas desse terrorismo de estado.

A simultaneidade e a convergência dessas lutas e da luta de massas em muitos países podem ser decisivas para a desagregação do sistema, minado por contradições internas, podem provocar a sua derrota final. Nesse combate vejo como insubstituível a participação dos partidos comunistas revolucionários.
A alternativa será a construção do socialismo apos uma fase de transição dolorosa, prolongada, diferente em cada país.
Uma certeza: a via institucional para o socialismo é uma impossibilidade histórica.


FONTE: ODiario.info