sábado, 20 de janeiro de 2018

100 anos da Revolução Russa de 1917



Por Aluizio Moreira


"Promoveram-se greves e  formaram-se conselhos (sovietes) de operários,
camponeses e soldados. Difundiram-se então as idéias revolucionárias".
Crédito da foto: pt.slideshere.net
As comemorações dos 100 anos da Revolução Russa de 1917, não devem se limitar às apresentações factuais do desenvolvimento dos acontecimentos políticos, até a tomada do poder em outubro de 1917.

Na verdade não há como desconhecer as conquistas materiais alcançadas pelos trabalhadores urbanos e rurais; as mudanças industriais e tecnológicas ocorridas naquela sociedade saída nos finais do século XIX, inícios do século XX, das limitações do sistema feudal; na contribuição dada aos povos do mundo inteiro, nas suas lutas de libertação colonial; no seu papel fundamental desempenhado contra o domínio e expansão do nazi-fascismo. 

São fatos de domínio público, que não temos nenhuma intensão nem a preocupação em detalhar aqui.  Não é necessário ser de esquerda ou comunista para admitir todas aquelas mudanças e realizações acima referidas. Basta ser independente (o que não é fácil) do pensamento fanático da ideologia conservadora para perceber os avanços vivenciados pela sociedade russa a partir de 1917. 

“A história não é dos mortos, a história é dos vivos”, afirmava o historiador José Honório Rodrigues, na sua obra “Teoria da História do Brasil”. Ou seja, a história acontecida há dezenas de anos ou séculos passados, não se encerra naqueles anos e séculos, cujo tempo se encarregaria de apagar da vida e das ações dos homens de hoje. A história contribui com seus exemplos, com seus erros e acertos, orientando os homens na condução do desenvolvimento das sociedade do presente e do futuro. Não é outra a visão de Marx, quando afirma em “O Dezoito de Brumário de Louis Bonaparte”:  “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstancias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. 

Neste artigo, não passou pela nossa cabeça fazer um retrospecto nem discutir as causas da queda da União Soviética. Mas o de lembrar/reforçar aspectos da Revolução Russa de 1917, que dizem respeito à luta que se trava ainda hoje, em todos os continentes por militantes que abraçam a bandeira da edificação de um mundo novo, uma sociedade sem exploradores nem explorados, uma sociedade comunista, onde se institua, no dizer de Gramsci, uma Democracia Operária. 

Pretendemos aqui tentar resgatar, dentro de nossas limitações, uma das impactantes frases de Marx & Engels constante do “Manifesto do Partido Comunista” de 1848, quando afirmam que “A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores”. 

Outra abordagem diz respeito  a uma outra afirmativa que também será alvo de nossas preocupações, que encerra a “Introdução” que Engels preparou para a obra de Marx “A Guerra Civil em França” de 1891, Diz ele: 

E eis que o filisteu alemão foi novamente tomado de um saudável terror com as palavras: ditadura do proletariado. Pois bem, senhores, quereis saber como é esta ditadura do proletariado? Olhai para a Comuna de Paris. Tal foi a ditadura do proletariado.

A primeira questão diz respeito ao papel fundamental desempenhado pelos Sovietes (Conselhos) no processo revolucionário, sem o qual a Revolução, com certeza, não aconteceria, se admitimos que uma Revolução não ocorre de acordo, exclusivamente, pela vontade de um líder ou de um Partido. Evidente que não descartamos a importância de um e de outro no processo revolucionário, mas não ao ponto de minimizarmos e até mesmo “esquecermos” que a construção de um mundo novo, está nas mãos dos trabalhadores. 

O próprio Lênin, ao analisar a fase imediatamente anterior ao outubro de 1917, o julho de 1917, período da “chamada dualidade de poderes” Sovietes/Contra-revolucionários,  tenha afirmado no artigo, aliás pouco lido, “A propósito das palavras de Ordem” (17.07.1917): “É precisamente o proletariado revolucionário, que depois da experiência de julho de 1917, tem de tomar ele próprio nas suas mãos o poder de Estado – sem isso é impossível a vitória da revolução” 

Mais adiante, no mesmo documento: . . .“seremos pela construção de todo o Estado segundo o tipo dos sovietes.”

Já em relação à segunda questão que caracterizaria a construção de um Estado de novo tipo, não parlamentar, um Estado operário (ditadura do proletariado), recorremos ainda ao próprio Lênin quando em “Teses de Abril” (04.04.1917), assim procura definir o novo Estado: “Não uma república parlamentar; retornar à uma república parlamentar a partir dos Sovietes, seria dar um passo atrás. E sim um república dos Sovietes de deputados operários, trabalhadores agrícolas e camponeses. Em todo o país, de alto a baixo.”

Resumindo, nesta altura de nossas pesquisas, estamos afirmando/confirmando que há diferença entre o Estado dos Conselhos e o Estado burguês; que a Revolução Russa de 1917 deve ser vista como resultado de um movimento dos trabalhadores;  ao contrário geralmente do que se pensa, é possível se construir um Estado operário qualitativamente diferente do Estado burgues, se instalando uma democracia exercida por todo o povo.

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