terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A atualidade na crítica de Mariátegui ao ‘socialismo humanitário’




Por Antonio Lima Júnior


Mariátegui, no artigo “O sentido heroico e criador do socialismo”, presente no livro “Em Defesa do Marxismo”, aponta sérias críticas ao que ele chamava de socialismo humanitário.

A obra, em sua totalidade, expõe as críticas às visões de figuras como Henri de Man, que costumavam criticar a ascensão do marxismo como ideologia no processo da revolução soviética.

“Em defesa do marxismo” é uma obra essencial para compreender a afirmação do marxismo como alternativa política para o proletariado, contra o pensamento neoliberal, o fascismo e resquícios do socialismo utópico que estavam em voga na época. A obra, elaborada entre 1928 e 1929, no breve período de vida política de Mariátegui, provoca e contrapõe o reformismo latente que surgia na Indo-América, a exemplo do tão criticado aprismo em Haya de la Torre. Voltando ao artigo em questão, Mariátegui afirma que o socialismo ético, baseado em princípios comuns à sociedade burguesa de humanitarismo, trabalha “inconsciente e paradoxalmente” contra a “força criadora e heroica” do proletariado. Para o peruano, tal visão equivale a “retroceder o socialismo à sua estação romântica e utópica”.

Contrapondo-se ao marxismo, tais reivindicações de altruísmo e de filantropismo ignoram o papel do proletariado, jogando-o numa massa amorfa e negando a necessidade de organizar a classe trabalhadora, caindo no reformismo da possibilidade de um Estado bonzinho, do capitalismo humanitário e do “bom-senso” da burguesia. Além disso, a crítica em Mariátegui reafirma a necessidade de apontar uma alternativa para a classe trabalhadora, a alternativa socialista, que não comporta somente as questões econômicas, mas também a construção de um mundo novo, de novas relações sociais e de uma nova humanidade, contrapondo as visões bucólicas do socialismo humanitário. “Uma nova civilização não pode surgir de um triste e humilhado mundo de escravos e miseráveis, sem mais qualificações e aptidões do que sua escravidão e miséria”, afirma.

Ainda hoje persistem visões que corroboram com aquilo que Mariátegui criticou na década de 1920, em organizações que reivindicam um socialismo novo, humano, negando a tradição marxista, como aquilo que Álvaro Cunhal classifica de “velho tipo”, associado ao reformismo e à social-democracia anterior à revolução russa, tão combatida por Lenin e muitos revolucionários do século XX. O velho se apresenta como novo, enquanto o marxismo segue persistindo, coerentemente, como o novo para o proletariado: uma nova sociedade em que não abrigará mais as relações de exploração e opressão que sustentaram a humanidade em todas as sociedades de classe.

Ressignificar a crítica de Mariátegui para os dias de hoje é importante para combater as posições vacilantes que surgem diante da crise do capitalismo, apostando numa estratégia que a história já mostrou diversas vezes que é impossível, no rumo da conciliação com nosso inimigo de classe. Mais que isso, a crítica é essencial para apontarmos a alternativa para os trabalhadores, reivindicando o marxismo como a doutrina que acentua a convicção heroica e criadora do proletariado.


*Jornalista e militante do PCB


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