sexta-feira, 8 de junho de 2012

Segunda Internacional

Por Aluizio Moreira

Vimos que o fim da Primeira Internacional foi decretado oficialmente em 1876 com a dissolução do Conselho Geral  ocorrida  na Conferência de Filadélfia que aconteceu em 15 de julho daquele ano. Desaparecia assim um fórum internacional no qual socialistas de diversos países trocavam experiências, aprovavam resoluções, assumiam posições políticas frente às ações repressivas  e exploratórias  do capital internacional contra a classe trabalhadora.

Em 1873, portanto três anos antes do encerramento das suas  atividades, a Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.) já mostrava sinais de uma crise que apontavam para o seu fim: os conflitos internos entre as tendências marxistas e anarquistas, a perseguição aos participantes da Comuna de Paris e por extensão, aos socialistas em vários países, e finalmente a não realização do Congresso marcado para o ano de 1873 que deveria acontecer  na cidade de Nova York.

Em 1875, na Alemanha, país onde se encontrava o partido socialista mais  influente  na época, ocorreu o Congresso de Gotha. Nesse Congresso  os dois partidos que dividiam o socialismo alemão  - o Partido Operário Social-Democrata (eisenachiano), dirigido por A. Bebel e W. Liebknecht sob influência de Marx, e a União Geral Operária Alemã (lassaliano), seguidor das idéias de F. Lassale – elaboraram um Programa comum na tentativa de uma unificação das duas organizações. Esse Programa fora encaminhado pelos eisenachianos para apreciação de Karl Marx, do qual resultou sua “Critica do Programa de Gotha” datado daquele ano de 1875. Dessa unificação surgiria o Partido Socialista dos Trabalhadores, que pouco tempo depois mudaria seu nome para Partido Social-Democrata da Alemanha, tornando-se o maior, e mais influente  partido socialista do mundo até os anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial.

Apesar de considerarmos que o socialismo enquanto movimento mundial tenha sofrido um certo recuo após 1873, a partir daí criaram-se vários partidos social-democratas e operários nacionais, mais voltados para as questões internas de cada país. Assim, por volta de 1880, na maioria dos países da Europa central e ocidental formaram-se partidos socialistas sob liderança marxista, inspirados no socialismo alemão. Por outro lado, nesse mesmo período várias tentativas de reconstituir a Primeira Internacional foram feitas com realização de Congressos e Conferências na Suíça e França (1876 em Berna, 1881 em Chur, 1883 em Paris).

Em 1888, visando a instalação de um congresso internacional que celebrasse o centenário da tomada da Bastilha (1789), socialistas alemães e franceses passaram a reivindicar a convocação do referido Congresso.

Reunidos  nas mesmas datas, 14 a 21 de julho de 1889, aconteceram paralelamente dois congressos em Paris: o chamado "de la salle Pétrelle" proposto pelos marxistas da Alemanha, e o chamado "de la rue de Lancry" defendido pelos socialistas franceses.

O Congresso denominado “de la salle Pétrelle", de tendência marxista, passou a ser considerado como o Congresso de fundação da Segunda Internacional, reunindo delegados representantes da França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Áustria, Rússia, Holanda, Dinamarca, Suécia, Noruega, Suíça, Polônia, Rumania, Itália, Hungria, Espanha, Portugal, Bulgária, Finlândia. Das Américas participaram representantes dos Estados Unidos e da  Argentina.

Nesse Congresso de fundação foi aprovada a Resolução a favor da campanha pela jornada de 8 horas e determinou-se o dia 1º de maio de 1890 como dia de manifestação internacional a favor da jornada de 8 horas.

Karl Kautsky
Duas ausências foram sentidas no Congresso de fundação da Segunda Internacional: a de Karl Marx que havia falecido em março de 1883, e a de Friedrich Engels que na ocasião cuidava da preparação do terceiro tomo d’O Capital, que Marx não tivera tempo de concluir.

Durante os Congressos, várias tendências conflitantes foram motivos de grandes discussões envolvendo anarquista, comunistas, sindicalistas (representados pelos socialistas franceses) e social-democratas.

Após sua fundação, vários Congressos ocorreram durante a existência dessa Internacional, entre eles: Bruxelas (1891), Zurich (1893), Londres (1896), Paris (1900), Amsterdam (1904), Stuttgart (1907), Copenhague (1910), Basiléia (1912) e Paris (1914).

Considerada como movimento totalmente europeu, ideologicamente a Segunda Internacional foi dominada pela social-democracia alemã, de influencia marxista, mas nem por isso isenta de posicionamentos conflituosos envolvendo as três tendências que marcariam a sua existência: a de Rosa Luxemburgo, a de Karl Kautsky e a de Eduard Bernstein.

