segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Liga dos Comunistas

Por Aluizio Moreira


A Liga dos Comunistas é considerada por vários historiadores do socialismo, como resultado da “evolução natural” da Liga dos Justos. Isto porque internamente, a Liga dos Justos em Londres, entre 1843 e 1846, foi palco de várias discussões das quais participaram Schapper, Heinrich Bauer, Karl Pfänder e Albert Schmann, que terminaram por determinar a aceitação de novos princípios orientadores para a Liga.
  
Esses novos princípios distanciaram a Liga dos Justos em Londres, na França e na Suíça, na medida em que rejeitaram os planos utópicos de Cabet, as idéias golpistas e conspirativas: a revolução passou a ser vista como resultado de todo um processo; defendeu-se uma maior intensificação das atividades de organização e propaganda; condenou-se  a tendência de se criar um modelo ideal de sociedade comunista; considerou-se a necessidade de se buscar um embasamento científico às teorias e práticas revolucionárias. 

Paralelamente a isso, em Bruxelas, Marx e Engels começavam a participar mais intensamente do movimento político. Em 1846, fundaram naquela cidade, o Comitê de Correspondência Comunista, que entre outras coisas: a) opunha os interesses do proletariado aos da burguesia; b) defendia a abolição da propriedade privada e a instituição da comunidade dos bens; c) destacava a necessidade de estudos científicos da sociedade burguesa, como fundamenta para a ação revolucionária. 

Na verdade, entre vários ativistas e intelectuais que militavam no movimento socialista na França, Alemanha, Inglaterra, Suíça e Bélgica naqueles anos (1843/1846), e que mantinham troca de idéias e informações através de cartas, circulares e periódicos, começou a se sentir a necessidade, não só de ampliar o movimento para além dos limites nacionais, como de buscar fundamentações científicas  e novas orientações para o movimento revolucionário da época.

Marx e Engels em reunião da Liga
Foi nesta conjuntura que a Liga dos Justos em Londres enviou representantes para manter contato com ativistas, organizações e intelectuais de outros países e ao mesmo tempo convoca-los, por uma Circular de novembro de 1846, para participar de um Congresso que se realizaria naquela capital, entre 2 e 9 de junho de 1847. 

Foi nesse Primeiro Congresso, que a Liga dos Justos se converteria em Liga dos Comunistas. Também nesse Congresso foram elaborados o “Projeto de Estatutos” e  o “Projeto Comunista”, encaminhados para as várias secções (chamadas de “comunas”) da Liga em vários países para serem discutidos e aprovados num futuro II Congresso.

De 29 de novembro a 8 de dezembro daquele mesmo ano de 1847, em Londres,  realizou-se o II Congresso da Liga dos Comunistas,  no qual foram apresentadas as propostas pelas várias “comunas” da Liga.  Aprovados os Estatutos, Marx e Engels  foram  encarregados da redação do Programa cujo resultado foi o “Manifesto do Partido Comunista”. 

Nos primeiros meses de 1848, explode a Revolução de Paris, seguida por uma onda revolucionária que atingiu quase todo continente europeu... Por isso mesmo, o Comitê Central da Liga em Londres transfere seus poderes para o círculo dirigente da Liga em Bruxelas, que se encontrava em estado de sítio, o que motivou a Liga delegar a Marx e tarefa de constituir um novo Comitê Central em Paris. 

Os acontecimentos políticos de 1848 diminuíram as atividades da Liga dos Comunistas: muitos dos seus membros, inclusive Marx e Engels retornaram aos seus países para participarem do movimento revolucionário de 1848/1849.

Manifesto do Partido Comunista
Passada a “onda revolucionária”, inicia-se nos primeiros meses de 1850 os trabalhos de reorganização da Liga. No entanto, as reavaliações do movimento de 1848 e a análise da nova situação econômica e política em 1850, provocaram divergências entre a liderança da Liga dos Comunistas, que culminam com a polarização de dois grupos: o de Willich/Schapper e o de Marx.

Em reunião da direção da Liga realizada em 15 de setembro de 1850 em Londres, Marx consegue aprovar as propostas; a) que dissolvia o Comitê existente e a transferência de suas funções para o Comitê Distrital de Colônia ("Köln", cidade da Alemanha); b) que abolia os Estatutos em vigor e os substituiria por outros que se adequassem ao novo momento histórico; c) que formava duas organizações distintas da Liga em Londres, ambas ligadas ao Comitê em Colônia.

As “comunas” de Londres resolveram não acatar as decisões tomadas pela maioria do Comitê Central, e numa reunião da qual participaram Willich e Schapper, aprovaram a expulsão de todo o grupo de Marx (Engels, Schramm, Wolff, Seiler, Liebknecht, Pieper, Pfander, Bauer, Eccarius e o próprio Marx). 

Assim a Liga dos Comunistas se divide em dois grupos bem definidos: o de Londres, sob a liderança de Willich e Schapper, e o de Colônia sob orientação de Marx e Engels.

Em maio de 1851, em Leipzig, a prisão de Peter Nothjung, emissário do Comitê Central em Colônia, desencadeia uma sucessão de prisões dos demais dirigentes da Liga. Inicia-se o chamado “Processo dos Comunistas de Colônia”, cujo veredicto exarado em outubro de 1852 condenou a maioria dos membros do Comitê Central da Liga a vários anos de prisão. Naquele mesmo ano a Liga dos Comunistas era dissolvida por seus membros remanescentes atendendo  à proposta de Marx.
   
A Liga dos Comunistas em Londres sob a liderança de Schapper  desaparecerá poucos meses depois. 

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