sábado, 15 de dezembro de 2018

No que deu a colaboração de classes petista



Por Fausto Arruda
   

No início de século XXI a América Latina, principalmente a sua porção que vai da Venezuela ao Uruguai, vivia o desenvolvimento de uma situação revolucionária. A crise do sistema imperialista, a partir do interior da superpotência hegemônica única, o USA, com as bolhas especulativas nas bolsas de valores e logo com a grande crise do setor imobiliário, desatou crise financeira e econômica mundo afora.

A crise que estalou na Argentina e se estendeu ao Uruguai, Paraguai, Brasil, afetando inclusive o Chile e Equador, era parte da crise econômica internacional que produz permanentes problemas como as quedas das bolsas de Wall Street e da Europa, e a quebra de gigantescas empresas como a WorldCom, em meio a escândalos pela falsificação de balanços e outros. Tratava-se de uma crise do sistema capitalista em seu conjunto.

Em vários países como Venezuela, Argentina, Bolívia e Equador as massas se levantaram em protestos cada vez mais massivos e violentos capazes de derrubar presidentes. No Brasil, o descontentamento e indignação das massas prestes a explodir em manifestações violentas foram desviados do caminho da luta para as ilusões eleitoreiras apregoadas pelos acenos de esperanças do PT. A vitória na farsa eleitoral levou Luiz Inácio e o PT à condição de gerente do velho e apodrecido Estado brasileiro, adiando por mais de 12 anos o levante levado a efeito pelos demais povos da América do Sul.

Em seu Editorial do nº 10, de junho de 2003, intitulado Novo governo de traição nacional, o AND apontava a conciliação e colaboração de classe como a base da traição nacional petista.

“O sincretismo político-ideológico que formou a elite petista não é tão mecânico e imediato quanto aparenta. A elite petista não se converteu recentemente. Não foi há poucos dias que concluiu cursos nos institutos contrarrevolucionários dirigidos pelo imperialismo, como o Iadesil (Instituto Americano para o Sindicalismo Livre), mas ela tem raízes profundas na ideologia e na política feudais, no capitalismo decadente do fascismo clássico e do fascismo sofisticado de nossos dias.

A elite petista, uma escória saída da pequena burguesia tecnocrática, foi absorvida, isto sim, pelos especialistas em negócios do governo e admitida na administração auxiliar do imperialismo em nosso país, principalmente, firmando um continuísmo regido à maneira das prefeituras municipais que se submetem ao poder centralizador, dominante. Não por acaso, a direção petista, quando ainda ensaiava os trejeitos debutantes que adotaria na rampa do poder, marcou orgulhosa a sua primeira medida - a de reconhecer obediência ao capital monopolista internacional.”.

Dando prosseguimento aos gerenciamentos pós-regime militar fascista, o gerenciamento petista manteve todos os acordos lesivos à nação brasileira, como os acordos com o FMI e o Banco Mundial, adotando as políticas ditadas pelo sistema financeiro internacional, como a nomeação de Henrique Meirelles, agente do FMI, para o Banco Central. Aceitando todas as modificações realizadas na revisão na Constituição de 1988, da qual foram retirados vários avanços, como a caracterização de empresa nacional, e sem providenciar a regulamentação de direitos pendentes na mesma, como o direito de greve.

Sua covardia diante da extrema-direita levou-o a fazer acordos para preservação de toda estrutura repressiva do regime e, inclusive, do currículo dos cursos de formação de oficiais da Forças Armadas, baseado na famigerada Doutrina de Segurança Nacional elaborada e imposta pelos ianques, ao final dos quais eram homenageados os “Generais ditadores” como patronos de cada turma. Não pararam aí os seus serviços ao latifúndio, à grande burguesia burocrática e ao imperialismo: para segurar a inquietação das massas adotou um projeto que combinava a aplicação das “políticas compensatórias” receitadas pelo Banco Mundial com programas tipicamente fascistas de corporativização das massas miseráveis para arregimentar “curral eleitoral” e massas de manobra. Embrulhou tudo no que pomposamente enunciou como “desenvolvimentismo popular”.

Associando-se ao latifúndio, travestido de agronegócio, boicotou a tímida reforma agrária da época de Cardoso, a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Ressuscitou as surradas teorias desenvolvimentistas já comprovadas como tentativas fracassadas de salvar o capitalismo burocrático inerente às colônias e semicolônias. Enquanto levava à falência milhares de empresas nacionais, elegia meia dúzia de super-empreiteiras como as apadrinhadas pelo BNDES, concedendo-lhes isenções fiscais e juros subsidiados.

Prova da insuficiência de seu “desenvolvimentismo” é que o programa Bolsa Família não foi concebido como um programa emergencial enquanto não crescesse mais o mercado de trabalho. Ao contrário, essa “mão de obra” assistida passou sistematicamente a ter crescimento exponencial. Servindo-se dos vícios e privilégios da politicalha os petistas só fizeram reproduzir a velha ordem, inclusive aportando mais legislação para aumentar a repressão sobre as massas.

As manifestações de 2013 como explosão das massas foram o toque de finados do oportunismo petista.

Sua política de conciliação e colaboração de classes obscureceu o verdadeiro caráter de classe do apodrecido Estado brasileiro, como ficou claro nas últimas eleições em que muitos que antes foram iludidos com Lula e o PT, desta vez se iludiram com um fascista. Bolsonaro é o retrato mais fiel da falência desse podre sistema político e sistema econômico de exploração e opressão do povo e subjugação da Nação. Seu governo será o conluio das frações das classes dominantes para aumentar a exploração dos trabalhadores e a rapina imperialista das riquezas da Nação. Porém, será também, em maior escala, de aguda pugna entre essas facções, pela decisão de que sistema político escolherão para tentar salvar o capitalismo burocrático afundado em crise: um regime corporativo e fascista ou o regime demoliberal já tão desmoralizado, maquiando sua fachada, para o que os ianques lançaram a Operação “Lava Jato” e impuseram seu “herói” Moro num superministério.

Só através da dura e persistente luta de resistência popular, guiada pela linha de classe, em defesa dos direitos pisoteados e contra o saqueio de nossas riquezas pelo imperialismo, principalmente ianque, pelo caminho da revolução democrática é que nosso povo irá, parte por parte, separar o joio do trigo nas disputas políticas no país, e dar solução aos graves problemas de que padece, com uma nova democracia e verdadeira independência nacional.


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