No Congresso de Londres  de 1896, estabeleceu-se que só seriam convidados para os Encontros, representantes das organizações que defendessem a propriedade social dos meios de produção e que aceitassem a atuação parlamentar em matéria de legislação social. Nesse Congresso, ocorreu a expulsão dos anarquistas.

Rosa Luxemburgo
Em 1900, no Congresso de Paris, foram criados um Secretariado Internacional com sede em Bruxelas, um Escritório Socialista Internacional e uma Comissão Interparlamentar. Além das discussões sobre as ameaças de guerra que pairavam sobre a humanidade e sobre a questão nacional, esteve na pauta desse Congresso a questão da participação dos socialistas nos governos burgueses.

No Congresso de Amsterdam realizado em 1904, a questão nacional discutida no Congresso de Paris em 1900, voltou a ser debatida. Sobre essa questão conflitaram duas tendências: a) a de Hyndmann, Brake e Bronckere, que condenava o colonialismo, denunciando-o como produto do imperialismo, b) a de Vankoz, Tarbouriech e Bernstein que admitia o colonialismo como fato inevitável. 

Em Stuttgart, no Congresso realizado em 1907, aprovou-se Resolução formulada por Lênin, Martov e Rosa Luxemburgo, segundo a qual as classes trabalhadoras e seus representantes parlamentares se obrigariam a impedir a eclosão de guerra. Por outro lado, segundo a mesma Resolução, se ainda assim irrompesse a guerra, caberia aqueles trabalhadores e seus representantes, aproveitando-se da crise econômica, acelerar a eliminação do capitalismo. A questão nacional e colonial voltou a ser discutida, ganhando grande dimensão em conseqüência das lutas antiimperialistas que na época se verificavam na Ásia e África.

Paralelamente ao Congresso de Stuttgart de 1907, como extensão do mesmo, aconteceram  a Iª Conferencia Internacional das Mulheres Socialistas, liderada por Clara Zetkin, e a Iª Conferência Internacional da Juventude Socialista.
   
Eduard Bernstein
O Congresso de Basiléia, realizado nos dias 24 e 25 de novembro de 1912, foi convocado como Congresso Extraordinário pela gravidade da situação internacional que ameaçava a Europa.  Elaborou-se o “Manifesto de Basiléia” que alertava os povos contra o perigo iminente de uma guerra, denunciando os propósitos espoliativos e conclamando os operários de todos os países a conduzirem uma luta decidida contra a guerra, já inevitavel naquela altura, diante dos acontecimentos nos Balcãs. Nesse Manifesto foi incluído o ponto, formulado por Lénine, da Resolução do Congresso de Stuttgart de 1907, de que caso fosse desencadeada a guerra imperialista, os socialistas deveriam aproveitar-se da crise económica e política provocada pela guerra, a fim de conduzirem a luta pela revolução socialista.

O Congresso que se seguiria ao de Basiléia, deveria realizar-se em Viena em 1914, o que não aconteceu devido a gravidade da situação internacional, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Saravejo, capital da Bósnia, motivo de sua transferência para Paris.  Os conflitos internacionais envolvendo Sarajevo, Áustria-Hungria, Grã-Bretanha, França e Rússia que culminaram com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, repercutiriam no seio da II Internacional de forma decisiva para o seu fim.

As Resoluções aprovadas pela II Internacional contra as ações bélicas e pela unidade da luta do movimento operário e socialista a nível internacional contra a guerra, não foram seguidas:  os partidos socialistas da Alemanha, Áustria, Hungria, França, Inglaterra, Bélgica e de outros países apoiaram as propostas belicistas, ou votando a favor dos créditos de guerra ou solidarizando-se com suas próprias burguesias nacionais, em detrimento dos interesses internacionais da classe operária e do socialismo. Ao pôr por terra as Resoluções da II Internacional, quebrou-se a unidade do movimento operário e socialista, desorganizando-o em escala nacional e internacional.

Obras consultadas:

COLE, G.D.H. Historia del pensamiento socialista. Trad. Rubem Landa, México: Fondo de Cultura, 1959, vol. III
DROZ, Jacques (Dir.). Historia geral do socialismo. Trad. Maria Teresa Lacerda Nobre. Lisboa: Horizonte, 1974, vol. 6
SWEEZY, Paul M. Socialismo. Trad. Giasone Rebuá e Mauricio Caminha de Lacerda. Rio de Janeiro: Zahar, 1963.

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